Manuel Pires, Presidente da Comissão Executiva da TDM

«Nunca conseguimos conteúdos dos PALOP».

A escassez de espaço físico continua a ser a principal dificuldade da Teledifusão de Macau, diz Manuel Pires, para quem as plataformas multimédia são um grande desafio. A’O CLARIM, o presidente da Comissão Executiva da TDM fala da aposta na produção de mais conteúdos extra-informação, lamenta a falta de colaboração das estações públicas dos PALOP e descarta a abertura a curto/médio prazo de um canal exclusivamente em Inglês. No plano desportivo, a Liga Chinesa está fora da grelha de programação, assim como acontece com os jogos do Benfica na Primeira Liga.

O CLARIMÉ presidente da TDM desde 1 de Março de 2014. Que balanço faz do seu mandato?

MANUEL PIRES – Pessoalmente, diria que o balanço é positivo. É um cargo estimulante, com desafios e dificuldades. A TDM, sendo a única estação de televisão e rádio em Macau, sofrerá sempre condicionantes óbvias e naturais, tais como críticas e desgostos no bom sentido, por parte da opinião pública e da sociedade. Penso que o meu mandato tem decorrido dentro da normalidade. Digo isto sem qualquer falsa modéstia. Naturalmente, também faço aqui um elogio ao trabalho dos profissionais da empresa, particularmente da área da informação. De facto, penso que nisso a TDM está muito bem servida.

CLQuais as dificuldades com que se tem deparado?

M.P. – A maior dificuldade de todas é a questão do espaço físico. A TDM está espalhada por seis locais do território. O problema é que estamos com grandes dificuldades de expansão. A tecnologia está em constante evolução e temos que nos adaptar aos novos tempos. Por outro lado, os colegas também não trabalham nas melhores condições. É uma situação, diria, nada salutar.

CLMas a TDM é uma sociedade anónima detida pelo Governo…

M.P. – Não sou pessimista por natureza, mas quando olho não consigo ver uma luz ao fundo do túnel para quando o Governo poderá facultar um espaço à TDM. É daquelas situações que não depende de nós. Já manifestámos esta necessidade ao Governo. A esperança é sempre a última a morrer.

CLQuais os desafios?

M.P. – O maior de todos, neste momento, é o das plataformas multimédia. No Canal Macau e na Rádio Macau talvez não seja tão premente, ou notório, mas sim nos canais chineses. É, digamos, a nova concorrência, obviamente muito poderosa. Será um grande desafio a TDM saber posicionar-se neste novo cenário.

CLEstá algo a ser feito nesse sentido?

M.P. – Algumas soluções já estão a ser implementadas. Há quase um ano que estamos a transmitir os nossos programas de informação de interesse público em teletexto, nos autocarros da TCM e da Nova Era. Estamos a meio da frota. A reacção que nos chega é positiva.

CLHaverá outras alternativas?

M.P. – Estamos a discutir essa possibilidade com a TurboJet, com quem já fizemos algumas experiências. Também não excluímos as negociações com instituições bancárias, nem ao nível de algumas empresas com redes de televisores para a venda de publicidade em certos edifícios e estabelecimentos de restauração. Temos ainda acelerado o desenvolvimento da nossa aplicação para telemóvel. Neste momento todos os programas produzidos pela TDM, ou sobre os quais temos direitos adquiridos, também são transmitidos na aplicação para telemóvel. Por exemplo, o telejornal é transmitido em tempo real para todo o mundo.

CLO Canal Macau está muito vocacionado para a informação. Há a intenção de apostar em novos conteúdos de produção própria extra-informação?

