Fragmento do madeiro está exposto na Sé Catedral
A Igreja Católica celebra a 14 de Setembro a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Esta tradição tem origem nos primórdios da Cristandade, pois a morte do Senhor sobre a Cruz é o ponto culminante da Redenção da Humanidade. Em Macau, uma relíquia da Santa Cruz pode ser contemplada na igreja da Sé Catedral. Encontra-se no altar lateral onde o coro da igreja se posiciona durante as celebrações eucarísticas, isto é, quem entra, no lado direito da igreja, antes de se ter o encontro com a imagem de Nossa Senhora e os pastorinhos, Jacinta e Francisco Marto.
A 13 de Setembro de 335 foram consagradas, em Jerusalém, duas igrejas: a da Ressurreição e a do Martírio. No dia seguinte, em cerimónia solene, deu-se a ostensão da Cruz, que a imperatriz Helena havia encontrado, a 14 de Setembro de 320. Foi explicado ao povo o significado profundo da Igreja, mostrando-lhe o que restava da Cruz do Salvador.
Em 614, Cosroes II, rei dos persas, travou uma guerra contra os romanos e, depois de derrotar Jerusalém, levou consigo, entre os diversos tesouros, a Cruz de Jesus. Heráclio, imperador romano de Bizâncio, propôs um pacto de paz com Cosroes, que não o aceitou. Diante da sua negação, entrou em guerra com ele e venceu-o, perto de Nínive, tendo exigido a restituição da Cruz, que a levou de volta para Jerusalém.
Neste dia da Exaltação da Santa Cruz não se glorifica a crueldade da Cruz, mas o Amor que Deus manifestou aos homens ao aceitar morrer na Cruz para a Salvação da Humanidade.
Jesus disse a Nicodemos: «Ninguém subiu ao céu, senão aquele que do céu desceu: o Filho do Homem. E, tal como Moisés elevou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja elevado, para que todo aquele que acredita tenha nele a vida eterna. De tal modo amou Deus o mundo que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que acredita nele não pereça, mas tenha vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele» (João, 3:13-17).
Não podemos permanecer indiferentes diante da Cruz de Jesus. D. Eurico dos Santos Veloso (arcebispo emérito de Juiz de Fora), num artigo publicado no “site” Vatican News, escreve: “A Festa da Exaltação da Santa Cruz, fonte da santidade e símbolo da libertação, através da morte de Jesus na cruz revela a vitória da Vida sobre o pecado. (…) Vivenciar a Paixão que nos libertou das nossas paixões é exaltar a Cruz que condenou e esmagou o pecado (…); é recordar dos cravos encravados nas mãos d’Aquele que apagou o castigo do mal em cada um de nós”. D. Eurico remete-nos às Escrituras, com uma reflexão: afinal, todo aquele que olha a Cruz encontra Jesus Cristo, que “tinha a natureza de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus. Pelo contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos. E, vivendo a vida comum de um ser humano, ele foi humilde e obedeceu a Deus até à morte” (Filipenses, 2:6-8).
São Paulo falou do Mistério da Cruz, na insondável sabedoria de Deus: «Mas nós anunciamos o Cristo crucificado – uma mensagem que para os judeus é ofensa e para os não judeus é loucura. Mas para aqueles que Deus tem chamado, tanto judeus como não judeus, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus. Pois aquilo que parece ser a loucura de Deus é mais sábio do que a sabedoria humana, e aquilo que parece ser a fraqueza de Deus é mais forte do que a força humana» (I Coríntios, 1:23-25).
O Catecismo da Igreja Católica ensina que “toda a vida de Cristo é mistério de redenção. A redenção vem-nos, antes de mais, pelo sangue da cruz” (CIC nº 517). “É pela cruz de Cristo que o Reino de Deus vai ser definitivamente estabelecido: ‘Regnavit a ligno Deus – Deus reinou desde o madeiro’” (CIC nº 550).
A SABEDORIA DA CRUZ NA VIDA DOS SANTOS
Todos os santos meditavam e contemplavam a Cruz de Cristo, assim como o faz todo o cristão que batalha por uma maior intimidade com Deus na Pessoa do Filho. Tal como o apóstolo Paulo, São Padre Pio de Pietrelcina colocou, no vértice da sua vida e do seu apostolado, a Cruz do seu Senhor como a sua força, sabedoria e glória. Abrasado de amor por Jesus Cristo, com Ele se configurou, imolando-se pela salvação do mundo. Foi tão generoso e perfeito no seguimento da imitação de Cristo Crucificado, que poderia ter dito: «Estou crucificado com Cristo; já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gálatas, 2:19).
Santo António, Doutor do Evangelho, afirmava: «Porque Adão no paraíso não quis servir o Senhor, por isso o Senhor assumiu a forma de servo para servir o servo, a fim de que o servo já não se envergonhasse de servir o Senhor».
Por sua vez, São João da Cruz referia que o que mais nos faz sofrer é o medo que temos da Cruz. E segundo Santa Teresa, ao abraçamos a nossa cruz com coragem e vontade, ela torna-se leve.
Já São Paulo exultava-nos a darmos louvor e glória a Jesus crucificado: «Quanto a mim, Deus me livre de me gloriar a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo» (Gálatas, 6:14).
São Bento, outro exemplo de fé, exortava os monges a «ouvirem com o coração» e a «jamais perderem a esperança na misericórdia de Deus». Dele é esta oração: “A Cruz Sagrada seja a minha luz, não seja o dragão o meu guia. Retira-te satanás, nunca me aconselhes coisas vãs. É mau o que tu me ofereces. Bebe tu mesmo o teu veneno”.
Por último, Santa Rosa de Lima enaltece a Cruz do Senhor com uma alegoria, como ponte de passagem para a eternidade do Céu: «Há uma só escada verdadeira fora do paraíso; fora da cruz, não há outra escada por onde se suba ao céu».
No dia seguinte à Festa da Exaltação da Santa Cruz, a 15 de Setembro, celebra-se a devoção a Nossa Senhora das Dores, a qual remonta ao início do segundo milénio, época em que se desenvolveu a compaixão para com Maria junto à cruz de Jesus, lugar onde a Virgem vive e sente os sofrimentos do seu Filho.
Miguel Augusto
com Vatican News e “A Santa Sé”