Os ensinamentos do administrador prudente
Neste Domingo, o Evangelho apresenta-nos a parábola do administrador infiel, um relato que nos convida a reflectir sobre a gestão dos bens que Deus nos confiou. Podemos imaginar a cena como a de um empresário que descobre que o seu administrador, desonesto, estava a ser trapaceiro. Perante uma iminente demissão e a falta de preparação para enfrentar os desafios do trabalho árduo, o administrador procura os credores do seu patrão e cobra as dívidas por valores inferiores, e assim garante amigos para o futuro. Jesus, na sua sabedoria, elogia a prudência do administrador, afirmando que os filhos deste mundo são mais astutos do que os filhos da luz.
Na segunda parte do Evangelho, encontramos várias reflexões sobre os bens materiais. Vamos focar, no entanto, na primeira parte, que é um dos textos mais desafiadores do Novo Testamento. Este Evangelho suscita diversas interpretações, e, diante da complexidade do texto, gostaria de iniciar nossa reflexão a partir de um ensinamento de João Crisóstomo. O Santo alerta para uma ideia errada que pode desvirtuar as nossas boas obras: a crença de que possuímos os bens materiais como se fôssemos senhores deles, levando-nos a considerá-los como o bem supremo. O Doutor da Igreja lembra-nos que não fomos colocados nesta vida como senhores da casa, mas como hóspedes e forasteiros. Diz: “Quem é rico, dentro de pouco será mendigo”. Tal revela-nos uma verdade fundamental: independentemente da nossa posição social e dos títulos ou riquezas que possuamos, somos apenas administradores dos bens deste mundo, que são transitórios e um dia nos serão tirados. Esta compreensão deve-nos afastar do orgulho e chamar-nos à humildade, preparando-nos para os momentos difíceis que inevitavelmente surgirão nas nossas vidas.
Antes de focar a parte mais polémica do texto, que se encontra no versículo 8, onde Jesus elogia o administrador infiel, gostaria de destacar três semelhanças entre esta parábola e a do filho pródigo, narrada alguns versículos antes no capítulo 15. O texto diz-nos que Jesus falava aos seus discípulos, que um dia governariam a Igreja, mas os fariseus também estavam a ouvir. Primeiro, assim como o filho pródigo, o administrador estava a dissipar os bens do patrão. O verbo “dissipar” é o mesmo utilizado na parábola do filho pródigo. Ambos, nas suas acções, desperdiçam os bens que pertencem a alguém superior – um ao pai e o outro ao patrão. Esta constitui uma advertência sobre o uso irresponsável do que nos é confiado.
Em segundo lugar, no versículo 2, o patrão convoca o administrador para prestar contas sobre a sua gestão. Então o chefe coloca-o “contra a parede”. No original Grego, diz-se que o administrador “caiu em si”. Este momento leva-nos além de uma simples reflexão; é uma tomada de consciência profunda. Da mesma forma, o filho pródigo, após dissipar os bens do seu pai, também “cai em si” e decide voltar para casa. Deus aprecia esta capacidade de reflexão e o momento de “cair em si”, pois é nesses instantes de silêncio que nos encontramos verdadeiramente, tanto connosco quanto com Ele.
Por fim, em ambos os casos, eles ponderam sobre o futuro. Na parábola do filho pródigo, a decisão é retornar a casa; na parábola do administrador, a escolha é estabelecer boas amizades que possam ajudá-lo. O gerente, astuto, faz acordos e recupera parte dos bens que o patrão havia confiado a outras pessoas. Após ter resgatado uma quantia significativa, é elogiado pela sua prudência. Aqui vemos um homem que diante de uma encruzilhada foi sábio e reflectiu sobre como garantir o seu futuro. Embora o meio utilizado seja questionável, a prudência é uma virtude que devemos aprender. Deus alegra-se quando reflectimos e pensamos sobre as nossas vidas. Ele não quer apenas que pensemos, mas que ajamos de forma estratégica para mudar as nossas vidas, pois somente através da acção podemos efectivamente transformar o nosso destino.
Na sequência do texto, Jesus ensina os seus discípulos como devem lidar com o dinheiro, que era frequentemente utilizado pelos fariseus com apego, sendo colocado acima da vida humana. Esta é uma lição crucial: o dinheiro não pode ter prioridade sobre a vida humana, deve pois ser utilizado para o bem. Quanto a nós, devemos usar os nossos bens para cuidar das nossas famílias e também para a evangelização.
Peçamos a graça de sermos prudentes e administradores honestos, verdadeiros filhos da luz que aprendem com a sabedoria daqueles que ainda são deste mundo. Que possamos, à luz deste Evangelho, reflectir sobre a forma como gerimos o que nos foi confiado e buscar sempre o bem comum, lembrando que, em última análise, somos apenas administradores dos bens que Deus nos deu. Que a nossa vida seja um testemunho de fidelidade e generosidade, sempre em busca fazer o bem ao próximo.
Pe. Daniel Ribeiro, SCJ