Não sendo bruxo, eu diria como “La Palice”: se a Terra continuar a girar em torno do Sol, sem que nenhuma catástrofe inter-estrelar aconteça; se o “bicho” homem nada faça para desequilibrar ainda mais a vida das espécies no planeta; se nenhuma desordem local ou mundial afectar as nossas fronteiras e abolir a nossa nacionalidade, os portugueses continuarão a viver, ou melhor, a sobreviver!
Como devemos iniciar o ano com bom humor e energia, e esta tem muito a ver com o que comemos e bebemos, saúdo o novo ano com a nossa bela “gastronomia”.
Em 2015, como diria a minha avó, os portugueses terão de contentar-se com a “Roupa Velha”, um prato tipicamente português confeccionado com os restos do bacalhau do dia anterior. Se bem que o “fiel amigo” nos tenha alimentado durante muitas das crises da nossa já longa história, há cada vez mais gente enjoada de tanto bacalhau, ou seja, de tantas crises. Entre eles estão os mais de 90 mil a sofrer de desemprego de longa duração, onde quase 70% dos quais já não recebe qualquer subsídio e os mais de 116 mil desgraçados que deixaram de receber o subsídio de inserção e andam “ao caixote”, para não falar das centenas de milhares de reformados a viver com grandes dificuldades.
Se a nossa saborosa gastronomia é um factor dos mais característicos e apreciados pelo nosso povo e, recentemente, um atractivo turístico a que chamam “cozinha mediterrânica”, as nossas pobres gentes sucumbem perante as “pizzas” e os hambúrgueres a um mais baixo preço de mercado. Com a saudade e a esperança, ambos sentimentos tristes do nosso actual quotidiano, os mais de 350 mil portugueses que nos últimos três anos emigraram para os países do “primeiro-mundo” aspiram a poder voltar um dia a degustar os nossos cozinhados, isto se, e entretanto, não mudarem de “apetites”.
Mas, se bem que apreciada, nem todos gostam da sardinha, enquanto cartaz turístico de Portugal. Muitos têm preferido lagosta e vão continuar a comê-la, que o digam as estatísticas nacionais sobre o crescimento dos muito ricos no País, enquanto os da “classe média”, comendo-a de vez em quando, para manter as aparências sociais ao fim de semana, alternam com pastelinhos e galões de pastelaria, durante o resto da semana.
Mas isto vai mudar! Promete o Governo e a oposição em ano de eleições.
Para o Governo, ocupado com o aumento das capturas piscícolas em Bruxelas e para que “nada” nos falte em 2015, os portugueses ainda têm à sua disposição um dos bons petiscos nacionais, ou seja, “jaquinzinhos fritos”. Uma solução que não compromete um grande aumento do nosso endividamento externo, que já vai em mais 54 milhões de euros do que há três anos.
A oposição socialista, candidata a ser o próximo Governo, considera que, embora tenhamos o mesmo direito a comer o que almoçam os nossos deputados nacionais e europeus (pesquisar menus dos ditos…), não temos condições de passar de oito a oitenta porque podemos “rebentar”. Significa que nem todos poderão consumir bife do lombo e caranguejos do Árctico, mas talvez umas sapateiras e umas azinhas de frango.
A condizer com toda esta gastronomia nacional, o inquilino de Belém, um senhor que “nunca tem dúvidas e raramente se engana” (sic), continua a pregar aos peixinhos do Tejo, qual Santo António em sermão, já sem nenhuma habilidade para conseguir “pescar” o que quer que seja, nem ser ouvido por eles, os “peixes”!
Mas, como o nosso Produto Interno Bruto parece ter crescido (resta saber se tal se deve ao “milagre da multiplicação dos pães”, se às novas estatísticas europeias que permitem incluir actividades económicas ilegais, como o tráfico de drogas, o contrabando e a prostituição) e o nosso Governo está empenhado em privatizar tudo o que for possível (há quem pense que, proximamente, poderá ser a Torre de Belém…), os portugueses talvez possam vir estar mais tempo à mesa. Poderemos eventualmente vir a trabalhar anualmente menos 324 horas e ganhar mais 7.484 euros, tal como os alemães que tanto ajudámos a enriquecer.
Se tal acontecer, 2015 será um ano de “farturas”, uma especialidade à nossa disposição em qualquer roulotte das feiras populares.
Luis Barreira