IGREJA CATÓLICA CELEBRA HOJE SÃO TOMÁS DE AQUINO

IGREJA CATÓLICA CELEBRA HOJE SÃO TOMÁS DE AQUINO

Mestre das virtudes teologais

Em Macau e pelo mundo, a família dominicana da “Ordem dos Pregadores” une-se hoje à Igreja Universal na memória litúrgica de São Tomás de Aquino; um importante teólogo, filósofo e padre dominicano do Século XIII. Segundo frei Daniel Kennedy, também ele dominicano, os principais acontecimentos da vida deste santo são conhecidos, mas os biógrafos diferem em alguns detalhes e datas. Para frei Kennedy, a vida de Tomás pode ser resumida em poucas palavras: orar, pregar, ensinar, escrever e viajar.

Pela riqueza do que foi a vida de São Tomás de Aquino, recorremos às notas biográficas de frei Daniel Kennedy (Enciclopédia Católica) e às catequeses dadas pelo Papa Bento XVI sobre o santo, proferidas no mês de Junho de 2010, divididas em três Audiências Gerais.

Bento XVI disse não surpreender que depois de Santo Agostinho, entre os escritores eclesiásticos mencionados no Catecismo da Igreja Católica, São Tomás seja citado mais do que todos os outros; são precisamente 71 vezes! «Ele foi denominado também como Doctor Angelicus, talvez pelas suas virtudes e de modo particular pela sublimidade do pensamento e pureza da vida», enalteceu o hoje Papa Emérito.

Tomás nasceu entre os anos de 1224 e 1225, no castelo que a sua família, nobre e abastada, possuía em Roccasecca, nos arredores de Aquino, perto da célebre abadia de Montecassino. Anos mais tarde, transferiu-se para a capital do Reino da Sicília, Nápoles, onde Frederico II havia fundado uma prestigiosa Universidade. «Nela ensinava-se, sem os limites em vigor noutros lugares, o pensamento do filósofo grego Aristóteles, no qual o jovem Tomás foi introduzido, e de quem intuiu imediatamente o seu grande valor. Mas sobretudo, nesses anos transcorridos em Nápoles, nasceu a sua vocação dominicana», referiu o Santo Padre.

Entre 1240 e 1243, São Tomás recebeu o hábito da Ordem de São Domingos, atraído e dirigido por frei João de São Julião, um conhecido pregador do convento de Nápoles, sublinhou frei Kennedy.

Bento XVI lembrou que quando Tomás vestiu o hábito dominicano a sua família opôs-se a esta escolha, tendo sido obrigado a deixar o convento e a viver algum tempo com a família; mas volvidos poucos anos, em 1245, já maior de idade, pôde retomar o seu caminho de resposta ao chamamento de Deus.

Durante a vida religiosa foi enviado para Paris, cidade onde estudou Teologia sob os cuidados de outro santo, Alberto Magno. Numa das suas catequeses, Bento XVI contou que «Alberto e Tomás estreitaram uma amizade verdadeira e profunda, e aprenderam a estimar-se e a respeitar-se um ao outro, a tal ponto que Alberto quis que o seu discípulo o seguisse também até Colónia, onde fôra convidado pelos Superiores da Ordem para fundar uma Casa de estudos teológicos. Então, Tomás entrou em contacto com todas as obras de Aristóteles e dos seus comentadores árabes, que Alberto ilustrava e explicava».

Na mesma ocasião, apontou que se tratava de escritos sobre a natureza do conhecimento, as ciências naturais, a metafísica, a alma e a ética, ricos de informações e de intuições que pareciam válidas e convincentes. Era toda uma visão completa do mundo, desenvolvida sem e antes de Cristo, apenas com a mera razão, e parecia impor-se à razão como “a” própria visão. Por conseguinte, o Papa acentuou que ver e conhecer esta filosofia era para os jovens um fascínio incrível: «Muitos acolheram com entusiasmo, aliás, com entusiasmo acrítico, esta enorme bagagem do saber antigo, que parecia poder renovar vantajosamente a cultura, abrir horizontes totalmente novos. Porém, outros temiam que o pensamento pagão de Aristóteles estivesse em oposição à fé cristã e rejeitavam estudá-lo. Encontraram-se duas culturas: a cultura pré-cristã de Aristóteles, com a sua racionalidade radical, e a cultura clássica cristã».

