Macau deve muito à Igreja Católica
Os valores universais que norteiam a Igreja Católica ajudaram a construir a harmonia e a liberdade social que hoje existe em Macau, defende o padre Jojo Ancheril, por ocasião do 440º aniversário da fundação da diocese de Macau. D. Melchior Carneiro, D. Hilário de Santa Rosa e D. José da Costa Nunes são os bispos mais importantes para o investigador César Guillén-Nuñez. No ensino de matriz católica, o realce histórico do padre Peter Stilwell vai para o Colégio de São Paulo e para o Seminário de São José.
O pároco da igreja de São Lourenço, padre Jojo Ancheril, disse a’O CLARIM que Macau deve muito à Igreja Católica, por ter sido fundamental na construção da harmonia e liberdade social que hoje existe no território.
«A Igreja Católica de Macau tem incutido valores relacionados com o amor, a compaixão, a misericórdia, o perdão e o entendimento, o que tem contribuído para construir uma sociedade onde as pessoas vivem em harmonia», frisou o sacerdote, a propósito do 440º aniversário do estabelecimento da diocese de Macau.
Ao enaltecer a liberdade religiosa, sustentou que «Macau é um bom lugar para levar a evangelização a todos os pontos do mundo, porque embora seja um território pequeno, acolhe todos os anos milhões de visitantes provenientes de várias partes do globo, ficando muitos deles a conhecer o espírito evangelizador aqui existente, que pode ser levado com eles para os lugares de onde são originários».
Pelo mesmo diapasão afinou o investigador-associado do Instituto Ricci de Macau (IRM) César Guillén-Nuñez, ao referir que «a Diocese continua a ser muito importante para a Igreja Católica na região, não só do ponto de vista religioso, como também da História».
«O mais significativo para mim é saber o que era Macau, e a vasta jurisdição que cabia à sua diocese quando foi primeiramente declarada Bispado pelo Papa Gregório XIII», assinalou Guillén-Nuñez, acrescentando que «a dimensão foi gradualmente reduzida com o passar tempo, até se circunscrever ao actual território de Macau».
Ao lembrar que «a diocese de Macau teve importantes personalidades históricas, que de certa forma também foram para a China Continental, para o Japão e para o Vietname», o secretário da Assembleia Geral do IRM destacou, «entre alguns dos melhores bispos que Macau teve», o nome de «D. Melchior Miguel Carneiro Leitão [governador do Bispado de Macau e administrador apostólico das missões católicas da China e do Japão]», sem esquecer «o bispo D. Hilário de Santa Rosa, que chegou a Macau em 1742».
«Mais recentemente, posso apontar o nome de D. José da Costa Nunes, que foi nomeado bispo de Macau em 1920, e sobre quem foi publicado, no ano passado, um livro [“Nascido para Vencer: D. José da Costa Nunes, Bispo de Macau, Patriarca das Índias, Cardeal (1880-1976”, de Maria Guiomar Lima]».
«Quem estiver interessado na História da diocese de Macau, a fonte mais importante são os escritos do monsenhor Manuel Teixeira, sendo o principal trabalho a série de volumes dedicados à diocese de Macau, os quais são considerados por muitos académicos como a sua “magnus opus” (grande obra)», concluiu Guillén-Nuñez, também historiador da Arte de Portugal, Espanha e América Latina.
Ensino
O reitor da Universidade de São José, padre Peter Stilwell, realçou o trabalho desenvolvido no ensino local pela Igreja Católica ao longo dos séculos: «A Diocese e as congregações religiosas desempenham um papel preponderante no actual Ensino Não Terciário, mas a sua presença no Ensino Superior está limitada à Universidade de São José. Curiosamente, isto inverte a tradição local. O ensino promovido pela Igreja terá começado, segundo percebo, pela formação dos missionários».
Nesse sentido, «o Colégio de São Paulo é ainda hoje uma referência emblemática, seguindo-se-lhe o Seminário de São José onde, no século XX, a formação se estendeu à sociedade civil», porém, a julgar pelas «recentes celebrações nas escolas mais antigas», apontou que «o Ensino Não Superior organizado pela Igreja terá surgido no território só há uns cem anos».
A questão, no entanto, deve ser vista à luz da história do ensino em Portugal: «Imagino que a desarticulação das escolas religiosas, primeiro pelo Marquês [de Pombal], depois pelo Liberalismo e mais tarde pela República, bem como a reduzida extensão da rede pública que as substituiu – pelo menos, até à segunda metade do século XX – terá tido repercussão no ensino em Macau».
Relativamente a actividades futuras, o padre Stilwell anunciou a’O CLARIM, em primeira mão, que «a Universidade de São José está em vias de organizar uma releitura dos 440 anos da diocese de Macau – a mais antiga da Ásia Oriental», devendo «o arranque do projecto ocorrer, possivelmente, por ocasião da abertura do novo “campus”» daquela instituição de Ensino Superior.
Revelação de D. José Lai
D. José Lai revelou a’O CLARIM, pouco antes de resignar ao cargo de bispo de Macau, que a partir do corrente ano a Diocese vai passar a comemorar anualmente o aniversário da sua fundação. «Antes não havia esta tradição [de assinalar a efeméride]. Venho agora instalar esta comemoração, sobretudo porque já temos os textos da missa em Português, Inglês e Chinês», referiu D. José Lai, numa das últimas iniciativas à frente da Igreja Católica local.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
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