Conversão de anglo-saxões e de um Papa condenado: Bonifácio V e Honório I
BONIFÁCIO V
(23.XII.619 – 23.X.625)
“O mais manso dos homens” – foi assim que o Liber Usualis descreveu Bonifácio V, o 69.º Pontífice Romano. Ele havia trabalhado sob o comando de São Gregório Magno.
Quando assumiu o Papado, um patrício chamado Eleutério, que anteriormente combatera rebeldes em Itália, por ordem do imperador bizantino Heráclito, queria agora que o Papa o coroasse imperador em Roma. Esta situação criou um problema para o Pontífice, que não queria ofender o imperador Heráclito. A questão foi resolvida quando as próprias tropas de Eleutério o mataram e enviaram a sua cabeça ao imperador Heráclito em Constantinopla.
Em 614, os persas liderados pelo rei Cosroes II (ou Khosrow II) atacaram Damasco e Jerusalém, e carregaram com eles a verdadeira cruz. Durante o Pontificado de Bonifácio V, por volta de 622, estiveram perto de derrubar Constantinopla. Foi também por volta dessa época que Maomé fugiu de Meca para Medina, permitindo que ele e os seus seguidores se estabelecessem e praticassem a sua fé.
O Papa Bonifácio V continuou o trabalho missionário que o Papa Gregório I tinha iniciado em Inglaterra. Em 597, Gregório pediu a Santo Agostinho de Cantuária que liderasse os missionários que levaram a fé ao Reino de Kent, no Sudeste. Kent foi a primeira das monarquias anglo-saxónicas e tornou-se um dos sete grandes reinos anglo-saxónicos de Inglaterra, juntamente com East Anglia, Essex, Mércia, Nortúmbria, Sussex e Wessex. Kent foi também o primeiro dos reinos a converter-se ao Cristianismo. Gregório estabeleceu-o como Sé Metropolitana. Por sua vez, Bonifácio V encorajou o trabalho do missionário Paulino no reino setentrional da Nortúmbria. O Santo Padre enviou cartas à família real para ajudá-lo. Assim como Agostinho de Cantuária, Paulino também fôra enviado pelo Papa Gregório I à Nortúmbria como missionário. Tornou-se o primeiro bispo católico de York, em 625. Foi fundamental na conversão do rei Edwin da Nortúmbria à fé, em 627. Isto abriu caminho para baptismos em massa e para o estabelecimento de igrejas na região.
Em termos de disciplina eclesiástica, o Papa Bonifácio V teve de moderar o excesso de zelo dos acólitos. Proibiu-os de participar na distribuição ou transferência de relíquias, bem como de substituir os diáconos no rito do Baptismo. No entanto, Bonifácio V era conhecido pelo seu grande amor pelo clero.
Quando morreu em 625, o Papa foi sepultado na Basílica de São Pedro.
HONÓRIO I
(27.X.625 – 12.X.638)
Durante a sua vida, o Papa Honório I foi muito estimado pelas competências administrativas que revelava. Tal como Gregório I, empregou monges em vez de clérigos seculares para tarefas administrativas. “Como Papa, dedicou-se a manter as igrejas de Roma (…). Honório era conhecido pela sua gestão eficiente do património de São Pedro. Também tratava de vários assuntos relacionados com rituais” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 140).
Um homem com um coração paternal, mas talvez não um teólogo profundo, continuou a incentivar o trabalho missionário entre os anglo-saxões. Conseguiu convencer os irlandeses do Sul (celtas convertidos na Irlanda) a alinhar a sua celebração da Páscoa com o Calendário Romano. Conseguiu suspender temporariamente o cisma de Aquileia.
Quarenta e dois anos após a sua morte, o Papa Honório foi condenado pelo Terceiro Concílio de Constantinopla (também conhecido como Sexto Concílio Ecuménico) de 680 a 681. O Concílio declarou o monotelismo e o monoenergismo como heresias, afirmando formalmente que Jesus Cristo tem duas vontades (divina e humana). O Papa Honório foi condenado, não porque ensinasse heresia (ele negava o monofisismo e o monotelismo), mas porque “permitiu que a pureza da doutrina fosse poluída”, segundo o Papa Leão II, que confirmou os decretos do Concílio. De que maneira? O que Honório disse? Honório I estava a responder em privado a uma carta do Patriarca Sérgio de Constantinopla sobre a controvérsia monotelita. Ele desaconselhou o uso dos termos “uma vontade” ou “duas vontades” para evitar mais controvérsias. Assim, ele parecia concordar com a opinião do Patriarca de que havia apenas uma vontade em Cristo, no sentido de que Cristo uniu a sua vontade humana à vontade divina. O Papa não pretendia fazer declarações dogmáticas aqui, mas alguns autores não católicos ou anticatólicos usam esta questão para argumentar contra a infalibilidade papal.
(Para mais detalhes, consulte os seguintes artigos: Robert Spencer, “A verdade sobre o Papa Honório” https://www.catholic.com/magazine/print-edition/the-truth-about-pope-honorius; e Steven O’Reilly, “Culpado apenas por não ensinar” https://www.catholicculture.org/culture/library/view.cfm?recnum=3301).
Pe. José Mario Mandía

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