A “calma” pascal

Após um fim-de-semana pascal, aproveitado pela maioria dos portugueses para umas curtas férias ou para um relaxante e sentimental encontro com a família mais longínqua, nada de novo e importante se passou neste nosso pequeno Portugal, exceptuando uns “reparos” que farei a seguir, umas já habituais greves para este período do ano (transportes, aviões, etc.) e o relembrar jornalístico de alguns milhares de milhões de euros que o Estado já injectou na banca portuguesa (BPP, Banif, BES/Novo Banco, CGD e…), tentando acalmar um sistema financeiro que mais parece um poço sem fundo.

Já sem fundo à vista estão as nossas albufeiras e rios, depois das enormes chuvadas que têm caído. Só esperamos que a anterior falta de água não dê em fartura, causando mais problemas com as inundações do que aqueles que tivemos com a seca.

Uma “seca” é ouvir os argumentos e ameaças de greve dos juízes portugueses, ou as alegações dos deputados que não querem ser vigiados policialmente sobre as suas declarações de rendimentos, patrimónios ou outras.

Os primeiros, os juízes, exigem maiores salários em nome da dignidade da sua profissão, o que em muitos casos ultrapassa – em muito – os salários do Primeiro-Ministro e do Presidente da República. Uma “dignidade” pouco conforme com alguns casos recentes de alguns destes pouco sérios agentes da justiça… No entanto, excluindo o mau comportamento destas excepções, é conveniente lembrar que em Portugal, segundo um estudo realizado pela Comissão Europeia há poucos anos, tínhamos um número elevado de juízes em final de carreira (mais de mil e 900), ganhando 4,2 vezes mais do que o salário médio bruto nacional (cerca de seis mil 950 euros brutos mensais), comparativamente mais do que o praticado em países como a Finlândia, Bélgica, Noruega, França, Suécia, Áustria, Holanda, Dinamarca ou a Alemanha.

Segundo ponto, os deputados. Muitos não concordam que se crie uma entidade especial que controle a veracidade das suas declarações ao Parlamento. Pior do que “contornar” a tão apregoada transparência de que todos são exímios defensores parlamentares, esta atitude revela que os nossos eleitos se sentem acima da vigilância dos seus eleitores, o que é democraticamente grave. Se o Tribunal Constitucional português não tem tido um comportamento adequado, no que diz respeito à fiscalização das declarações dos deputados, que se crie um outro instrumento capaz de o fazer, policial ou não. Quem não deve não teme!

A temer pelas consequências negativas para Portugal, de uma tomada de posição mais gravosa, está a atitude do Governo português em não alinhar com os seus parceiros ocidentais na expulsão de diplomatas russos, limitando-se a chamar o seu embaixador na Rússia para consultas. Com esta posição o Governo mostrou que mantém a proximidade com os seus aliados e que ainda “não embarcou” com a explicação não provada da primeira-ministra britânica, acerca da responsabilidade do Governo russo no assassinato do duplo-espião em Londres.

Não temos nenhuma confiança no “czar” Putin, por isso não andamos a ser enganados por ele, mas noutra recente ocasião já fomos enganados por um primeiro-ministro britânico amigo e a guerra que se realizou no Iraque ainda existe para o confirmar. Além disso, todos sabem que quando os políticos estão com dificuldades internas para se manterem no poder a melhor forma de unir consigo as populações é criar um conflito externo contra um suposto inimigo. Não sei se será o caso que levou Teresa May a este conflito diplomático, arrastando consigo os seus aliados, mas sei que, no papel de vítima, poderá obter maiores dividendos dos seus amigos (União Europeia e Estados Unidos), face à conclusão do difícil processo de saída da União Europeia e aos prejuízos que isso poderá causar à sua economia.

A propósito de economia, ninguém sabe como vai acabar o proteccionismo do promotor do “America First”, Donald Trump. Construindo novas barreiras alfandegárias, com taxas suplementares sobre os produtos importados pelos Estados Unidos, Trump arrisca-se a dar “um tiro no pé”, nomeadamente com os chineses. Estes, ilustres dignitários de Confúcio, decidiram replicar aumentando substancialmente os impostos sobre produtos que importam grandemente dos Estados Unidos, nomeadamente carne de porco e frutas. Carne de porco e frutas?, perguntará o leitor. Pois, a razão está no facto de esses produtos serem produzidos nos meios rurais americanos, os principais apoiantes de Trump. Percebem agora o “estilo” chinês?

LUIS BARREIRA

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