MENSAGEM DE NATAL DO BISPO DE MACAU, D. STEPHEN LEE
Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo,
Recentemente, Sua Santidade o Papa Francisco descreveu, na sua Carta Apostólica “Admirabile Signum”, “O SINAL ADMIRÁVEL do Presépio, muito amado pelo povo cristão, não cessa de suscitar maravilha e enlevo. Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. De facto, o Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura” (Admirabile Signum, 1), dizendo ao mesmo tempo: “Deus que Se fez menino para nos dizer quão próximo está de cada ser humano, independentemente da condição em que este se encontre” (Admirabile Signum, 1).
Recorde-se que na Missa do Galo celebrada na Basílica de São Pedro no ano passado, Sua Santidade relacionou a passagem na manjedoura do Menino Jesus com o luxuoso consumismo da vida hodierna, questionando: “Será verdade que preciso de tantas coisas, de receitas complicadas para viver? Quais são os contornos supérfluos de que consigo prescindir para abraçar uma vida mais simples?” (Homilia de Sua Santidade na Missa do Galo do Natal de 2018).
“Dado que o mercado tende a criar um mecanismo consumista compulsivo para vender os seus produtos, as pessoas acabam por ser arrastadas pelo turbilhão das compras e gastos supérfluos” (Laudato Si, 203). Na verdade, se não corrigirmos esta atitude, deixando-nos levar pelo consumismo e pelo materialismo, o homem ficará cada vez mais ambicioso. Temos que compreender que a vida não é só material, sendo que a caridade é que é o pão da vida. “Pois o pão de Deus é aquele que desce do Céu e dá a vida ao mundo” (João 6,33).
O Papa adverte-nos sempre que devemos levar uma vida simples, e não segundo uma cultura de desperdício e extravagância. Como nos pediu o Patriarca Bartolomeu, que “passemos do consumo ao sacrifício, da avidez à generosidade, do desperdício à capacidade de partilha, numa ascese que significa aprender a dar, e não simplesmente renunciar. É um modo de amar, de passar pouco a pouco do que eu quero àquilo de que o mundo de Deus precisa. É a libertação do medo, da avidez, da dependência” (Laudato Si, 9).
Para alterar esta cultura não podemos fazê-lo só a partir de Ciência, mas de nós próprios, senão caímos na cura das folhas e não das raízes. “É a cultura – entendida não só como os monumentos do passado, mas especialmente no seu sentido vivo, dinâmico e participativo – que não se pode excluir na hora de repensar a relação do ser humano com o meio ambiente” (Laudato Si, 143).
Nesta quadra natalícia, a todos vós encorajo que imiteis o Menino Jesus deitado na manjedoura, aproximando-vos com coração simples e caloroso às pessoas próximas à vossa volta. Primeiro, despendamos maior tempo com os nossos familiares e amigos, com alegria, gratidão e cuidado, apreciando essa convivência. Aproveitemos também a oportunidade para nos dedicarmos a tarefas voluntárias, oferecendo a nossos desconhecidos as bênçãos natalícias, prendas e recepções, ou tratando todos os bens com gratidão para celebrar a vinda do Menino Jesus.
Devo lembrar a todos que o valor do espírito de Natal é o mais importante a realçar. Portanto, as prendas, comidas e festas devem corresponder ao carácter simples e caritativo de Cristo, porque “o amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político, manifestando-se em todas as acções que procuram construir um mundo melhor” (Ibidem, 231).
Peço ardentemente que pela intercessão da Família Sagrada na humilde presença na manjedoura, Nosso Senhor Jesus Cristo, na companhia de Nossa Senhora e São José, desça sobre nós com a alegria, paz, bênção e cuidado no ano que está prestes a chegar.
A todos, desejo um Feliz Natal e Bom Ano Novo.
D. Stephen Lee Bun Sang
Bispo de Macau