Em busca de um novo paradigma económico
A vice-directora dos Serviços de Protecção Ambiental, Vong Man Hung, passou na segunda-feira em revista os trabalhos realizados pelo Governo no campo do desenvolvimento sustentável e da protecção ambiental, a convite do Instituto Ricci de Macau. Os dois aspectos são encarados pela Santa Sé como cruciais para a promoção de um novo paradigma económico. A questão vai ser debatida, por iniciativa do Papa, na cidade italiana de Assis entre 19 e 21 de Novembro.
As políticas ambientais implementadas pelas autoridades do território estiveram ao final da tarde de segunda-feira em discussão na Universidade de São José, numa iniciativa organizada pelo Instituto Ricci de Macau e que contou com a presença da vice-directora dos Serviços de Protecção Ambiental como oradora.
Perante uma audiência limitada a pouco mais de duas dezenas de pessoas, devido às medidas de saúde adoptadas, Vong Man Hung explicou a forma como está estruturado o organismo governamental e passou em revista os trabalhos conduzidos pelo Governo desde 2009, ano em que a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental foi criada. Ao longo da última década, questões como a gestão e o tratamento dos resíduos urbanos, e desafios como a eliminação do plástico ou o impacto das alterações climáticas obrigaram o Executivo a olhar para a protecção do ambiente com outros olhos. Em Agosto do ano passado, a Assembleia Legislativa aprovou a primeira lei de restrição ao uso dos sacos de plástico, tendo instituído a taxa de uma pataca por cada saco dispensado nos supermercados e no pequeno comércio.
A iniciativa organizada pelo Instituto Ricci serviu para preparar aquele que é o seu grande evento anual. Agendado para 15 e 16 de Outubro – quinta e sexta-feira – o já habitual Simpósio Internacional da instituição decorre pela primeira vez de modo inteiramente virtual e tem como tema uma questão a que o próprio Vaticano atribui grande importância: a edificação de um paradigma económico mais justo, mais responsável e mais inclusivo. «Em meados de Outubro, o Instituto Ricci vai organizar o seu principal simpósio, que vai discutir precisamente este tópico, o de uma reforma do paradigma económico. O certame vai ao encontro de um outro grande evento, organizado por iniciativa do próprio Papa Francisco. Originalmente, este estava marcado para Março, mas foi reagendado para Novembro. Decorre na cidade de Assis e vai ser transmitido pela Internet para todo o mundo», disse o padre Stephan Rothlin, director do Instituto Ricci de Macau.
A ECONOMIA DO FUTURO
Intitulado “A Economia de Francisco. Os jovens, um pacto, o futuro”, o encontro deverá reunir, entre 19 e 21 de Novembro, economistas de renome, especialistas em desenvolvimento sustentável, empreendedores e jovens de vários pontos da Europa. Os Prémios Nobel Muhammad Yunus, creditado como o inventor do microcrédito, e Amarthya Sen integram o rol de oradores que se disponibilizaram para participar, a par de economistas como Bruno Frey, Jeffrey Sachs e Kate Raworth, ou de activistas como o filipino Tony Meloto, o italiano Carlo Petrini e a indiana Vanda Shiva. A intenção é a de trabalhar em conjunto com os jovens durante três dias e reflectir sobre aspectos como as desigualdades sociais, a transição económica, a protecção do ambiente e a promoção das chamadas “economias verdes”. «O que fizermos aqui em Macau servirá de referência à conferência de Assis, na qual vão participar, entre outros, dois Prémios Nobel da Economia. Do ponto de vista ambiental, Macau deve ser visto como um laboratório para a China. Os contributos que pode vir a dar nesse sentido podem vir a revelar-se muito significativos», defendeu o padre Stephan Rothlin. «Macau tem uma rede económica gigantesca e dispõe, obviamente, de excelentes relações com a China. Por isso é muito mais fácil, numa cidade relativamente pequena, avançar com novas soluções. A forma como o Governo geriu a pandemia foi muito elogiada por todos. E por que não confiar ao Executivo a tarefa de promover melhorias significativas numa cidade que, pelo facto de ser pequena, pode fazer as coisas avançar mais rápido do que uma qualquer megalópole?», acrescentou.
A conferência que a Santa Sé vai levar a cabo em Assis está direccionada, em concreto, para as gerações mais jovens. No certame vão também participar jovens investigadores, estudantes, empreendedores e dirigentes empresariais; dirigentes associativos e responsáveis por organizações locais e internacionais. Muitos dos já inscritos lidam com aspectos como o meio ambiente, a pobreza, as desigualdades sociais, as novas tecnologias e o desenvolvimento sustentável. Para o director do Instituto Ricci, «as Universidades e as escolas têm um papel fundamental na preparação dos adultos de amanhã. Um dos desafios a que temos de estar atentos é o do consumo desmedido – a forma como as pessoas são manipuladas para consumirem. A sociedade de consumo é uma realidade, mas temos também de considerar movimentos amplos como as “Sextas-feiras pelo Futuro”. Este movimento, iniciado por Greta Thunberg, teve um grande impacto», lembrou o padre Stephan Rothlin.
«Por vezes as pessoas dizem que as novas gerações são preguiçosas, mas eu não concordo. Têm até sido bastante activas à escala internacional. Agora, com a Igreja a envolver-se de forma empenhada nesta questão, com os ensinamentos sociais da Igreja e o Papa a dar o exemplo, acredito que os jovens e as novas gerações poderão ser agentes de mudança. E não se trata apenas de mudança em termos retóricos, mas de verdadeira mudança», concluiu o sacerdote.
Marco Carvalho