Sem solenidade, mas com fé
Pelo segundo ano consecutivo, a festa de Nossa Senhora das Candeias foi assinalada sem a solenidade habitual. A pandemia voltou a trocar as voltas aos naturais de Goa, Damão e Diu, que ainda assim se juntaram para participar em missa celebrada na igreja de São Domingos, ao início da noite da última terça-feira.
A comunidade dos naturais de Goa, Damão e Diu radicados em Macau reuniu na passada terça-feira com o objectivo de assinalar, ainda que de forma informal, a festa de Nossa Senhora das Candeias.
A evocação da padroeira de Damão era, até há um ano, uma tradição enraizada no seio da pequena comunidade proveniente da antiga Índia Portuguesa, que começou a celebrar a data no final dos anos 80 com Missa Solene, primeiro na igreja de Santo António e depois na igreja de São Lourenço.
Em Fevereiro do ano passado a propagação do novo coronavírus trocou as voltas aos organizadores da iniciativa, depois das autoridades locais terem detectado as primeiras infecções por Covid-19. Ao longo do último ano, e graças às restrições adoptadas pelo Governo, Macau manteve-se praticamente à margem de uma pandemia que já matou mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo. Em doze meses, o território registou apenas 47 casos e nenhum foco de transmissão local, mas os organizadores da festa de Nossa Senhora das Candeias preferiram jogar pelo seguro e por promover uma vivência mais íntima na devoção à padroeira da antiga possessão portuguesa no Golfo de Cambaia. «Este ano, continuamos a não fazer a festa nos moldes que eram habituais. Vamos convidar a comunidade a participar na celebração eucarística normal: não faremos Missa Solene, nem peregrinação. E também não faremos o habitual jantar convívio», explicou Elias Colaço em declarações a’O CLARIM.
Apesar de todas as limitações, os responsáveis pela dinamização da festa de Nossa Senhora das Candeias apelaram à comunidade para que participasse na missa de terça-feira.
«Temos pena de não podermos fazer como desejaríamos, mas temos a esperança de que o futuro nos pode trazer melhores dias», desabafou Elias Colaço.
A celebração da festa de Nossa Senhora das Candeias, denominação que suscita uma grande devoção em todo o mundo lusófono, evoca uma página há muito esquecida da história da Expansão Portuguesa no Oceano Índico: a tomada de Damão.
A 2 de Fevereiro de 1559, D. Constantino de Bragança tomou a cidade, à época uma florescente praça financeira a meio caminho entre Goa e as chamadas províncias do Norte. Uma das primeiras decisões tomadas pelo 7.º Vice-Rei da Índia após a reconquista foi a de ordenar a celebração de uma missa campal em pleno centro da cidade. A tradição, que ainda é cumprida quase cinco séculos depois, ganhou um novo fôlego nos últimos anos, acabando por enraizar-se também em Macau.
Marco Carvalho