Mudam-se os tempos, mudam-se os meios.
«O objectivo da missionação não mudou do século XVI para o século XX, pois trata-se de criar cristãos, que sejam católicos. Agora, quanto aos meios utilizados, o caminho, há obviamente diferenças», disse a’O CLARIM Hugo Gonçalves Dores, à margem da palestra sobre os “Limites Historiográficos e os Desafios de Estudar as Missões Cristãs nos Tempos Imperiais (séculos XIX e XX)”.
«Já não se junta um conjunto de população, e se baptiza, e é toda católica, como acontecia nos séculos XVI e XVII. A missionação passou por um processo de endoutrinação.
Por exemplo, no caso das missões protestantes, uma parte significativa dos seus chefes eram médicos ou professores. No século XIX deu-se grande importância à higienização e ao comportamento moral», referiu, na passada quarta-feira, pouco antes do evento realizado na biblioteca da Universidade de São José.
Para o académico, a missionação das potências europeias no século XIX é «parte do que era entendido pelos poderes coloniais como essencial para a defesa de um determinado conjunto de ideias», naquilo que os «franceses sintetizaram na ideia da missão civilizadora».
Durante a palestra, Hugo Gonçalves Dores falou sobre o livro da sua autoria, “A Missão da República: Política, Religião e o Império Colonial Português (1910-1926)”: «É parte da minha tese de doutoramento sobre a política missionária do final do século XIX até todo o período da Primeira República [portuguesa]», assinalou.
«O estudo foi centrado em África. Como a questão era relativa à política missionária, tentei perceber como é que a evolução da expansão colonial se associava à própria expansão da política missionária», salientou, em relação à sua tese de doutoramento.
«Foi um trabalho extremamente interessante. O processo foi longo, como são os processos de doutoramento, mas contínuo, no qual aprendi imensas coisas interessantes. Acima de tudo, foi perceber que a missão religiosa é muito mais do que a simples transmissão de um conjunto de valores, porque mesmo essa transmissão e conjunto de valores foi mudando ao longo do tempo», concluiu.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA