A Fé em números – 2

Evolução da Igreja no séc. XXI

Na semana passada começámos a analisar a situação da Igreja Católica no mundo, com base nas estatísticas, nos números portanto. Globalmente, o cenário é muito positivo, com a Igreja Católica a demonstrar enorme vitalidade, crescimento e expansão no mundo. Mas, o que é que estes dados nos permitem pensar em relação ao futuro? Hoje, mais do que estatísticas, analisemos com base em comparações entre 1980 e a actualidade.

A percentagem de católicos na população mundial tem-se mantido, de forma notória, estável na percentagem de 17,5/18% nos últimos 50 anos. Apesar da propalada descida na taxa de fertilidade, que os demógrafos continuam a projectar para o futuro, a esperança média de vida continua a aumentar. Mais pessoas portanto, o que torna previsível que os seres humanos atinjam a cifra de 10 biliões no fim do século XXI, em 2100. Hoje estimam-se em 7,4 biliões.

Especialistas católicos em demografia e estatística apontam assim que, nesta tendência de crescimento populacional, o número de católicos aumentará em 372 milhões de fiéis entre 2015 e 2050, um crescimento de 29% neste período, o que resultará que a população católica na Terra chegará aos 1,64 biliões.

 

Assimetrias

Desde 1980 que o número de paróquias tem aumentado, em 7%. Todavia, este aumento não tem acompanhado em escala o crescimento da população católica (que aumentou, desde essa data, 57%). Mesmo que o número de paróquias em África e na Ásia tenha duplicado desde então. A distribuição de paróquias continua, actualmente, desigual, pois a Europa, por exemplo, com 23% da população católica mundial, continua a ter mais paróquias do que o resto dos continentes todos somados, mesmo que o número daquelas tenha declinado 12% no Velho Mundo.

Senão vejamos, noutro prisma. Em 1980 tínhamos uma média de 3.759 fiéis católicos por paróquia, em todo o mundo. Na actualidade, esse número cresceu para 5.491. Deste modo, a Igreja, até 2050, para acompanhar o crescimento da população mundial e atender às necessidades e exigências pastorais respectivas, terá de aumentar o número total de paróquias entre 75.000 e 300.000, em nome do melhor acompanhamento e direcção espiritual a par do crescimento do número de crentes. Boas notícias no crescimento de fiéis implicam pois maior atenção e zelo apostólico por parte da Igreja, maior proximidade, logo mais paróquias. Quantidade com mais qualidade.

Os números podem ser maçadores, mas revelam-nos cenários, ajudam no diagnóstico, são indicadores fiáveis de evolução. E são avisos, também.

 

Presbíteros

Como já se falou na semana passada, a Igreja globalmente cresce em número de fiéis, de baptizados, mas decresce em muitas regiões no número de presbíteros, desde 1980, até à actualidade. Nestes últimos 35 anos (1980-2015) o número de sacerdotes baixou 17%. Com destaque para a Europa, onde o declínio atinge os 32%, ou seja, menos 78.090 presbíteros. Todavia, afortunadamente, o número de católicos aumenta, como já vimos, em continentes como a Ásia e a África. E é nesses dois continentes que o número de sacerdotes aumenta também, fazendo com que nos últimos anos, principalmente no século XXI, se registe um aumento do número de presbíteros a título global. Ainda que sejam menos que há 35 anos. Em África o número de sacerdotes, desde 1980, quase que duplicou (mais de 22.787, num aumento de 131%) e na Ásia, em igual período, cresceu em quase 40 mil, numa cifra de 121%. A Europa, curiosamente, possui 42% do total de sacerdotes, apesar de ter apenas 23% dos católicos.

Números uma vez mais a revelar desequilíbrios, sem dúvida, assimetrias regionais, desigualdade na distribuição de católicos por sacerdote: 2.597 por sacerdote na Europa; 7.227 nas Américas; 7.223 em África; 3.877 na Ásia e 3.554 na Oceânia. Esta distribuição desigual de sacerdotes é agravada pelo facto de que a procura dos sacramentos é maior na África do que na Europa, por exemplo, exigindo-se assim ainda mais sacerdotes. Além disto, as taxas de participação na missa semanal na Europa são de 20%, enquanto que em África atingem os 70%.

O que revelam estes números: muito trabalho a fazer; um lento definhar da população católica nos continentes tradicionais (Europa e América do Norte) e a vez do Sul, do Novo Mundo, uma inversão do processo histórico de evangelização e encontro de culturas iniciados há 600 anos. Mas é preciso dar sentido a estes números, consistência a este crescimento, regar a planta da Igreja, trabalhar a vinha e chamar trabalhadores para a mesma. Leia-se, presbíteros.

 

Ásia

A Igreja Católica na Ásia, de 1980 a 2012, cresceu uns notáveis 115%, continuando o mesmo vigor nos nossos dias. Todavia, os católicos no maior e mais populoso continente da Terra ainda não são mais do que 3,5% da população asiática. Mesmo assim, temos indicadores de segurança no crescimento, ou de consolidação sustentada. Por exemplo, a taxa de participação dos fiéis nas missas semanais na Ásia mantém-se elevada mas acima de tudo com valores estáveis: 55% nos anos 90 do século XX, 52% na primeira década do século XXI e, desde 2010, a média anda nos 53%, com ligeira recuperação, como se pode afiançar.

Noutra perspectiva, a dos sacerdotes, saliente-se que o número de novos sacerdotes (1.156 ordenações em 2012, por exemplo, número em crescimento aliás desde então) continua a superar o número de presbíteros falecidos (301 nesse ano) e de abandonos do ministério (91, em 2012). Neste sentido, o número de baptismos continua a crescer desde 1980: 1,8 milhões nesse ano, 2,1 em 2012. E continua a crescer. Como os casamentos: 381.697 em 1980, 626.380 em 2012. Em aumento.

Na Ásia têm aumentado igualmente os institutos seculares femininos, os missionários leigos e catequistas, os seminaristas maiores diocesanos, bem como os seminaristas menores. Institutos de educação, de saúde, de beneficência e assistência têm igualmente aumentado na Ásia. Afinal, a Igreja Católica nasceu neste continente, a sudoeste. E é na Ásia onde afinal continua a crescer.

Vítor Teixeira 

Universidade Católica Portuguesa

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