Exemplo de vocação para os jovens
A Igreja universal comemora, 20 de Setembro, a Festa litúrgica de Santo André Kim. Em Macau, a memória do primeiro sacerdote coreano, martirizado em 1846, vai ser celebrada ao início da manhã de Domingo, com o bispo D. Stephen Lee a presidir a Missa Solene na igreja de Santo António.
A missa presidida por D. Stephen Lee visa homenagear o padre André Kim e os demais 102 mártires sul-coreanos, que foram proclamados santos pelo Papa João Paulo II, no ano de 1984, em Seul, por ocasião do segundo centenário da introdução do Cristianismo na Coreia.
Tradicionalmente, a Festa litúrgica em memória do primeiro sacerdote coreano é precedida por uma novena, que coincide com a celebração diária da Santa Missa na igreja de Santo António. Ao longo da última semana, os fiéis lembraram o exemplo de fé de Santo André Kim e entoaram preces, solicitando a intercessão e protecção do padroeiro da Coreia.
«Celebramos todos os anos a Festa litúrgica de Santo André Kim, com todos os fiéis da paróquia de Santo António. Esta celebração comemora o legado do primeiro coreano a ser ordenado sacerdote, mas também o exemplo de fé de outros 102 mártires coreanos. Nós, a Igreja em Macau e a Igreja na Coreia, somos uma única família, a Igreja Católica. Pertencemos a Cristo único, Jesus, Nosso Senhor», começa por afirmar o padre James Ryu Jae-hyoung, em declarações a’O CLARIM. «Convidámos o nosso bispo D. Stephen Lee para presidir à Eucaristia. Queremos divulgar o testemunho de fé de Santo André Kim Tae-gon junto dos católicos de Macau. Queremos que os nossos paroquianos fiquem a conhecer melhor a fé e o coração do primeiro santo nascido na Coreia. Ao longo dos últimos dias, todas as manhãs, temos celebrado uma novena depois da Missa: cantamos uma canção e rezamos uma prece em honra de Santo André Kim», acrescenta o actual pároco de Santo António, também ele natural da Coreia.
DA COREIA, DE MACAU E DO MUNDO – Martirizado a 16 de Setembro de 1846, aos 25 anos de idade, a vida de André Kim está profundamente ligada a Macau, território que ainda hoje é encarado na Coreia do Sul como o berço do Catolicismo na Ásia Oriental.
De origem nobre, o padre André cresceu no seio de uma fervorosa família cristã, tendo amadurecido a vocação sacerdotal, inspirado pelo exemplo e testemunho do pai, martirizado em 1836, com 44 anos de idade. No mesmo ano, deixou a Coreia com destino a Macau, onde aprofundou o discernimento sacerdotal junto das Missões Estrangeiras de Paris.
«O Santo André Kim viveu em Macau! Este facto é muito significativo. É uma das razões pelas quais celebramos todos os anos a sua Festa litúrgica na paróquia de Santo António. Santo André preparou-se para o sacerdócio em Macau», acentua o padre James Ryu e complementa: «Durante o tempo em que Santo André Kim esteve em Macau como seminarista, a Igreja tinha na Coreia uma presença muito pequena; necessitava desesperadamente de um sacerdote nascido na Coreia e que falasse coreano. Foram três os seminaristas coreanos que vieram para Macau. Fixaram-se nesta zona, perto da igreja de Santo António. Pensamos que terão ficado alojados num edifício que se encontrava mesmo em frente à igreja e que pertencia às Missões Estrangeiras de Paris. Não sabemos ao certo se era ou não o Seminário. O que sabemos é que eles estavam aqui, que viam a igreja e que vinham cá rezar. Vinham pedir pela sua própria vocação, mas também pela Igreja na Coreia e por todos aqueles que haviam sido perseguidos».
A forte relação entre Macau e o fortalecimento da Fé Católica na Coreia levou o então bispo D. José Lai a pedir, em 2006, à Congregação Clerical dos Beatos Mártires da Coreia que enviasse sacerdotes para o território, dada a falta de padres no Sul da China. À época, já Macau era destino de peregrinação para um número incontável de católicos sul-coreanos.
«A Igreja na Coreia decidiu que o mês de Setembro é o mês dos mártires. Comemoramos e recordamos o exemplo de coragem e de fé de Santo André Kim e dos seus companheiros. Muitos idosos, provenientes da Coreia do Sul, vêm a Macau de propósito para visitar a nossa igreja. Participam na Missa e depois pedem-nos para ver a imagem de São André e a relíquia que está exposta junto à estátua. Ajoelhados, rezam pelas suas famílias, pelas suas próprias intenções e pedem a Deus que fortaleça a sua fé em Jesus Cristo», ilustra o padre James Ryu.
EXEMPLO DE FÉ E DE FIDELIDADE A DEUS – Em Setembro de 2023, por ocasião da bênção e colocação da imagem de Santo André Kim no exterior da Basílica de São Pedro, o Papa Francisco recebeu no Vaticano um grupo de fiéis da Coreia do Sul. Na ocasião, o Pontífice deu o testemunho do jovem mártir coreano como um exemplo a seguir para a Igreja e como um farol de fé para os jovens de todo o mundo que vão participar na próxima Jornada Mundial da Juventude. O evento irá realizar-se na capital sul-coreana, Seul, entre 3 e 8 de Agosto de 2027. O padre James Ryu acredita que a vida e o legado de Santo André Kim vão constituir uma referência e fonte de inspiração para os jovens sul-coreanos e para a juventude de todo o mundo.
«Tivemos recentemente a canonização de São Carlo Acutis em Itália. Este jovem santo é muito importante. Inspirou muita gente no seio da Igreja Católica, em particular as novas gerações. Santo André também era muito jovem quando morreu. Tinha apenas 25 anos. Era um sacerdote ainda muito jovem», salienta o padre James, e conclui: «Muitas pessoas, em particular entre as gerações mais jovens, vão participar na Jornada Mundial da Juventude. É uma boa oportunidade para que os participantes se possam inteirar da importância do contributo dado pelos mártires coreanos. Acho que se trata de uma boa oportunidade para o povo coreano».
Marco Carvalho