Pai, Filho e Espírito Santo na unidade do Altíssimo
“Trindade” é o termo usado para denominar a doutrina central da religião cristã: a verdade de que na unidade do Altíssimo há Três Pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo estas Três Pessoas verdadeiramente distintas umas das outras. São, no entanto, uma “substância, essência ou natureza”. A “natureza” é o que se é, enquanto a “pessoa” é quem se é.
Numa das mais antigas formulações trinitárias, o chamado “Credo de Atanásio” (de Santo Atanásio de Alexandria, 328-373, Doutor da Igreja), é referido que “O Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, mas não há três Deuses, mas apenas um”. Nesta Trindade de Pessoas, o Filho é gerado do Pai por uma geração eterna, e o Espírito Santo procede por uma processão eterna do Pai e do Filho. No entanto, e apesar desta diferença de origem, as Pessoas são co-eternas e co-iguais: todas foram igualmente incriadas e omnipotentes. A Trindade é assim a revelação sobre a natureza de Deus na qual Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio à terra para se entregar ao mundo, sendo a doutrina que a Igreja propõe ao homem como fundamento de todo o seu sistema dogmático. Refira-se que o Credo de Atanásio, um dos símbolos da fé aprovado pela Igreja e com importância liturgia, é uma exposição breve e clara das doutrinas da Trindade e da Encarnação, com uma referência passageira a vários outros dogmas. Ao contrário da maioria dos outros credos, ou símbolos, trata quase exclusivamente dessas duas verdades fundamentais, que afirma e reafirma de maneiras concisas e variadas para evidenciar inequivocamente a Trindade das Pessoas em Deus e a natureza dual na única Pessoa divina de Jesus Cristo.
Nas Sagradas Escrituras não existe um termo pelo qual as Três Pessoas Divinas sejam designadas juntas. A palavra trias (cuja tradução latina é “trinitas”) foi encontrada pela primeira vez em Teófilo de Antioquia (cerca de 180 d.C.), para se referir a Deus, o seu Verbo (Logos) e a sua Sabedoria (Sophia). Teóficlo refere-se à “Trindade de Deus (o Pai), a Palavra e sua Sabedoria”. Mas neste caso, o termo parece ter sido usado antes do seu tempo de definição teológica. Mais tarde, surge na sua forma latina de “trinitas” em Tertuliano, ano 215, que é considerada a primeira referência teológica cristã ao conceito trinitário. No século seguinte, o termo tinha-se generalizado. É encontrada em muitas passagens em Orígenes, por exemplo. O primeiro Credo em que aparece é num discípulo de Orígenes, São Gregório Taumaturgo, que entre os anos de 260 e 270, escrevia que “não há nada criado, nada sujeito a outro na Trindade; nem há nada que tenha sido adicionado como se não tivesse existido uma vez, mas inserido posteriormente. Portanto, o Pai nunca existiu sem o Filho, nem o Filho sem o Espírito, e esta mesma Trindade é para sempre imutável”.
A Trindade é o dogma central sobre a natureza de Deus na maioria das igrejas cristãs, pela qual se afirma que Deus é um ser único que existe como Três Pessoas distintas, ou hipóstases: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Algumas denominações cristãs minoritárias, como as igrejas unitárias, Testemunhas de Jeová e alguns ramos pentecostais, entre outras igrejas, rejeitam a crença na Trindade. Os Mórmons, por exemplo, afirmam acreditar na Trindade, mas têm uma interpretação própria, indicando que Deus Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo são seres completamente separados trabalhando juntos em completa unidade, para o mesmo propósito. Fora do âmbito do Cristianismo, existe uma referência à Trindade no Alcorão muçulmano, uma fé também monoteísta, mas é contrária ao conceito cristão.
A fórmula tomou forma ao longo dos anos e começou a ser estabelecida a partir do Século IV. Temos assim a definição do Concílio de Niceia (325). Niceia afirma que o Filho é consubstancial (ὁμοούσιον, homousion, literalmente “da mesma substância”) ao Pai. Esta fórmula foi, porém, desafiada e posta em causa. A Igreja passou por uma geração de debates e conflitos até que a “fé de Niceia” foi reafirmada em Constantinopla, em 381. Um dos mais sérios problemas doutrinários que se puseram na Igreja Antiga foi com efeito a conciliação da unidade de Deus (solidamente assumida no Antigo Testamento) com a Trindade de Pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo, conforme nos foram revelados pelo Novo Testamento).
A Trindade foi sempre difícil de entender, pois o era também de explicar. Mesmo entre teólogos e eruditos gerou controvérsia. Como sucedeu com Ário de Alexandria (250-336), que tinha uma visão cristológica antitrinitária que negava a consubstancialidade entre Jesus e Deus Pai. Tal teoria foi considerada uma heresia, que se dividiu em vários grupos. Como outras mais surgiriam, como o monarquianismo e o macedonianismo, entre várias.
Oito Domingos depois da Páscoa, no Domingo a seguir ao Pentecostes, celebra-se a Solenidade da Santíssima Trindade. Como foi depois do primeiro grande Pentecostes que a doutrina da Trindade foi proclamada ao mundo, a Festa da Santíssima Trindade segue a de Pentecostes. Até ao Vaticano II, marcava o fim de um período de três semanas durante o qual os casamentos eram proibidos. O Papa João XXII (1316-1334) ordenou a Festa para toda a Igreja no primeiro Domingo depois de Pentecostes, estabelecendo-a como Dupla de Segunda Classe. Foi elevada à dignidade de Primária de Primeira Classe em 24 de Julho de 1911, pelo Papa Pio X. A cor litúrgica da Festa é o branco. A quinta-feira após o Domingo da Trindade é celebrada como a Festa de Corpus Christi.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa