Amigos a bordo

Como antecipei na última crónica, esta semana foi bastante tensa. No dia anterior à chegada dos nossos amigos de Portugal, quando testámos o motor à noite voltámos a ter problemas de aquecimento, com falta de água no sistema de refrigeração. Isto deu-se na sexta-feira, sendo que ao sábado, normalmente, ninguém trabalha em Martinica. Por sorte, o mecânico que nos tem assistido foi a excepção à regra. E no sábado de manhã, bem cedo, estava no barco para ver o que se passava. Duas horas depois estava o mal diagnosticado e a solução encontrada, tendo ele vindo já precavido com algum material para resolver o problema. Esperamos que agora se aguente e nada mais haja a remendar no que diz respeito à refrigeração do velhinho motor, porque não há qualquer problema em termos de mecânica.

Desta vez voltei a insistir com o mecânico com a intenção de fazermos uma revisão completa ao motor antes de rumarmos ao Panamá, mas voltou a defender que não seria necessário estar a gastar dinheiro porque, na sua opinião – durante trinta anos de experiência viu vários motores deste modelo – o mesmo está em boas condições, apesar dos anos que já tem em cima.

Além dos cuidados normais de manutenção e da mudança das peças que se vão degradando, nada mais haveria a fazer, defendeu, tendo aconselhado apenas a mudar o tipo de óleo. Temos usado 15w40 de gasóleo; aconselhou a usarmos apenas óleo tipo 40.

Se tudo se mantiver esta semana conforme o planeado, iremos sair de Fort-de-France rumo ao Sul, parando em Grand Anse. Depois de uma ou duas noites iremos para St. Lucia, onde passámos seis meses, para que os nossos amigos possam ficar a conhecer outra ilha nesta sua primeira visita. Esperamos não ser atraiçoados pelo motor e que tudo se possa fazer sem grandes contratempos, até porque os nossos amigos apenas podem ficar dez dias. Quanto às condições meteorológicas, não são as melhores mas os ventos parecem ser favoráveis.

Entretanto, ainda relativamente ao problema da bomba de água salgada, ficámos a saber que não há necessidade de comprar uma nova porque o problema não é da bomba em si, mas do disco adaptador do corpo do motor. De acordo com o mecânico, numa intervenção anterior foi feita a substituição do adaptador e instalado um sensivelmente menos espesso – daí o problema da bomba. O veio da mesma fica um milímetro mais curto do que o ideal para encaixar bem no veio da bomba de injecção. O mecânico viu-se obrigado a inserir duas anilhas de cobre na bomba para colmatar a diferença e alertou para a importância de, mesmo comprando uma bomba nova, colocar as anilhas para que a bomba encaixe perfeitamente. A outra solução permanente seria substituir o disco adaptador, mas como o motor já não se fabrica seria preciso encontrar uma em segunda mão que fosse original. Algo semelhante a encontrar uma agulha num palheiro.

Quanto ao plano de seguirmos para o Panamá, e como também referi na semana passada, iremos mesmo ficar pelo Sul das Caraíbas até Novembro e depois iremos subir até Porto Rico, dali atravessando directamente para o canal do Panamá. Já recebemos informação dos nossos amigos do veleiro brasileiro Gentileza. Ficou combinado um encontro em Grenada para zarparmos juntos em direcção ao Pacífico.

Quanto ao catamaran português El Caracol, seguiram para Sul e irão decidir, em breve, se vão para as ilhas holandesas ou se esperam a Sul para cumprir a nossa rota em Novembro. Em todo o caso, irão estar no Panamá para atravessar o Pacífico juntamente com o nosso veleiro.

Quanto aos nossos visitantes, chegaram de Paris, vindos da cidade do Porto, e estão a gostar da experiência. Apesar de ter havido algum enjoo no primeiro dia de ancoradouro, tudo se resolveu com alguns comprimidos, cervejas e banhos de mar a toda a hora.

Além do prazer de receber amigos e falar de memórias antigas, é um deleite ver as nossas filhas brincarem ao redor do barco e na água.

João Santos Gomes

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