Um sinal de progresso?
“O amor é eterno enquanto dura. Uma vez que termina, deixa de o ser”.
Pode parecer brincadeira, mas ouvi esta frase há poucos dias. Juntamente com ela, uma pessoa defendia tão ardentemente o divórcio, que acabou por considerá-lo como um direito humano, que devia ser incluído na declaração universal que os enumera.
É interessante reparar que, hoje em dia, o divórcio é considerado por muitas pessoas como uma característica da sociedade moderna. Não o admitir é visto como um absurdo tão grande, que nem merece qualquer tipo de consideração.
Tal atitude é considerada como completamente intolerante e seria similar a desejar, por exemplo, a restauração da escravatura. Não se pode dialogar com pessoas que pensam assim – seria um retrocesso na modernização e humanização da nossa sociedade.
O próprio Código de Direito Civil não inclui a possibilidade de duas pessoas se casarem indissoluvelmente – seria uma aberração!
Tal visão do casamento está restringida a indivíduos com sensibilidade religiosa, sem que isto tenha nada que ver com a vida das pessoas consideradas maduras e normais.
De acordo com a mentalidade actual, o divórcio é um sinal de progresso, um passo em frente para a felicidade de uma sociedade. A indissolubilidade do matrimónio é vista por muita gente como um capricho da Igreja Católica, que com esta e outras atitudes parece ter perdido definitivamente o comboio da modernização.
Mas será que o divórcio é verdadeiramente um sinal de progresso? Será que a sua aprovação na lei civil significou uma libertação? Trouxe maior felicidade para a grande maioria das pessoas?
Sempre encontraremos alguns que dizem que sim. São uma minoria e, geralmente, não possuem um conceito muito claro do que significa “felicidade”.
No entanto, para a grande maioria das pessoas – não nos esqueçamos de incluir os filhos daqueles que se divorciam – a resposta parece ser não: o divórcio não aumentou a sua felicidade.
Significou, pelo contrário, uma certa desistência de ser feliz; uma consciência de que tal ideal parece um objectivo inalcançável.
Como diz Cormac Burke, a mentalidade divorcista produziu um modo comercial de encarar o casamento. Passou a tratar-se de um negócio com riscos, mas com a garantia de que, caso não nos sintamos satisfeitos, a nossa liberdade ser-nos-á restituída como se nada tivesse acontecido.
É a mentalidade de experimentar para ver se nos serve.
Ninguém discute que esta lógica é fantástica quando se trata de comprarmos roupa. No entanto, para um casamento, ter esta mentalidade é estabelecer bases movediças que levam seguramente a um rotundo fracasso matrimonial.
Fazendo um balanço dos últimos anos, vemos como o divórcio gerou cada vez mais divórcio. Estamos a chegar à conclusão de que, neste caso, o remédio é pior do que a doença.
E assim como a melhor solução para uma dor de cabeça não é cortá-la – felizmente há outras soluções! – a melhor solução para os problemas de um casamento não é acabar com ele.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia