A igreja da Santa Rosa de Lima
A igreja de Santa Clara foi construída em 1634 e reconstruída em 1827 e 1936. A sua fundação teve como objectivo servir de templo ao Mosteiro das Clarissas, que ora se intentava fundar em Macau.
As clarissas são monjas, porque vivem em clausura, em mosteiros (não em conventos), e pertencem à Ordem de Santa Clara, ou Segunda Ordem Franciscana. Foram fundadas por Santa Clara (1194-1253) em Assis, no ano de 1212. Em 1252 receberam a Regra dita de Santa Clara (antes usavam a de São Bento). Enxamearam pelo mundo e chegaram também ao Extremo Oriente.
A Macau aportou madre Leonor, clarissa espanhola da região de Toledo. Chegou proveniente de Manila, nas actuais Filipinas, então território espanhol. Em Manila esteve desde 1620, vindo a fundar em 1633 o Mosteiro de Santa Clara em Macau, de que foi a primeira madre abadessa. Fundou juntamente com as madres Madalena de Vera Cruz, Belchiora da Trindade, Margarida de la Concepción, Clara de São Francisco e Joana de la Concepción. Era uma clarissa urbanista, ou seja, seguia uma outra Regra vigente na sua Ordem, promulgada pelo Papa Urbano IV (em 1263), que possibilitava o acesso à posse de bens por parte das seguidoras de Santa Clara de Assis.
A madre Leonor morreria em 1651. Segundo algumas fontes, terá sido em Macau, apesar da expulsão de religiosos espanhóis em 1640. A igreja foi levantada em 1634, no ano seguinte à erecção do mosteiro. Este situava-se onde é hoje o Colégio de Santa Rosa de Lima (Secção Chinesa), também conhecido por igreja de Santa Clara. Como eram espanholas, em 1640, com a restauração da Independência de Portugal da Espanha, as irmãs espanholas foram expulsas de Macau. Estas madres foram o primeiro grupo de religiosas católicas a chegar à China. O mosteiro, que depois de 1640 foi povoado por irmãs portuguesas, encerrou a sua actividade em 1835, um ano depois da exclaustração liberal de Joaquim António de Aguiar.
O templo foi concluído em 1634, mas sofreu alterações e restaurações, particularmente em 1827 e 1936. A igreja sofreu dois incêndios e a actual edificação remonta a 1936, após trabalhos de reconstrução. Na década de 1930 foi construída uma estrada que foi denominada de “Santa Clara”. Tem início na Rua do Campo e termina na Avenida da Praia Grande, ligando o Jardim de São Francisco e o Clube Militar. Por ela se acede à igreja de Santa Rosa de Lima e ao Cineteatro.
Em 1782, a Santa Casa da Misericórdia de Macau lançou a fundação do orfanato em honra de Santa Rosa de Lima, destinado ao acolhimento e educação de meninas órfãs de ascendência portuguesa. Depois da extinção das Ordens religiosas e vagando o Mosteiro das Clarissas, o orfanato foi instalado no antigo local do mosteiro (em Macau designado de Convento) de Santa Clara. Corria o ano de 1857 quando assim se determinou e melhor se fez. Mais tarde, em 1875, o orfanato foi renomeado como Escola de Santa Rosa de Lima, que passou a admitir alunos internos, bem como alunos externos (diurnos) de ascendência portuguesa. De 1876 a 1903, a escola passou a ser gerida pelas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo (1876-1889) e pelas Canossianas (1889-1903).
A partir de 1903, foi confiada à administração das Missionárias Franciscanas de Maria (foi brevemente gerida pelas Irmãs Missionárias de Nossa Senhora dos Anjos até 1932), passando para a diocese de Macau em 2022.
O antigo edifício foi reconstruído entre 1929 e 1934, no que é conhecido como Salão da Fé. A igreja foi concluída em 1936. O edificado possui um estilo eclético clássico encimando por um frontão circular. A igreja é de sabor revivalista, neogótica, de expressão mais vertical. Tem uma planta em cruz latina e uma fachada principal simétrica marcada na base por um pórtico formado por arcos entrelaçados. A coroar, um campanário octogonal de aspecto simples. Trata-se de uma bela fachada neogótica, toda ela direccionada para o alto, em manifestação de ascese espiritual plasmada na pedra. O interior é despojado e despretensioso na decoração, espiritual e com pouca expressão ornamental.
A Escola de Santa Rosa de Lima passou de uma escola inicial de meninas de língua portuguesa para a introdução de uma secção em Inglês em 1932 e uma secção chinesa em 1933, estabelecendo um sistema académico correspondente em Chinês, Inglês e Português. A secção chinesa continua a utilizar as instalações na Rua de Santa Clara, na Praia Grande, incluindo a igreja de que aqui se faz memória.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa