Casa de Portugal estreia exposição de presépios
As instalações do Restaurante Lusitanus, na Praça do Tap Seac, recebem até 6 de Janeiro uma exposição colectiva de presépios, a primeiro do género dinamizada pela Casa de Portugal em Macau. A mostra reúne cerca de vinte peças, feitas com diferentes materiais por colaboradores e alunos da Escola de Artes e Ofícios da CPM.
Diferentes feitios, diferentes materiais, mas um motivo comum: a humilde manjedoura onde o Filho de Deus feito homem se revelou à Humanidade. A Casa de Vidro, na Praça do Tap Seac, acolhe até ao Dia de Reis uma exposição colectiva de presépios. A iniciativa, promovida pela primeira vez pela Casa de Portugal em Macau, reúne cerca de duas dezenas de peças, da autoria de colaboradores e alunos da Escola de Artes e Ofícios tutelada pela organização liderada por Amélia António. A única excepção é um presépio de mesa tradicional, adquirido em Portugal e exposto com o propósito de familiarizar os visitantes com uma das mais antigas e mais disseminadas tradições de Natal portuguesas.
«Quando era miúda, não havia casa que não tivesse um presépio. A árvore de Natal podia falhar, mas o presépio não falhava. Era uma tradição. Esta exposição é uma iniciativa que já tínhamos equacionado fazer noutros anos, mas nunca se proporcionou porque no fim do ano há sempre muitos projectos para fechar», disse Amélia António, em declarações a’O CLARIM. «Este ano, ponderámos esta iniciativa com um bocadinho mais de antecedência e lançámos o repto às pessoas que frequentam as aulas de cerâmica, mas também as que estão ligadas a diferentes áreas artísticas e artesanais da Casa de Portugal. Dada essa antecedência, foi possível avançar este ano com a exposição», acrescentou a presidente da agremiação.
A primeira edição da “Exposição Colectiva de Presépios” agrega peças da autoria de artistas e criadores como Elisa Vilaça, Olinda Colaço, Rui Calado, Sally Wong, Josefina Bañares, Svatlania Cesar ou Susana Tou. As obras foram trabalhadas em matérias-primas tão diversas como barro, lã, feltro e vários outros tipos de materiais.
«São cerca de duas dezenas de peças, muito variadas. Há algumas que têm por base o recurso a materiais reciclados, algo que é muito importante. As pessoas visitam a exposição, vêem as peças, todas muito bonitas, e nem lhes passa pela cabeça que algumas coisas são o resultado de um processo de aproveitamento», explicou Amélia António. «Temos áreas muito diferentes. Creio que seria interessante que esta mostra fosse o início de um ciclo e um incentivo para que nos próximos anos as pessoas pensassem e criassem as suas peças com mais antecedência, até para podermos ter, eventualmente, peças mais variadas. Este ano temos peças de cerâmica, pintura de porcelana, tecido, lãs e crochet. Temos uma peça em que foi usada a técnica de ‘decoupage’ sobre as figuras de barro. Já há aqui uma variedade razoável de materiais e de formas de expressão diferentes».
TRADIÇÕES NATALÍCIAS
Inaugurada a 5 de Dezembro, a exposição permanece aberta ao público até 6 de Janeiro, dia em que, tradicionalmente, os presépios e as decorações natalícias são desfeitos em Portugal. Com a mostra, a associação abre um novo capítulo na forma como assinala o Natal. A quadra é celebrada desde que foi fundada, em 2001, com um jantar festivo, aberto à comunidade. A iniciativa, que este ano atraiu cerca de quatrocentas pessoas, já adquiriu foros de tradição, sustentou Amélia António. «Ainda no jantar, no fim-de-semana passado, tive a oportunidade de lembrar que logo no primeiro ano que a associação se constituiu, uma das primeiras iniciativas de monta que foi promovida foi o jantar de Natal. Os dois primeiros jantares de Natal foram feitos no World Trade Center. A Casa não tinha grandes meios e o que ficou decidido foi que cada pessoa levava alguma coisa, feita em sua casa. Formava-se uma mesa grande, onde se colocavam as coisas que as pessoas levavam. Nesses dois anos houve associados que, a título de voluntariado, fizeram espectáculos para os miúdos», recordou. «Logo de início, a festa de Natal teve essa marca de ser muito dedicada às crianças. E foi uma marca que se manteve ao longo destes 22 anos: procurámos fazer com que a festa de Natal, para além de ser uma oportunidade para o convívio, para reunir a família e os amigos, algo absolutamente informal, pudesse também ser um evento centrado nas crianças e na afectividade que transmitem. Eu, pessoalmente, tenho muito orgulho nisso», admitiu.
O reforço das actividades para os mais novos, por um lado, e para os mais velhos, por outro, são dois dos desígnios que a Casa de Portugal gostaria de ver cumpridos, mas a falta de espaços e de condições logísticas nem sempre permite que se leve os planos a bom porto. Das actividades organizadas, as orientadas para as crianças estão entre as mais procuradas. Já as iniciativas para os mais velhos nem sempre chegam ao conhecimento do público a que se destinam. «Nós temos sempre uma grande preocupação em organizar coisas para crianças, mas lutamos sempre com uma dificuldade: encontrar sítio para as fazer. Não podemos colocar as crianças a fazer coisas num sítio qualquer. Há questões de segurança e de organização que é preciso ter em conta e isso faz com que andemos sempre a tentar arranjar espaços emprestados para poder fazer qualquer coisa e nem sempre é fácil», sublinhou Amélia António. «Há outro sector que pensamos que é mal aproveitado: a ocupação de pessoas que, habitualmente, chamamos de terceira idade, mas que em muitos casos estão longe de ser terceira idade. Há muitas pessoas que se reformam muito cedo em Macau e, muitas vezes, envelhecem mais depressa porque não estão ocupadas. Não têm coisas que façam com paixão, com entusiasmo, com dedicação», defendeu a advogada de profissão.
A Casa de Portugal viu, no início desta semana, o Fundo de Fomento de Cultura aprovar cinco dos oito projectos que a instituição de matriz portuguesa candidatou à obtenção de financiamento público. A luz verde das autoridades do território não é, ainda assim, suficiente para garantir que as propostas se materializem. «Tivemos na terça-feira a resposta do Fundo de Fomento de Cultura. De oito propostas que apresentámos, cinco foram aprovadas, mas os montantes sofreram um corte bastante significativo e, portanto, há algumas coisas que têm que ser muito bem pensadas. Com os montantes que foram aprovados, algumas delas, eventualmente, podem ser muito difíceis de realizar», lamentou a dirigente.
Marco Carvalho