SANTA ÚRSULA E AS ONZE MIL VIRGENS CELEBRADAS A 21 DE OUTUBRO

SANTA ÚRSULA E AS ONZE MIL VIRGENS CELEBRADAS A 21 DE OUTUBRO

Má interpretação, boa devoção

Santa Úrsula de Colónia foi uma jovem donzela do Século IV, de origem britânica (da Cornualha), que foi martirizada a 21 de Outubro do ano 383, gerando uma tradição medieval, onde entra a figura de Átila, o Huno. Terá sido martirizada em “Colonia Claudia Ara Agrippinensium”, a actual Colónia, na Alemanha.

A lenda medieval narra que Úrsula (“pequena ursa”) se terá convertido ao Cristianismo, secretamente, prometendo, como muitas jovens faziam, guardar a sua virgindade. Todavia, fora prometida a um príncipe celta de Gales, Ereo, ou Conan Meriadoc, figura lendária. O pai de Úrsula chamava-se Dionotus, um rei bretão da Cornualha, no Sudoeste da Grã-Bretanha. Noutras versões, conta-se que foi pedida em casamento por Ereo, a que seu pai acedeu, mas receoso. Aqui entra a raiz da lenda, quando a tradição refere que Dionotus impôs várias condições para o desenlace, sendo uma delas que, no seu séquito matrimonial, a filha levaria dez virgens, além de outras mil para ela e para cada uma das dez mulheres, além de que o casamento teria de se realizar até ao fim de três anos.

Úrsula tem então uma visão de um anjo, durante uma viagem. Este revela-lhe que iria morrer martirizada. Úrsula decide empreender uma peregrinação a Roma, por forma a consagrar os seus votos secretos. Em Roma, o Papa Sirício (384-399) recebeu Úrsula de forma majestosa, tendo a jovem reafirmado e consagrado os seus votos de virgindade perpétua. Uma certa tradição narra que o Papa recebeu uma revelação de que iria ser martirizado com as virgens, o que o fez renunciar ao trono de São Pedro e juntar-se a Úrsula e às suas companheiras, a que se juntaram muitos bispos. No caminho de regresso do vasto grupo à Cornualha, encontraram a cidade de Colónia cercada pelos Hunos de Átila, o flagelo de Deus. Recusando os avanços sexuais dos bárbaros, todas as Onze Mil Virgens são mortas pelos Hunos, deixando-se apenas Úrsula viva. Tudo porque Huno se apaixonou por ela. Mas a jovem manteve-se firme na sua fé e zelo da virgindade, recusando o matrimónio. Átila matou-a com uma seta.

A Igreja Católica reconhece que o número de onze mil virgens é simbólico, fruto de uma errónea leitura que acabou por se tornar numa tradição adjudicada a Santa Úrsula. Tudo porque numa lápide romana, com epígrafe (inscrição), encontrada em Colónia, constava a abreviatura “XI MM VV”, origem da leitura errada: em vez de se ler “MM” como abreviatura de “mártires” (“onze mártires virgens”, Úrsula e as dez aias), leu-se como “mil” (o que dava “onze mil virgens”). Num documento de 922, conservado num mosteiro em Colónia, lia-se “Dei et Sanctas Mariae ac ipsarum XI m virginum”, onde “XI m virginum” se deveria ler “undecim martyres virginum”, ou “onze virgens”; todavia leu-se “undecim millia virginum”, ou seja, “onze mil virgens”. Assim, entre a lápide e o documento nasceu uma interpretação que criou a lenda. Clematiu, já agora, um cidadão de classe senatorial que vivia em Colónia, erigiu uma basílica dedicada às “onze mil virgens”, no local do achado da lápide. Na dedicação do edifício, nomeiam-se também as outras donzelas além de Úrsula. Mas ficou a devoção, mesmo que sem a certeza histórica dos factos.

Vítor Teixeira 

Universidade Fernando Pessoa

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