António José Seguro vs António Costa

As eleições primárias para o cargo de Secretário Geral do Partido Socialista, consequência do desafio lançado por António Costa a António José Seguro, após os magros resultados do partido nas últimas eleições europeias, têm sido alvo da atenção geral da população portuguesa, por bons e por maus motivos.

Os bons são o facto de terem relançado o debate político na sociedade, tão enfastiada pelas análises económicas que resumem as pessoas a um mero dado estatístico da despesa nacional.

Os maus estão na origem das enormes expectativas do povo português em encontrar um “salvador” imediato para a difícil situação em que se encontra o Portugal.

Após alguns debates e comentários soltos dos dois candidatos, a sociedade portuguesa começa a sentir que são “mornas” as conclusões políticas do confronto entre os dois e que a esperança de encontrar num deles a “poção mágica”, que resolvesse os nossos problemas, não é tão evidente.

A culpa é deles? Alguma!

A culpa é dos portugueses? Também!

De facto, estas eleições primárias no PS (constituindo uma novidade nacional, habituados que estávamos a ver os partidos políticos portugueses a resolver os seus problemas de liderança em congressos), a acontecerem neste momento particular da nossa sociedade, são sentidas por muitos como se estivéssemos perante uma autêntica eleição para o cargo de Primeiro-Ministro. E tal não é verdade! Não só porque o futuro candidato a Chefe do Governo, face ao espectro partidário existente, não se esgota num dos dois candidatos, como também estamos a um ano de eleições legislativas e se não houver “antecipações” ainda há muito “terreno para lavrar”.

Apresentar actualmente, por parte de qualquer um dos dois Antónios, um programa de Governo detalhado e convincente (por muito que seja o desejo de parte da população, influenciada pelos comentaristas das elites políticas adversas ao PS) não convenceria ninguém. A esta distância das próximas eleições, com a velocidade a que decorrem os acontecimentos nacionais e europeus, com efeitos inevitáveis na nossa sociedade, seria um mero exercício de estilo dos candidatos, com consequências negativas para as suas futuras propostas de governação. Razão que os tem conduzido a uma certa prudência nas afirmações, independentemente de António Seguro ter apresentado um simples decalque geral das linhas estratégicas do PS (que fazem parte do património do partido e não do candidato) e de uma nova configuração do número de deputados na Assembleia da República, que mais parece prolongar o “sistema” que diz combater, diminuindo a representatividade dos partidos mais pequenos, tantas vezes essenciais para a “fiscalização” do regime.

Considerando que ambos (e em primeiro lugar) são candidatos a liderar o PS e as suas mensagens se dirigem aos seus militantes e simpatizantes, seria mais interessante realizarem os debates em torno das questões relevantes da teoria e prática do seu partido, criticando os aspectos negativos da sua história política, realçando o que consideram de inestimável valor, reforçando os seus propósitos ideológicos e apresentando as suas próprias ideias e convicções sobre a forma de fazer e de estar na política. Num país que acusa cada vez mais a partidocracia nacional pelos males que o afligem, a “limpeza” das más práticas partidárias seria a melhor contribuição que estes candidatos poderiam dar, agora, ao povo português.

Não tendo sido assim, o que é que distingue António José Seguro de António Costa? Uma avaliação naturalmente subjectiva do carácter de ambos, associada à sua prática política anterior e aos “abusos de vulgaridade” cometidos nesta campanha. E, pesando esses argumentos, parece-me que António Costa se perfila como o vencedor desta disputa.

Se tal vier a acontecer é preciso que António Costa, então candidato a Primeiro-Ministro, expresse, sem tibiezas, as suas ideias para o País e a forma de as concretizar, devolvendo aos portugueses a esperança na realidade de um futuro melhor.

Mas será que tal é suficiente para, em 2015, ganhar as eleições legislativas, com uma margem suficientemente superior àquela que foi obtida por António José Seguro nas eleições europeias? Se tal não acontecer voltar-se-á o feitiço contra o feiticeiro e o PS implode nas suas contradições.

Luis Barreira

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