Padre Domingos Soares na hora do adeus a Macau

«A Igreja deve actualizar-se»

Poucos dias antes de regressar a Timor-Leste, O CLARIM falou com o padre Domingos Soares, que vai assumir o cargo de vigário-geral da Diocese de Díli. Fazendo “mea culpa” pelo trabalho pastoral desenvolvido com os jovens de Macau, o sacerdote timorense referiu que a Igreja deve actualizar-se no mundo e na RAEM. Descartou a realização de uma visita papal ainda este ano à Oceânia e pouco quis adiantar sobre Xanana Gusmão.

O CLARIMParte sexta-feira [hoje] para Timor-Leste, onde vai assumir o cargo de vigário-geral da Diocese de Díli. Esperava esta nomeação?

PE. DOMINGOS SOARES – Não esperava, porque tinha programado estudar e acabar os meus estudos de doutoramento na Universidade de São José, aqui em Macau. No entanto, fui chamado pelo bispo D. Alberto Ricardo [da Silva]. Tenho que cumprir e estou pronto a servir para tentar florir [a missão] onde estiver colocado.

CLExplique as funções que vai desempenhar?

D.S. – O vigário-geral de um bispo substitui-o em tudo, excepto nos actos próprios de um bispo, como são as ordenações dos sacerdotes. É uma delegação de competências. Espera-me muito trabalho nas áreas pastoral, jurídica e social, entre outras que fazem parte do trabalho da Diocese de Díli, que são ensinar, governar e santificar. Estou com muita esperança, porque isto é um plano de Deus.

CLSendo que a comunidade portuguesa de Macau está mais junto da Igreja e dos movimentos a ela associados e que as Jornadas Mundiais da Juventude foram os acontecimentos que mais representação tiveram dos portugueses a residir no território, vê nos jovens o garante da dinâmica religiosa da comunidade a que pertencem?

D.S. – Não digo mal da globalização, mas podemos dizer que há uma crise de orientação nos jovens. As pessoas da pastoral devem estar para os conduzir e orientar no tempo de hoje, porque os jovens precisam de uma nova pastoral e de serem servidos à sua maneira. Cristo, se estivesse agora aqui, arranjaria uma forma própria para atender a juventude de hoje. Isto é que muitas vezes nós, os pastores, nos quais me incluo, até porque estive por cá mais de seis anos, não tivemos esta atenção específica para atender os jovens. Pelo que se vê pela participação nas missas, os jovens contam-se pelos dedos. Não os culpo, porque só virão quando nós estivermos preocupados com isso. Reconheço a minha parte. Não acuso ninguém!

CLDe que forma avalia a fé católica das comunidades chinesa e filipina?

D.S. – A comunidade filipina traz a fé na vida e participa muito, enquanto a comunidade chinesa vai caminhando e quando se agarra, agarra-se muito. Mas há ainda muito trabalho a fazer, tanto na comunidade chinesa, como na portuguesa e na filipina. A Igreja deve actualizar-se. O programa do Papa Francisco é a reevangelização; procurar novos métodos para poder atender [melhor as pessoas].

CLTambém em Macau?

D.S. – Penso que sim. Em todo o lado! Em todo o lado!

CLOs bispos timorenses convidaram o Papa Francisco a visitar o País. Acredita que tal venha a acontecer ainda este ano?

D.S. – O Santo Padre anda muito preocupado com as periferias, com os povos que precisam, e Timor-Leste tem uma população maioritariamente católica. Somos 97%. Quando os três bispos fizeram a visita “Ad Limina” ao Vaticano, em Março do ano passado, convidaram-no a visitar o País. O Santo Padre mandou fazer contactos para que nesta vista ao Sri Lanka e às Filipinas também fosse a Timor-Leste. Soube depois que da parte do Governo timorense não havia capacidade. Timor-Leste está em conversações para aderir à ASEAN [como Estado-membro] e o tempo não era suficiente para preparar a visita. Não sei se acontecerá até ao final do ano. Talvez numa deslocação que inclua a Indonésia e a Austrália, mas para este ano o Santo Padre já tem a agenda preenchida.

CLVai estar envolvido nas comemorações dos 500 anos da chegada dos portugueses a Timor-Leste?

D.S. – Sim, como vigário-geral. Ainda não sei o teor dos programas comemorativos. A nossa Diocese [de Díli] vai completar no dia 4 de Setembro os seus 77 anos. Portanto, entrará nas Bodas de Diamante. Naturalmente, deverá também associar-se à comemoração dos 500 anos da chegada dos portugueses [em 1515], que também levaram o catolicismo para Timor-Leste.

CLEspera encontrar um país melhor do que deixou quando veio para Macau?

D.S. – Permaneci quase sete anos em Macau e a última vez que estive em Timor-Leste foi em Novembro do ano passado. Noto um certo progresso, embora [o Governo] pudesse dar passos mais concretos em prol do desenvolvimento. O problema das estradas é grande, porque se constrói num ano para ser reconstruído no ano seguinte. O solo também não ajuda. Há um grande problema ao nível das infra-estruturas.

CLQue reacção à notícia da demissão do Primeiro-Ministro Xanana Gusmão?

D.S. – Não tenho praticamente acompanhado as questões políticas em Timor-Leste. Ele foi eleito e é um homem considerado pelo povo. É um líder, mas não sei por que decide retirar-se. Às vezes são retiradas estratégicas. Mas, como disse, não acompanho os assuntos da política. O que nós queremos é que os governantes estejam sempre disponíveis para servir o povo.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *