DIA DO PAI: MACAU SEGUE TRADIÇÃO DE PAÍSES ANGLO-SAXÓNICOS

DIA DO PAI: MACAU SEGUE TRADIÇÃO DE PAÍSES ANGLO-SAXÓNICOS

No passado Domingo, muitas famílias em Macau interrogaram-se sobre a razão de se assinalar o Dia do Pai a 21 de Junho. A explicação é simples: a data varia consoante os países. Por exemplo, em Portugal recai sempre no dia 19 de Março, Dia de São José, pai de Jesus e esposo de Maria; no Brasil, o Dia do Pai é assinalado no segundo Domingo de Agosto; e nos Estados Unidos e Inglaterra, no terceiro Domingo de Junho, tal como acontece em Macau. No âmbito desta data, O CLARIM reproduz um artigo da autoria do monsenhor Feytor Pinto, sacerdote da paróquia do Campo Grande, em Lisboa, publicado na revista Família Cristã, na edição de Março deste ano.

Porque é que os Evangelhos falam tão pouco de São José?

Na tradição da Igreja, costuma chamar-se a São José o “Santo do silêncio”. A razão é simples: é que nos quatro Evangelhos não se encontra qualquer referência ao que José tenha dito a propósito de Jesus, de quem ele aceitou ser protector. O esposo de Maria, como é citado, acompanhou toda a vida de Jesus, desde a sua concepção, que aliás o surpreendeu, até à vida de Nazaré como responsável da Sagrada Família.

O Ser Humano é um ser 
social, enquanto tal vive 
para comunicar com os outros. A conversação, porém, não se faz só pelas palavras, pode fazer-se também pelo olhar, pelos gestos, pelas atitudes. Foi esta a maneira de José comunicar. Conversou com Deus através do Anjo Gabriel, que o tranquilizou quando Maria concebeu, que o avisou para proteger Maria e Jesus ao fugirem para o Egipto e, depois, o ajudou no regresso a Nazaré, com uma vida de trabalho, capaz de ser o sustento da família.

A vida de José não foi fácil. Na tradição judaica, uma jovem donzela não escolhia o seu noivo. Era o pai que procurava um 
rapaz com suficiente capacidade para sustentar a família. Uma vez 
confirmada esta escolha, 
o jovem casal celebrava os
 esponsais. Não vivia, porém, em comum. A jovem 
voltava para casa dos pais 
e o noivo deveria durante um ou dois anos construir
 a casa e garantir a vida da
 família. Foi nesta altura
 que José se apercebeu de 
que Maria ia ter um filho. 
Pensou abandoná-la para
 não a difamar. Foi então que o Anjo, em sonhos, lhe disse que o filho que ela concebeu era, pela força do Espírito Santo, o Filho de Deus, o Emanuel. Teria o nome de Jesus, que quer dizer “O que vem salvar”. Depois disto, José aceitou Maria como sua esposa e acompanhou-a ao longo de toda a vida. Em Belém viu Jesus nascer na pobreza de uma gruta; no Egipto,
 na condição de emigrante, salvou Jesus das iras
 de Herodes; em Nazaré garantiu, na simplicidade,
 o ambiente de ternura e de
 paz, indispensáveis para
 o crescimento de Jesus. 
Na família de Nazaré, 
José foi o protector de Jesus 
criança, adolescente e jovem. Esta missão não precisava de muitas palavras.

José garantia também o sustento deles como carpinteiro. Foi um mestre e ensinou mesmo o filho a ser carpinteiro também. Para isto não precisava de muitas palavras. Vivia o seu ofício, cujo rendimento lhe garantia a vida económica da família.

José cumpriu as regras judaicas, indo anualmente a Jerusalém. Quando adolescente, Jesus ficou a conversar com os doutores da lei. Cumpria-se uma tradição na educação de um jovem: até aos seis anos aprendiam as letras; dos seis aos doze anos aprendiam a juntá-las formando palavras; depois dos doze, no templo ou na sinagoga, perguntavam o que queriam dizer aquelas palavras a partir do conhe
cimento das Escrituras. Neste contexto cultural, foi com naturalidade que não vendo Jesus na caravana de regresso a Nazaré, foram procurá-l’O no templo, onde O encontraram a aprender a mensagem de Deus nas Escrituras.

A vida da família em Nazaré era uma vida normal. No Evangelho não se conta a vida de Jesus em Nazaré. Talvez por isso se não conheça o que Maria e José tenham dito a propósito do seu filho Jesus. Naquela casa não se vivia em silêncio, mas a linguagem dos afectos suplantava todas as palavras que poderiam ser ditas.

Antes da vida pública de Jesus, José foi para Ele uma presença constante: não tem palavras inúteis; pelo exemplo afirmou a luz de Deus; numa companhia activa, estando na sombra, o amor que deu a Maria e a Jesus proporcionou a respiração de Deus naquela casa de Nazaré; depois de uma vida de trabalho, no silêncio, adormeceu em paz.

No mundo actual que tem tantos ruídos – o barulho da rádio e da televisão, a violência das palavras e dos gestos, o império da comunicação digital e de tantas outras coisas –, o silêncio de José pode constituir um desafio para: não se dizerem palavras vãs; se medir tudo aquilo que se diz; evitar as palavras e os gestos que ofendem e descobrir a beleza do silêncio.

Quando actualmente se tem tanta dificuldade em contemplar, o silencio de José é um apelo à oração contemplativa na relação com Deus e na relação com a natureza que em silêncio fala do Criador.

Monsenhor Feytor Pinto

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