A OBRA-PRIMA DE TOMÁS:

SUMMA THEOLOGIAE

Quanto à obra-prima de São Tomás de Aquino, a Summa Theologiae(Suma Teológica), o Bento XVI disse que permaneceu incompleta, embora seja, todavia, uma obra monumental: contém 512 questões e dois mil 669 artigos. «Trata-se de um raciocínio cerrado, em que a aplicação da inteligência humana aos mistérios da fé procede com clareza e profundidade, enlaçando perguntas e respostas, nas quais São Tomás aprofunda o ensinamento que deriva da Sagrada Escritura e dos Padres da Igreja, principalmente de Santo Agostinho». Nesta reflexão, o Pontífice assinalou que no encontro com verdadeiras interrogações do seu tempo, que são muitas vezes também as nossas, São Tomás, utilizando inclusivamente o método e o pensamento dos filósofos antigos, particularmente de Aristóteles, chega desta maneira a formulações exactas, lúcidas e pertinentes das verdades de fé: «Onde a verdade é um dom da fé, resplandece e torna-se acessível para nós, para nossa reflexão. No entanto, este esforço da mente humana – recorda o Aquinate, com a sua própria vida – é sempre iluminado pela oração, pela luz que procede do Alto. Só quem vive com Deus e com os mistérios pode compreender também o que eles dizem».

Por outro lado, o Papa acrescentou que São Tomás observa ser impossível viver, sem confiar na experiência dos outros, aonde o conhecimento pessoal não chega. E, assim, é racional ter fé em Deus que se revela e no testemunho dos Apóstolos: eles eram poucos, simples e pobres, amargurados por causa da Crucifixão do seu Mestre; e no entanto muitas pessoas sábias, nobres e ricas converteram-se em pouco tempo à escuta da sua pregação.

Em relação aos sinais místicos patentes na vida de São Tomás de Aquino, frei Kennedy recordou que uma vez em Nápoles, em 1273, depois de concluir o seu tratado sobre a Eucaristia, três irmãos viram-no levitar em êxtase e ouviram uma voz vinda do crucifixo do altar que dizia: “Tu escreveste bem de mim, Tomás, que recompensa desejas tu?”. Tomás respondeu: “Nada além de Vós, Senhor”. De acordo com Frei Kennedy, é comum ler nas biografias de São Tomás que este muitas vezes se abstraía e permanecia em êxtase.

Sobre a devoção à Santa Mãe de Deus, o Papa Bento XVI acentuou que tal como todos os santos, também São Tomás foi um grande devoto de Nossa Senhora: «Ele definiu-a com um apelativo maravilhoso: Triclinium totius Trinitatis, triclínio, ou seja, lugar onde a Trindade encontra o seu descanso porque, em virtude da Encarnação, em nenhuma criatura como nela as três Pessoas divinas habitam e sentem a delícia e a alegria por viver na sua alma cheia de Graça. Pela sua intercessão, nós podemos obter todo o auxílio».

São Tomás de Aquino morreu ainda jovem, a 7 de Março de 1274 no mosteiro de Fossanova; ia a caminho de Lyon, a pedido do Papa Gregório X. Numerosos milagres testemunharam a sua santidade. Foi canonizado por João XXII, a 18 de Julho de 1323. E a 28 de Janeiro de 1567 foi declarado Doutor da Igreja por São Pio V. É patrono das Universidades e das Escolas Católicas.

Por ocasião das celebrações dos seiscentos anos da canonização de São Tomás de Aquino (1923), o Papa Pio XI deixou um apelo a todos os que têm “fome” da verdade: «Vão a Tomás» (Encíclica Studiorum Ducem).

São Tomás de Aquino, rogai por nós!

Miguel Augusto

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