Tomé, um dos Doze, terá estado na China
A diocese de Macau celebra amanhã, sábado, a Festa de São Tomé. A primeira eucaristia dedicada ao apóstolo será celebrada, em Chinês, na igreja de São Domingos, pelas 7:45 horas da manhã. A Igreja no território junta-se assim à Igreja universal, recordando este santo na sua liturgia e o momento que todos têm na memória: a dúvida de Tomé perante a aparição de Jesus ressuscitado. Segundo a tradição, São Tomé esteve na China depois de ter passado pela Índia, onde regressou e viria a sofrer o martírio. Transformado na fé e coragem, é tido como o apóstolo que mais longe foi levar a Boa Nova, em resposta ao apelo do Senhor: «Ide por todo o mundo, proclamai o evangelho a toda a criatura» (Marcos, 16:15).
Tudo leva a crer que as primeiras comunidades cristãs na Índia remontam aos tempos apostólicos. A tradição que desde o Século IV prevalece na literatura eclesiástica, siríaca, grega ou latina, crê que tenha sido Tomé, entre os Doze, o “Apóstolo da Índia”. Outras fontes chegam a mencionar que chegou a estar na China tendo regressado à Índia, onde ali foi martirizado por ter baptizado a filha do Rei, a 3 de Julho, por volta do ano 72 d.C. O enterro dos seus restos mortais teve lugar em Mylapore (Chennai).
Geralmente, quando se fala de São Tomé, começa-se pelo episódio ocorrido após a Ressurreição, por não ter estado presente na aparição de Jesus aos Apóstolos, e por isso não acreditou no que lhe disseram.
Ao meditar sobre esta realidade, o Papa São Gregório Magno afirmou: «A incredulidade de Tomé não foi um acaso, mas prevista nos planos de Deus. O discípulo, que ao duvidar da Ressurreição do Mestre, pôs as mãos nas chagas do mesmo, e curou com isso a ferida da nossa incredulidade».
Deus “serviu-se” dele, pois apesar de ser um homem de fé profunda, a exemplo de cada crente, a fé e o amor pelo Senhor devia ser posto a dura prova. Tomé expôs as suas dúvidas e fez a Jesus as perguntas que brotavam do seu coração; poder-se-á dizer que nele Deus realça as fragilidades humanas, as angústias, o sentir-se pequeno perante o intocável da grandeza de Deus que se fez “pequeno” e nos olhou nos olhos.
Numa catequese sobre este apóstolo, o Papa Bento XVI referiu que o nome Tomé deriva de uma raiz hebraica, “ta’am”, que significa “junto”, “gémeo”. De facto, o Evangelho chama-o várias vezes com o sobrenome de «Dídimo» (João, 11:16; 20:24; 21:2), que em Grego significa precisamente “gémeo”. Não é claro o porquê deste apelativo.
Jesus escolheu-o como um dos Doze Apóstolos, um dos primeiros discípulos a deixar tudo para segui-Lo. Contudo, não sabemos se Tomé seria pescador.
Durante a Última Ceia, quando Cristo anunciou que iria preparar um lugar para todos na Casa do Pai, Tomé ficou empolgado e perguntou-Lhe para aonde ia e qual seria o caminho para lá se chegar. Então, Jesus respondeu: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!» (João, 14:5-6).
A SUA INCREDULIDADE, A NOSSA INCREDULIDADE
Tomé, sendo um de nós, mostra-nos com a sua incredulidade a fragilidade humana perante o intocável. Mesmo aqueles que têm comunhão e proximidade com o Senhor não perdem os traços da sua humanidade, comuns a todos.
Sabemos que os Seus discípulos, menos João, quando Jesus é preso e condenado, ficaram apavorados e procuraram um abrigo seguro onde se esconder. Após a crucificação e morte de Jesus, a comunidade dos Apóstolos estava confusa e abalada pela Sua morte e pelas violências que padeceu; certamente com o coração ferido e apertado por não terem estado ao lado do Divino Mestre, quando Ele mais precisou de cada um. Desta forma, ao ressuscitar, Jesus apareceu imediatamente aos seus discípulos para tranquilizá-los. Tomé não estava lá, naquele momento e, por isso, não acreditou no que diziam. Talvez por tristeza ou por sentir-se “excluído” da aparição do Senhor, quis ele também tocar as feridas dos cravos nas mãos e no peito do seu Amado. Por isso, Jesus satisfê-lo ao voltar oito dias depois.
São João Evangelista narra no seu Evangelho os dois momentos que são marcantes na vida de São Tomé e que são memória viva em cada cristão. São João conta: «Ora, Tomé, um dos Doze, o chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Diziam-lhe, então, os outros discípulos: “Vimos o Senhor!”. Mas ele disse-lhes: “Se não vir nas suas mãos o lugar dos pregos, não meter o meu dedo no lugar dos pregos e não meter a minha mão no seu lado, jamais acreditarei”. Oito dias depois, estavam de novo os seus discípulos dentro e Tomé com eles. Estando fechadas as portas, veio Jesus e, de pé, no meio, disse: “A paz esteja convosco!”. Depois disse a Tomé: “Traz aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; traz a tua mão e mete-a no meu lado. E não te tornes incrédulo, mas crente”. Respondeu Tomé e disse-lhe: “Meu Senhor e meu Deus!”. Disse-lhe Jesus: “Porque me viste, acreditaste! Felizes os que não viram e acreditaram!”» (João, 20: 24-29).
Durante uma homilia proferida em Ernakulum, a 17 de Novembro de 2002, por ocasião do aniversário da chegada de São Tomé à Índia, o cardeal D. Crescenzio Sepe, sublinhou: «São Tomé era um homem impulsivo, desejoso de aproximar-se dos outros, que não tinha medo de levantar interrogações e de procurar esclarecimentos, quando era necessário. Teve de lutar com a sua própria resistência e as suas dúvidas, relativas aos acontecimentos extraordinários da morte e da ressurreição de Jesus Cristo em Jerusalém. Ele foi aquele que, ao tocar as chagas de Jesus depois da Ressurreição, viu desaparecer todas as suas dúvidas, enquanto a sua fé elevava-se a um novo nível. Simplesmente acreditou, exclamando do íntimo do seu coração: “Meu Senhor e meu Deus!”. No fim, compreendeu toda a importância daquilo que tinha acontecido: Jesus Cristo ressuscitou dos mortos, vencendo desta maneira a dor e a morte, e oferecendo uma esperança renovada a toda a humanidade».
As interrogações de São Tomé são as de cada cristão e Jesus dá as respostas, pois a Palavra é o próprio Cristo que fala a cada um como se fosse o único; pois em cada criatura habita a singularidade do traço do Criador – irrepetível e nutrida no amor de Deus.
São Tomé é venerado pelos católicos, ortodoxos e coptas. Grande parte das suas relíquias descansam na igreja de Ortona, em Itália, a ele dedicada.
São Tomé Apóstolo, rogai por nós!
Miguel Augusto
com Acidigital e Vatican News