Investimento é receita para o futuro.
A indústria do Jogo e do entretenimento continua a ter um grande peso na economia de Macau e a diversificação, embora seja um cavalo de batalha que vem desde a Administração Portuguesa, é algo difícil de implementar, sustenta Carlos Castro, em entrevista a’O CLARIM. Para o jurista e gestor bancário, a crise do Jogo é conjuntural e não estrutural, o Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas terá um importante papel a desempenhar à escala global e o Tratado Transpacífico não é uma resposta dos Estados Unidos ao crescente poderio económico da China. Quanto às fortes quedas das bolsas de Xangai e de Shenzhen, acredita que a crise não foi manipulada.
O CLARIM – Sendo um agente activo do sector financeiro, que retrato faz da actual situação económica de Macau?
CARLOS CASTRO – A situação é fortemente caracterizada pela influência da indústria do Jogo e do entretenimento, que chama a si a esmagadora maioria da actividade económica de Macau e alimenta perifericamente todo um conjunto de outras actividades que geram receitas, assim como um certo número de investimentos estruturais nas áreas da construção civil, do imobiliário, das infra-estruturas de transportes e aeroportuárias, incluindo o Metro de Superfície, entre outras. É uma indústria que conheceu uma expansão muito forte nos últimos quinze anos, à excepção – salvo erro – de 2009 e dos últimos 22 meses, períodos em que registou uma quebra de receitas. No entanto, há que ter em consideração todos os investimentos que estão a ser realizados, designadamente no COTAI; o aumento da capacidade hoteleira; o aumento do número de casinos que irão entrar em funcionamento até ao final do ano, e também nos anos subsequentes; os avultados investimentos que foram feitos e as dinâmicas que toda esta capacidade instalada poderá suportar.
CL – A solução está de facto na diversificação económica ou na oferta de mais produtos relacionados com o Jogo?
C.C. – Diria que está nas duas. A diversificação económica tem sido uma preocupação de longa data. Estive anteriormente em Macau, entre 1987 e 1988, 1998 e 2001, 2010 e 2013. Nestes três períodos verifiquei que houve, quer por parte da Administração Portuguesa, quer por parte da actual governação de Macau, a preocupação de diversificar as actividades económicas do território e as suas infra-estruturas económicas, de maneira a torná-lo numa economia menos dependente dos casinos, da indústria hoteleira e do entretenimento. Não é tarefa fácil porque a RAEM é relativamente pequena e a maioria das empresas, tirando as dos casinos e os hotéis, são de pequena e média dimensão, ou mesmo de muito pequena dimensão, estando segmentadas para actividades com peso pouco significativo no bolo total da actividade económica e industrial de Macau. Como se sabe, as indústrias tradicionais de há 30 ou 40 anos também já desapareceram.
CL – Até quando irão decrescer as receitas do Jogo?
C.C. – É difícil dizer. O ciclo económico na região é de crescimento, pois não é particularmente negativo nos mercados envolventes. As razões para a quebra actual são sobejamente conhecidas, uma vez que têm sido bem retratadas pelos jornais. Podem ser de alcance limitado no tempo, podendo mudar significativamente num futuro próximo, na medida em que as infra-estruturas existentes e as actividades económicas desenvolvidas por elas poderão recuperar, apoiadas pelos investimentos que têm sido efectuados, por uma capacidade instalada cada vez maior e de grande qualidade, pela capacidade de inovar dos agentes económicos e por uma crescente procura de serviços.
CL – Embora a economia tenha entrado num período de reajustamento, os lucros do sector bancário aumentaram em 2015. Como explica este fenómeno?
C.C. – Seguramente, por força dos investimentos que têm sido feitos em Macau. Normalmente estas crises não têm consequências imediatas. Esperemos que não tenham daqui para a frente! Nos últimos seis ou sete anos Macau conheceu em termos globais uma expansão notável, e só nos últimos vinte ou vinte e dois meses é que o Jogo tem vindo a conhecer alguns revezes, os quais, provavelmente, serão conjunturais e não estruturais.
CL – É céptico quanto ao sucesso do recém-criado Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (BAII)?
C.C. – Não sou céptico! Primeiro, porque a China é cada vez mais uma grande potência. A China é a maior economia do mundo, em termos de paridade do poder de compra do seu PIB, à frente dos Estados Unidos (em termos nominais é a segunda). A China tem cada vez mais um papel determinante à escala global. Tem vindo a ser um parceiro comercial e um investidor muito importante em todos os continentes, nomeadamente nos Estados Unidos. Nos últimos trinta anos tem assumido uma posição determinante à escala global. O Banco Asiático será importante, como braço financeiro da crescente influência da China à escala regional e global. Em paralelo com outras instituições, estimo que o Banco vai ter um grande papel a desempenhar, tanto no presente, como no futuro. Por isso, não sou nada céptico!
CL – Os Estados Unidos lideraram entretanto a constituição do bloco económico que resulta do Tratado Transpacífico, a envolver mais onze países. É uma resposta ao crescente poderio económico da China?
C.C. – Não será uma resposta propriamente dita, na medida em que o relacionamento comercial bilateral dos Estados Unidos com os países costeiros da Ásia-Pacífico já vem de há muitos anos. Ouvi hoje [terça-feira] que 500 mil pessoas nos Estados Unidos têm os seus postos de trabalho assegurados graças à actividade económica que decorre [do relacionamento com os onze países do Tratado Transpacífico], o que é significativo. Parece-me perfeitamente razoável que estes onze países (e, muito em particular, os Estados Unidos) tenham uma relação bilateral e multilateral muito intensa entre eles, fruto de importantes fluxos comerciais e da expansão que se tem registado no que à prestação de serviços diz respeito. Trata-se de um espaço geográfico que é, pela sua dimensão, propício à formação de mais negócios.
CL – A crise das bolsas de valores de Xangai e de Shenzhen terá sido manipulada?
C.C. – Não me parece que essas bolsas tenham sido manipuladas. Há que ter em linha de conta o facto de muitos dos valores negociados nelas se terem valorizado mais de 150%, no período compreendido entre Junho de 2014 e Junho de 2015, bem como o impacto que teve a movimentação de capitais à escala global e a recente desvalorização do Yuan.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
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