«Há poucos lugares no mundo onde os media seculares respeitam o que a Igreja tem a dizer».
Completámos na passada terça-feira, 1 de Maio, setenta anos de existência. Somos a publicação em língua portuguesa há mais tempo a circular em Macau. Para assinalar a efeméride, não resistimos e – em casa própria – entrevistámos o padre José Mario Mandía, o nosso director. Falou da transformação ao nível de conteúdos e imagem desde que assumiu o cargo há quatro anos, dos desafios para o futuro e da importância dos media católicos no mundo.
O CLARIM – É director d’O CLARIM há quatro anos. Que balanço faz até ao momento?
PE. JOSÉ MARIO MANDÍA – Tenho muito que agradecer. Em primeiro lugar, estou muito grato ao Senhor por me dar esta oportunidade de ser um instrumento de evangelização. Depois, tenho que agradecer ao bispo-emérito de Macau, D. José Lai, pela confiança em mim depositada e por definir, em termos muito simples, qual era a nossa missão. Ou seja, informação e formação. É neste sentido que vai o nosso esforço. Tenho a certeza que há ainda muito a melhorar. A gratidão é extensível ao bispo D. Stephen Lee, que deu novo vigor à Diocese e continua a dar-nos conta de muitas actividades que são notícia. Significa isto mais trabalho, o que é bom. Também recebemos várias contribuições através da Comissão Diocesana os Meios de Comunicação Social. Sou ainda muito grato a muitas irmãs religiosas e muitos irmãos padres que continuam a incentivar-nos, que reagem ao que divulgamos e até contribuem com alguns artigos de interesse. A maior parte manifestou o seu apreço pelos artigos que publicamos sobre a fé, a filosofia e a teologia.
CL – E que mais o satisfaz?
P.J.M.M. – A abordagem na rua por algum leitor que comenta um ou outro artigo. A reacção pode ser positiva ou negativa. Ambas são úteis para determinar que tipo de artigos devem ser publicados. Não devemos esquecer o apoio financeiro que recebemos do Governo de Macau para tornar o nosso trabalho possível. Estamos muito gratos. Além disso, é preciso agradecer aos media de Macau. Julgo que há muito poucos lugares no mundo onde os media seculares não são hostis, mas sim amigáveis, respeitadores e receptivos ao que a Igreja tem a dizer. A este respeito, julgo que há ainda algum caminho a percorrer para nos aproximarmos dos media em língua chinesa. Por fim, convém não esquecer os artigos que recebemos dos fiéis, das diferentes paróquias e das escolas católicas, assim como do grande trabalho efectuado pela nossa equipa. Os nossos conteúdos tornam-se mais ricos à medida que mais e mais pessoas participam no trabalho de divulgação do Evangelho.
CL – Para si, o que mudou no semanário durante estes quatro anos?
P.J.M.M. – As mudanças mais óbvias dizem respeito à introdução dos suplementos em Inglês e Chinês. Tal aconteceu para responder ao desejo do bispo Lai de nos aproximarmos da comunidade inglesa, que conta agora com cerca de 25 mil pessoas. Quanto ao suplemento em Chinês, a fusão do Aurora com O CLARIM garantiu que déssemos continuidade ao que vinham a fazer. Ou seja, noticiar. Aprimorámos tudo isso com notícias sobre a Igreja no estrangeiro e com artigos de conteúdo formativo. Já sobre a edição em Português, estamos a trabalhar para estabelecer uma ligação perfeita com os suplementos em Inglês e Chinês para que as diferentes comunidades linguísticas fiquem informadas umas das outras. Neste sentido, estamos a tentar introduzir uma plataforma voltada para o encontro de culturas. Temos ainda muito caminho a percorrer, pois existem outras comunidades católicas em Macau, como é o caso do Vietname, da Coreia e do Myanmar.
CL – Que importância atribui às redes sociais?
P.J.M.M. – Começámos também a ficar mais activos nas redes sociais, por meio das quais somos capazes de chegar a um público mais alargado, especialmente do exterior. As redes sociais permite-nos a difusão de notícias e de informações actualizadas diariamente, incluindo “feeds” ao vivo, o que nos possibilita partilhar conteúdos de outras fontes. É uma forma de termos reacções rápidas dos nossos leitores e de respondermos às suas dúvidas. São instrumentos de interacção. É uma área na qual esperamos continuar a crescer. Estamos também a trabalhar para fortalecer os laços com a Universidade de São José. Há muito trabalho a ser feito nesse sentido.
CL – Qual é o papel d’O CLARIM na sociedade de Macau e na Igreja Católica?
P.J.M.M. – Como publicação católica, precisamos de divulgar a mensagem cristã e servir de ponte entre a Igreja e a sociedade em geral. Falando de uma espécie de lema, escolheria o que diz São Pedro na sua Primeira Carta – se alguém quiser pode chamar-lhe o meu pensamento: “Sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito”.
CL – Como analisa a importância dos media católicos nas sociedades?
P.J.M.M. – Em Outubro de 2013, enquanto falava com os funcionários do Centro Televisivo do Vaticano, o Papa Francisco referiu que «é importante lembrar que a Igreja está presente no mundo das comunicações, em todas as suas formas, sobretudo para levar as pessoas ao encontro com Jesus», acrescentando que «só o encontro com Jesus pode transformar os corações humanos e a história humana». O Papa Bento XVI disse algo semelhante numa audiência privada com a Federação Italiana dos Seminários Católicos, a 26 de Novembro de 2010, ao frisar que os media católicos devem colaborar na missão da Igreja para «criar as condições necessárias para este encontro do ser humano com Cristo». Assim sendo, «os jornais católicos não só cumprem a importante tarefa de transmitir informação, mas também desempenham uma função formativa insubstituível», sendo possível «dar voz a um ponto de vista que respeite o pensamento católico de todos os assuntos éticos e sociais». Bento XVI disse ainda que a nossa missão requer um compromisso pessoal: «Com o intuito de completar a sua importante tarefa, antes de tudo também devemos cultivar um vínculo constante e profundo com Cristo; só uma comunhão profunda com Ele permitirá que os nossos contemporâneos recebam as notícias da Salvação».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
com Jasmin Yiu