O discípulo amado de Jesus
A Igreja Católica em Macau junta-se à Igreja universal na celebração do apóstolo São João, no próximo dia 27 de Dezembro, data a este santo associada.
João é definido no seu Evangelho como o discípulo que Jesus amava (Jo., 13, 23). Graças aos sinais de predilecção que Jesus lhe manifestou em momentos muito significativos da Sua vida, João esteve intimamente ligado à História da Salvação. Foi um dos doze apóstolos de Jesus segundo o Novo Testamento; seria filho de Zebedeu e de Salomé, além de irmão de Tiago, outro apóstolo. A tradição cristã acredita que nasceu em Betsaida, na Judeia, talvez no ano 6, vindo a falecer em Éfeso (actual Turquia), no ano 100 (ou 101), o que lhe atribui mais de noventa anos de idade. Foi o único apóstolo que não morreu martirizado. Morreu quase setenta anos depois da Morte de Jesus.
Os Padres da Igreja consideram que este apóstolo, de nome João, era a mesma pessoa que João o Evangelista (autor do Evangelho de João), João de Patmos (autor do Apocalipse), além do “discípulo amado” citado por Jesus, uma crença seguida ainda hoje por diversas denominações cristãs, incluindo a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.
O primeiro sinal do grande carinho de Jesus por João foi o de ter sido chamado para ser Seu discípulo, juntamente com André, irmão de Pedro, por intermediação de João Baptista, que baptizava no rio Jordão e de quem já eram discípulos. De facto, quando Jesus ali passou, Baptista apresentou-O como “o Cordeiro de Deus”, tendo ambos O seguido de imediato. João ficou tão impressionado com o seu encontro pessoal com Jesus que nunca esqueceu que eram por volta das quatro da tarde quando Jesus os convidou a segui-Lo (Jo., 1, 35-41). O segundo sinal de predilecção de Jesus foi o de ter sido testemunha directa de alguns acontecimentos da vida do Mestre, que depois condensou no quarto Evangelho, de uma maneira teológica muito diferente dos Evangelhos sinópticos (Jo., 21, 24). Temos também um terceiro momento, em que o próprio Jesus lhe fez sentir a Sua particular amizade e fraternidade, quando, prestes a entregar o Seu espírito (Jo., 19, 30), quis associá-lo de modo privilegiado ao mistério da Encarnação, confiando-o de forma expressa à Sua mãe: «eis aqui o teu filho», dizendo depois a João: «eis aqui a tua mãe» (Jo., 19, 26-27).
Mais tarde, João será testemunha de Jesus crucificado e ressuscitado. Durante a Última Ceia, João encostou-se ao peito de Jesus e perguntou-lhe, numa forma confidente e fraterna: Senhor, quem é que te vai trair? (Jo., 21, 20). João, recorde-se, foi também o único dos apóstolos que acompanhou Jesus ao pé da Cruz com Maria (Jo., 19, 26-27). A somar a estes factos de proximidade com Jesus, João foi o primeiro a acreditar no anúncio da ressurreição feito por Maria Madalena (Mt., 28, 8). Com efeito, correu até ao sepulcro, vazio, e deixou Pedro entrar em primeiro lugar para respeitar a sua precedência (Jo., 20, 1-8).
A este apóstolo de Jesus é atribuída a autoria do quarto Evangelho, das quatro Epístolas que levam o seu nome e do último livro da Bíblia, o Apocalipse. O Evangelho de São João narra, em detalhes, vários aspectos da vida de Jesus de Nazaré, sendo a sua escrita geralmente datada para entre os anos 90 e 100. Com Pedro e o irmão Tiago, constituiu o núcleo mais próximo de Jesus. Como próximo se tornou de Maria, que acompanhou para o “exílio” em Éfeso. Após a ressurreição de Jesus, São João Evangelista ocupou uma posição relevante entre os discípulos. Tanto no seu Evangelho como nas visões proféticas do Apocalipse.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa