RAINHA SANTA ISABEL DE PORTUGAL: FESTA LITÚRGICA CELEBRADA A 4 DE JULHO

RAINHA SANTA ISABEL DE PORTUGAL: FESTA LITÚRGICA CELEBRADA A 4 DE JULHO

“Promessa de Deus” aos pobres e mais desfavorecidos

A santidade não deriva do nome, mas este cumpre muitas vezes o destino do que o leva. Ou seja, se o nome “Isabel” deriva do Hebraico e significa “Promessa de Deus” (Isab, “promessa”; El, “Deus”), no caso da figura em causa a promessa foi cumprida de forma completa.

Se falarmos na Rainha Isabel de Portugal (1271-1336), ou Isabel de Aragão, poucos se lembrarão de que nos referimos à Rainha Santa Isabel, de tão preclara santidade em vida, de exemplo e profunda espiritualidade.

Isabel, da Casa Real de Aragão, nasceu em Saragoça (no Palácio da Aljafería), a 4 de Janeiro de 1271 (ou 1270), e morreu em Estremoz a 4 de Julho de 1336, aos 65 anos. Está sepultada no Mosteiro de Santa Clara a Nova, em Coimbra, antigo cenóbio de Clarissas, que ajudou a fundar.

Isabel foi, de facto, rainha-consorte de Portugal entre 1282 e 1325, como esposa do Rei D. Dinis (este nasceu em 1261 e morreu em 1325; foi rei entre 1279 e 1325), com quem se casou em 1282. Era filha do Rei Pedro III de Aragão (era também neta do Rei Jaime, o Conquistador, e bisneta do Imperador Frederico II da Alemanha) e da Rainha Constança II da Sicília, tendo recebido o nome de Isabel em homenagem a sua tia-avó, Isabel da Hungria (1207-1231), que foi também santa e terceira franciscana.

Isabel de Portugal foi mãe de Constança de Portugal (1290-1313), rainha-consorte de Castela, por casamento com Fernando IV; e de Afonso (IV) de Portugal (1291-1357, rei de 1325 a 1357).

Isabel tornou-se “Rainha Santa” ainda em vida, crescendo a santidade depois da sua morte, pela cópia de milagres que se diz terem ocorrido. Foi por isso beatificada em 1526 e canonizada pelo Papa Urbano VIII em 1625. A sua festividade foi introduzida no Santoral Católico com celebração a 4 de Julho, dia da sua morte. Mais tarde, em 1694, o Papa Inocêncio XII mudou a Festa para 8 de Julho, para que não coincidisse com a celebração da Oitava dos Santos Pedro e Paulo (de 29 de Junho para 6 de Julho). Em 1955, Pio XII aboliria a Oitava. O Missal Romano de 1962 mudou a categoria litúrgica da Festa de Santa Isabel de Portugal de “Dupla” para “Terceira classe”. A reforma do calendário de 1969 classificou o feriado como “memória livre” e devolveu a Festa para a data de 4 de Julho, em que permanece.

Isabel recebeu a melhor educação que uma princesa poderia receber no seu tempo. A Corte em que nasceu era um viveiro de intelectualidade e grande mundividência, além de forte espiritualidade e profunda piedade cristãs. A inclinação da princesa para a piedade é uma marca da sua educação, esmaltada pela leitura e apreço pelas vidas dos santos. A oração era frequente, bem como a mortificação dos seus gostos e caprichos, sempre em grande liberdade espiritual.

Com quinze anos estava já casada com o Rei de Portugal, Dinis, grande apreciador das qualidades de Isabel, tão nova, mas tão espiritualmente madura e convicta. Dinis era, porém, bastante mais profano e escandaloso que Isabel, irascível no temperamento e até belicoso. A rainha sofreu com esse ambiente, suportando estoica e pacientemente os desvarios do culto esposo. Este não limitou, todavia, a liberdade do exercício da piedade cristã a Isabel, que se entregou às obras de caridade de forma intensa. Além de oração e missa diárias, dirigia a vida palaciana, aproveitando as horas vagas para costurar, bordar e fazer vestidos para os pobres. Ocupava também parte do dia a visitar os idosos e doentes e a ajudar os necessitados. Mandou construir abrigos para os desalojados, além dos estrangeiros e peregrinos. Na capital fundou um hospital para pobres, uma escola gratuita para meninas, uma casa para mulheres arrependidas e um hospício para crianças abandonadas. Obteve ajuda para construir pontes em lugares perigosos e distribuiu todo o tipo de ajuda com muita generosidade. Visitava os doentes, encontrava “médicos” para os pobres. Foi ainda patrocinadora da construção de mosteiros para religiosas, particularmente da Ordem de Santa Clara (Clarissas), pagando dotes a raparigas pobres para poderem professar como religiosas.

Nesta aura de santidade e caridade, a tradição portuguesa adoptou a lenda da transformação do pão em rosas de Santa Isabel da Hungria e transpô-la para a Rainha Santa, numa osmose que se tornou o episódio legendário da sua santidade.

Foi mediadora da paz, principalmente entre Dinis e o filho Afonso, que era rebelde e violento, envolvendo-se com o pai em guerra civil, o que abalou Isabel. Esta tudo fez para debelar o conflito, aparecendo entre as tropas em contenda e apelando à paz. Depois de enviuvar em 1325, viveu o resto dos seus dias em oração, contemplação e caridade activa, além de promover fundações pias.

Vítor Teixeira 

Universidade Fernando Pessoa

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