Quadra Pascal vivida por católicos chineses de Macau

Oração, jejum e família.

A propósito da Páscoa, O CLARIM falou com três crentes chineses de Macau para saber como vivem a Ressurreição de Cristo. Miles Choi, Alfred Wong e Teresa Loong enalteceram a oração, o jejum e o convívio em família, não esquecendo que o pendor comercial e o desapego às festividades cristãs ganharam terreno na vida dos fiéis.

O Domingo de Páscoa é a festa mais importante do ano para o engenheiro eléctrico Miles Choi, que logo na noite de quinta-feira santa participa na missa da última ceia, após o horário de trabalho.

«Junto-me aos serviços religiosos da Igreja para o Tríduo Pascal, com três dias de jejum, meditação e oração. Na Vigília da Páscoa tento acompanhar os novos fiéis no seu baptismo, confirmação e primeira comunhão, e faço uma reflexão sobre a minha vida cristã dos últimos anos e que o que pretendo alcançar como cristão nos próximos anos», descreveu Miles Choi.

Para ele, as festas cristãs transformaram-se em períodos de vendas e não apenas em Macau, visto o fenómeno ser global: «Sem a fé cristã as pessoas podiam olhar para os feriados da Páscoa como se fossem umas férias curtas de Primavera, com viagens ao exterior e festas para comer e beber».

«Aliás, nos últimos anos, alguns fiéis meus companheiros têm gozado férias nos feriados da Páscoa», razão pela qual muito «dificilmente comparecerem nos serviços religiosos», tornando-se «o jejum, a oração e a meditação outros desafios [a satisfazer]».

Sublinhando que «os cristãos em Macau constituem apenas um pequeno grupo da população», a qual até «tem uma compreensão básica de que a Páscoa é uma festa religiosa», vincou que «os feriados e a promoção de vendas geram a imagem do hedonismo, em vez da religião».

Quando Miles Choi era criança, a Páscoa continha uma mensagem mais religiosa do que comercial. «Até mesmo na Igreja algumas tradições antigas estavam a desaparecer, mas os fiéis continuavam a praticá-las», lembrou. Uma dessas tradições era a distribuição de cartões de baptismo pelos novos fiéis após a cerimónia. «Nos últimos vinte anos tem sido algo que pouco acontece, mas nos meus tempos de menino as crianças viam sempre estes cartões como um bom presente da Páscoa relacionado com a Ressurreição do Senhor», recordou Miles Choi.

De igual modo, aludiu à celebração da Vigília Pascal. «A população de Macau tornou-se mais rica em termos materiais e a celebração transformou-se mais num “tira-fotografias” do que na alegria de partilha com o grupo de fiéis», sustentou.

Alfred Wong, professor-assistente de engenharia electromecânica na Universidade de Macau, foi outro dos crentes a partilhar o modo como comemora a Páscoa: «A minha família vai à igreja assistir à missa. Além disso, por vezes passo em casa alguns filmes relevantes sobre a Páscoa, partilhando-os com os membros da família, especialmente com as minhas duas filhas. É claro que nos encontramos com amigos da igreja ou com [outros] membros da família após a missa».

Embora não fosse católico quando criança, referiu que «celebrou a Páscoa até ao Ensino Secundário», pois «estudava a Bíblia nessa altura». À memoria veio o impacto que o padre Denis Martin teve no seu modo de olhar para a Páscoa: «Foi comigo à igreja. Aderi a várias actividades da Páscoa, como as Vias-Sacras em redor da igreja. Ainda me lembro que até o céu estava escuro, mas a igreja era tão brilhante e silenciosa… Podíamos sentir Jesus dentro de nós».

 

Paz interior

Teresa Loong frequenta os serviços religiosos e a missa com a família na Semana Santa. «Contudo, muitas pessoas em Macau pensam que se trata de um feriado longo, aproveitando-o para pequenas viagens com familiares ou amigos. Isto também é bom, mas não para mim», frisou.

«Para ser honesta, já tentei organizar viagens com a minha família no período da Páscoa. Mas mesmo conseguindo assistir à missa, não tinha paz interior, visto passar menos tempo em orações e jejuns. Desde então, tento dar o meu melhor para estar nos lugares que me permitam passar mais tempo com Deus», acrescentou a directora do Gabinete para os Assuntos Estudantis da Universidade de São José.

 

Mais baptismos (Caixa)

O número de baptismos na quadra pascal rondam os 130 no corrente ano, disse a’O CLARIM D. Stephen Lee, bispo de Macau. «É o reflexo de que nos últimos dois anos as aulas da catequese têm sido significativas e eficazes», sublinhou o prelado. «O processo do catequismo não acaba com o baptismo. Esperamos que as paróquias possam oferecer o melhor apoio para cuidarem dos novos convertidos, proporcionando-lhes formação contínua», acrescentou D. Stephen Lee. Em Macau as diferentes fases de preparação para o baptismo durante a época da Páscoa decorrem mediante o seguinte calendário: 1 – Celebração de acolhida e apresentação dos candidatos à comunidade (antes da Quaresma). 2 – Rito da Eleição (Domingo I da Quaresma). 3.1 – Escrutínios I (Domingo III da Quaresma). 3.2 – Escrutínios II (Domingo IV da Quaresma). 3.3 – Escrutínios III (Domingo V da Quaresma).

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *