«E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós» (João, 1:14)
Este Domingo, 29 de Novembro, a Igreja inicia o período que aguarda a vinda do Senhor, chamado de Advento. É um tempo litúrgico composto pelas quatro semanas que precedem o Natal. É também um tempo de Maria Santíssima, primeira morada, Templo do Verbo encarnado. Um tempo de reflexão para cada família, pois Deus se fez homem e colocou-se ao cuidado de Maria Santíssima e São José (Sagrada Família) – modelos de virtude e santidade. Celebra-se a primeira vinda do Salvador, e aguarda-se pela Sua segunda e definitiva, onde irá implementar o Seu Reino, como São Paulo nos lembra: «Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça» (II Pedro, 3:13).
Da palavra “vinda”, em Latim, adventus, deriva o termo “Advento”.
O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Este foi o maior acontecimento da História: Deus dignou-se a assumir a nossa humanidade, sem deixar a Sua natureza Divina. Santo Irineu (130-202) foi discípulo de São Policarpo, que conviveu directamente com o apóstolo São João, o Evangelista. Certa vez disse: «Com a vinda de Cristo, Deus torna-se visível aos homens».
Neste período, somos convidados todos os anos a ir ao encontro do Menino Jesus, revivendo a Sua Natividade, aguardando pela Sua promessa, o Seu “Segundo Advento”.
Celebrando-se cada ano este mistério, a Igreja exorta-nos a renovar continuamente a lembrança da grandeza do amor de Deus para connosco. A vinda de Cristo não foi proveitosa apenas para os seus contemporâneos, mas a sua eficácia é comunicada a todos nós – mediante a Fé e os Sacramentos, e um caminhar de acordo com os Seus ensinamentos.
São Máximo (Século V), bispo de Turim, afirmara: «Enquanto estamos para acolher o Natal do Senhor, revistamo-nos com vestes nítidas, sem mancha. Falo da veste da alma, não da do corpo. Vistamo-nos não com vestes de seda, mas com obras santas! As vestes vistosas podem cobrir os membros, mas não embelezam a consciência».
No Antigo Testamento, os Profetas anunciaram a vinda de Jesus com riqueza de detalhes: Nascerá da tribo de Judá, em Belém, a cidade de David. Seu Reino não terá fim… «Mas tu, (Belém), Éfrata, embora o menor dos clãs de Judá, de ti sairá para mim Aquele que será dominador em Israel» (Mq., 5:1).
Maria Santíssima aceitou o mistério; esperou com zelo materno o Filho Deus, acompanhando-o na Sua missão terrena. Isaías tinha profetizado o sinal: «Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma Virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Connosco» (Is., 7:14). Na continuidade do Livro de Isaías lemos: «Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz» (Is., 9:5).
Nas celebrações das vésperas do primeiro Domingo de Advento, a 28 de Novembro de 2009, na Basílica Vaticana, o Papa Bento XVI na sua homilia deixou-nos palavras merecedoras de serem revisitadas: «Os cristãos adoptaram a palavra “advento” para expressar a sua relação com Jesus Cristo: Jesus é o Rei, que entrou nesta pobre “província” denominada terra para visitar todos; na festa do seu advento faz participar quantos nele crêem, aqueles que acreditam na sua presença na assembleia litúrgica. Substancialmente, com a palavra adventus desejava-se dizer: Deus está aqui, não se retirou do mundo, não nos deixou sozinhos. Embora não O possamos ver nem tocar, como acontece com as realidades sensíveis, Ele está aqui e vem visitar-nos de múltiplos modos.
A esperança marca o caminho da humanidade, mas para os cristãos ela é animada por uma certeza: o Senhor está presente no fluxo da nossa vida, acompanha-nos, e um dia enxugará também as nossas lágrimas. Um dia, não distante, tudo encontrará o seu cumprimento no Reino de Deus, Reino de justiça e de paz.
O Advento cristão torna-se ocasião para despertar em nós o autêntico sentido da espera, voltando ao coração da nossa fé que é o mistério de Cristo, o Messias esperado durante longos séculos e nascido na pobreza de Belém… Presente entre nós, fala-nos de muitas maneiras: na Sagrada Escritura, no ano litúrgico, nos santos, nos acontecimentos da vida quotidiana e em toda a criação… Estamos persuadidos de que nos ouve sempre! E se Jesus está presente, já não existe tempo algum sem sentido e vazio…
A alegria pelo facto de que Deus se fez Menino. Esta alegria, invisivelmente presente em nós, encoraja-nos a caminhar com confiança. Modelo e ajuda deste íntimo júbilo é a Virgem Maria, por meio da qual nos foi oferecido o Menino Jesus. Que Ela, discípula fiel do seu Filho, nos conceda a graça de viver este tempo litúrgico vigilantes e diligentes na esperança.
Amém!» (fim de citação).
Frei Raniero Cantalamessa (pregador da Casa Pontifícia) refere numa das suas imensas reflexões: “Os homens do nosso tempo buscam, sem cessar, sinais da existência de seres vivos e inteligentes em outros planetas. É uma busca legítima e compreensível. Entretanto, poucos buscam os sinais daquele Ser que criou o Universo, que entrou na história e vive nela. Quantas vezes somos obrigados a dizer a Deus, como Santo Agostinho: ‘Estavas comigo, mas eu não estava contigo’”. Frei Cantalamessa interroga: “Como podemos nós, hoje, conceber, concretamente, Jesus em nossas vidas, como o fez a sua Mãe?”. E dá-nos a resposta mediante duas atitudes – “escutando a Palavra e pondo-a em prática”.
Durante o Advento, a cada Domingo acende-se uma das velas da chamada “Coroa do Advento”, que simbolizam as grandes etapas da salvação em Cristo. Elas são acesas em honra de Jesus que vem a nós, Ele a Luz vivificante, «a luz verdadeira, que ilumina todo o homem que vem ao mundo» (Jo., 1:9).
O Catecismo da Igreja Católica lembra-nos que, em Hebraico, Jesus quer dizer “Deus salva”. Na continuidade do nome do Senhor e da Sua missão, o Catecismo ensina: “Quando da Anunciação, o anjo Gabriel dá-Lhe como nome próprio o nome de Jesus, o qual exprime, ao mesmo tempo, a sua identidade e a sua missão. Uma vez que «só Deus pode perdoar os pecados» (Mc., 2:7), será Ele quem, em Jesus, seu Filho eterno feito homem, «salvará o seu povo dos seus pecados» (Mt., 1: 21). Em Jesus, Deus recapitula, assim, toda a sua história de salvação em favor dos homens” (CIC nº 430).
Peregrina nesta terra, a Igreja aguarda pelo “Grande Advento”, a vinda triunfal, o “Dia do Senhor!”. Caminhemos neste Advento, confortados com estas palavras que Jesus continua a dizer-nos: «Na casa do meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, ter-vos-ia dito que vos vou preparar um lugar? E, quando Eu tiver partido e vos tiver preparado um lugar, virei de novo e levar-vos-ei comigo, para que onde Eu estou, estejais vós também», (Jo., 14:2-3).
Miguel Augusto
com Felipe Aquino, Vatican News e Libreria Editrice