M.P. – Recentemente transmitimos o documentário “A voz de Sales”, produzido por Ana Isabel Dias. Tivemos grande procura. Tanto assim é que vamos transmiti-lo no Club Lusitano, em Hong Kong, e no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa. Há também “As Crónicas de Wu Li”, de James Jacinto e Silvie Lai, em co-produção com a TDM. Neste momento temos em projecto a segunda série de “Ui Di Sabroso”, dedicada à gastronomia macaense. Tivemos uma experiência que não resultou, o “Macau 360º”. Não por falta de vontade nossa, mas por falta de material. Estaríamos à espera de uma maior contribuição das estações públicas dos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], mas não obtivemos a receptividade que imaginávamos. Continuamos a acreditar que seria de interesse, também da parte da TDM, podermos fazer algo relativamente ao Fórum para a Cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Infelizmente não conseguimos.

CLA TDM tem sede em Macau, num local estratégico, por haver comunidades portuguesas e chinesas espalhadas nesta região do globo. Irão apostar na produção de conteúdos próprios, também em Inglês, tendo em vista a comercialização para outras estações de televisão?

M.P. – A parte comercial não é prioritária na estratégia da empresa. Ao longo dos anos a TDM tem apostado na troca de programas com estações da China continental e também com a RTP. Sempre que surgir alguma oportunidade iremos considerar [a vertente comercial]. Em relação aos PALOP, a TDM serve de plataforma entre a CCTV e as televisões públicas dos Países de Língua Portuguesa. A CCTV fornece-nos trabalhos, nós fazemos a legendagem, ou a dobragem, e enviamos depois esses conteúdos para serem exibidos nos PALOP. Este projecto começou há três anos, mas infelizmente só tem acontecido num sentido. Nunca conseguimos conteúdos dos PALOP para a China, porque também seria uma forma de aproveitá-los, sempre enquadrados nos protocolos celebrados, para serem transmitidos em Macau. Seria do nosso interesse para aproveitarmos o papel estratégico de Macau.

CLConsidera a hipótese de abrir um canal exclusivamente em Inglês?

M.P. – Penso que não haverá essa necessidade, mas não excluímos, em termos do Canal Macau, desenvolvermos no futuro novos conteúdos dirigidos para a comunidade expatriada, essencialmente na área do entretenimento cultural. O consumidor das línguas não oficiais terá outras necessidades em termos de conteúdos, que provavelmente não passarão por um canal a tempo inteiro. Na Rádio Macau temos um programa em Bahasa Indonésio, aos Domingos. Não temos em Tagalog porque não conseguimos encontrar um jornalista, ou colaborador, para fazer o programa. No entanto, não excluímos fazê-lo.

CLA Rádio Macau pode ser uma plataforma para a lusofonia?

M.P. – Sim, de forma indirecta. Neste momento há vários programas produzidos pela Rádio Macau que são enviados para a Rádio Internacional da China, a CRI, para serem transmitidos até mesmo em Portugal. Em relação aos PALOP, na rádio passa-se o mesmo do que na televisão.

 

Liga Chinesa fora da grelha (Caixa)

A TDM não vai transmitir os jogos de futebol da Liga Chinesa, época 2016-2017, devido ao elevado custo exigido para a sua transmissão, garantiu a’O CLARIM Manuel Pires, revelando que «estavam a pedir dez vezes mais do que o valor do ano passado, desta vez incluindo a transmissão televisiva e excluindo a página electrónica e a aplicação para telemóvel».

Assegurada está a transmissão de jogos da J1-League (Japão), da Primera Liga (Espanha), da Championship (segunda liga inglesa), da Champions League (europeia e asiática) e da Primeira Liga, via RTP Internacional, à excepção dos encontros do Benfica. «Já houve protestos, mas é algo que ultrapassa a própria RTP», assegurou Manuel Pires, acrescentando que também haverá a Liga Europa, a fase final do Europeu em França e as qualificações para o Mundial de 2018.

No plano interno, a primazia vai para a bolinha, sem excluir o bolão, enquanto o basquetebol poderá ganhar força na programação televisiva. A TDM vai ainda continuar a difundir as competições internacionais que se realizam anualmente no território, entre as quais o Grande Prémio de Macau (desportos motorizados), o Grande Prémio Mundial de Voleibol Feminino e as Regatas Internacionais de Barcos-Dragão.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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