Fé em acção! É a conclusão que facilmente se tira quando olhamos para o trabalho que sacerdotes e fiéis vão realizando na paróquia de Santo André e no Santuário de São Sebastião, ambos erigidos na cidade de Arthunkal, no Estado indiano de Kerala. A conduzir os destinos da missão católica está o padre Yesudas Kattungalthayil, que nos recebeu de forma calorosa, tendo concedido uma entrevista a’O CLARIM. Entre a história da Paróquia e do Santuário, passando pelas tradições do local, o que mais sobressai é o empenho dos fiéis na ajuda à acção missionária dos sacerdotes.
O CLARIM – Padre Yesudas, pode contar-nos a história da paróquia de Santo André?
PADRE YESUDAS KATTUNGALTHAYIL – A paróquia de Santo André está profundamente enraizada na História, tendo 443 anos de idade. Foi fundada em 1581, quando o Rei Muthedath deu permissão aos missionários cristãos para construírem uma igreja. A estrutura original era simples, feita de madeira e folhas de coqueiro. A 30 de Novembro desse ano, a igreja foi consagrada em nome de Santo André Apóstolo, tendo o padre Gasper Pius, SJ, servido como primeiro vigário. A igreja tornou-se rapidamente um ponto de referência para a comunidade. O próprio rei visitou a igreja concluída e pediu ao padre Gasper que a mantivesse como uma digna “Casa de Deus”. Com o tempo, muitos hindus das regiões vizinhas começaram a visitar a igreja, pedindo a intercessão de Santo André em oração.
CL – Que acontecimentos marcaram os primeiros anos da Paróquia?
P.Y.K. – Um acontecimento notável ocorreu no dia 30 de Novembro de 1583, durante a Festa de Santo André. Nesse dia, quinhentos cristãos de São Tomé e Príncipe foram baptizados, um marco significativo na história da Paróquia.
CL – Como começou a devoção a São Sebastião?
P.Y.K. – A devoção a São Sebastião começou em 1646, inspirada no seu martírio pela Igreja de Cristo, sob o imperador Diocleciano, no final do Século III. Uma estátua de São Sebastião, trazida de Milão em 1645, tornou-se o centro desta devoção. Desde 1646, celebramos o “Festival de Janeiro”. Actualmente, transformou-se no “Centro Internacional de Peregrinação de São Sebastião”.
CL – Pode falar-nos mais sobre o “Festival de Janeiro” em honra de São Sebastião?
P.Y.K. – O “Festival de Janeiro” é a celebração de um mês de Acção de Graças, que atrai anualmente cerca de 150 mil pessoas de Kerala, de outros Estados [da Índia] e até do estrangeiro. Começa com a Novena de São Sebastião, de 1 a 9 de Janeiro, e no dia 10 de Janeiro realiza-se a cerimónia de hastear da bandeira de São Sebastião, que marca o início do Festival, propriamente dito. Este tem a duração de 18 dias, terminando a 27 de Janeiro. Ao longo do Festival, as pessoas oferecem arcos e flechas – as mesmas armas utilizadas no martírio de São Sebastião –, como sinal de gratidão. Entre 10 e 27 de Janeiro, celebramos cem missas e milhares de confissões, com o apoio de sacerdotes convidados. Todos os anos, cerca de oito bispos presidem às celebrações.
CL – Existe alguma tradição ou milagre único associado ao Festival?
P.Y.K. – Uma tradição notável é a Procissão de São Sebastião, que começa na igreja e vai até à praia. Ano-após-ano, uma águia é vista a pairar sobre a Procissão. Segundo a tradição, quando São Sebastião foi ferido, uma águia veio em seu auxílio, ajudando-o a arrancar as flechas. O aparecimento desta águia durante a Procissão é considerado milagre único do Santo.
CL – Como é a vida quotidiana no Santuário de São Sebastião?
P.Y.K. – O Santuário está cheio de actividade. Celebramos três missas diárias, para além das missas em memória dos defuntos. Por exemplo, hoje, sábado, temos nove missas programadas.
CL – Quantos padres trabalham na Paróquia e no Santuário?
P.Y.K. – Temos quatro padres a tempo inteiro e, quando necessário, recorremos a outros padres para acolher ao grande número de fiéis, sobretudo durante eventos especiais, como é o “Festival de Janeiro”.
CL – O que sustenta a fé das pessoas?
P.Y.K. – A oração em família é a pedra angular da fé nesta comunidade. Damos grande ênfase à sua importância. A Paróquia tem 55 agregados familiares, cada um composto por trinta a 35 famílias vizinhas. Todos os meses, um padre visita uma unidade familiar para uma reunião de oração numa casa previamente designada. A oração familiar diária, que inclui frequentemente o Terço, a leitura da Bíblia e cânticos à Virgem Maria, assegura a força espiritual. Esta base encoraja a participação na Missa diária, na Missa Dominical e noutras actividades pastorais.
CL – De que modo os núcleos familiares contribuem para a vida da Paróquia?
P.Y.K. – As 55 unidades familiares são vitais para o dinamismo da Paróquia. Nove animadores coordenam a actividade de seis ou sete núcleos cada um. Cada núcleo familiar tem um santo padroeiro e, no dia da sua Festa, as famílias vêm à Paróquia para a celebrar com Santa Missa e actividades comunitárias. As unidades familiares também se revezam na organização das liturgias dominicais, na limpeza e na manutenção da igreja. Este esforço colectivo garante que a Paróquia se mantenha activa e bem cuidada durante todo o ano.
CL – Houve recentemente alguma iniciativa que tivesse reforçado a fé da comunidade?
P.Y.K. – Realizámos recentemente um retiro de sete dias, orientado por padres carmelitas. Durante esse retiro, os padres visitaram todas as famílias e abençoaram cada casa. Foi uma experiência profundamente espiritual que aproximou os fiéis ainda mais à sua paróquia.
CL – Obrigado, padre Yesudas, pelo seu serviço dedicado e apaixonado em prol da vossa comunidade. Sentimo-nos verdadeiramente inspirados pela fé inabalável do vosso povo e profundamente encorajados pelo zelo e dedicação que o senhor e os seus colegas sacerdotes demonstram ao alimentar a vida espiritual desta paróquia e do Santuário.
Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ
em Arthunkal (Índia)