PADRE JOHNSON DHOS, SVD, SUPERIOR REGIONAL DA SOCIEDADE DO VERBO DIVINO PARA MACAU E HONG KONG

PADRE JOHNSON DHOS, SVD, SUPERIOR REGIONAL DA SOCIEDADE DO VERBO DIVINO PARA MACAU E HONG KONG

«Embora as duas cidades sejam ricas, as pessoas olham para Deus à procura de paz»

A Congregação dos Missionários do Verbo Divino (Verbitas) celebrou, na passada segunda-feira, 27 de Outubro, o seu 150.º aniversário com Missa Solene na igreja de Nossa Senhora de Fátima. A Eucaristia, presidida pelo bispo D. Stephen Lee, trouxe a Macau o padre Johnson Dhos, SVD. O superior regional da Verbitas para Macau e Hong Kong considera que ainda há muito trabalho missionário a ser feito em ambas as Regiões. Nas duas cidades, refere o sacerdote, as pessoas olham para Deus à procura da harmonia que lhes falta. O padre Johnson, em entrevista a’O CLARIM.

O CLARIM – Este ano, a Congregação dos Missionários do Verbo Divino comemora 150 anos de existência. Em Macau, estão há quase duas décadas…

PADRE JOHNSON DHOS – Desde 2007 que desenvolvemos trabalho missionário na diocese de Macau. Fomos convidados para vir para Macau a fim de trabalharmos com as escolas e com a Universidade católica local [USJ]; e também com as paróquias e em diferentes tipos de apostolado. Desde então que temos vindo a trabalhar de muito perto com a Diocese. Este ano, a Congregação dos Missionários do Verbo Divino faz 150 anos e decidimos também celebrar a efeméride em Macau. Na verdade, já comemorámos o nosso 150.º aniversário em Hong Kong, a 7 de Setembro. Esta semana, celebramos também em Macau.

CL – Em Julho, dois antigos alunos do Seminário de São José foram ordenados em Hong Kong e juntaram-se à missão da Verbitas. O papel de Macau enquanto centro regional de formação é para vós importante?

P.J.D. – A diocese de Macau tem-nos ajudado bastante. No passado, quatro ou cinco seminaristas estudaram Teologia aqui em Macau, foram ordenados em Hong Kong e depois ingressaram na nossa Congregação como missionários. A Diocese tem-nos facultado um apoio substancial, ao oferecer aos nossos seminaristas a possibilidade de aqui estudarem Teologia. Como referia, ao longo do último ano, três seminaristas que estudaram Teologia em Macau foram ordenados em Hong Kong. De um mesmo modo, um seminarista nascido em Hong Kong foi ordenado sacerdote em Taiwan. Foi, obviamente, um momento feliz, que evidencia que a Congregação continua a atrair vocações de diferentes origens e a prepará-las para que possam trabalhar em diferentes partes do mundo.

CL – Este ano, como referia, é um ano muito especial para os Missionários do Verbo Divino. É hoje uma das maiores sociedades missionárias do mundo…

P.J.D. – Actualmente, é a quinta maior congregação masculina…

CL – … que ainda está a crescer no continente asiático?

P.J.D. – Em nações como a Indonésia ou o Vietname a Congregação ainda está a crescer, mas noutras partes da Ásia, noutros países asiáticos, não temos conseguido atrair tantas vocações como desejaríamos. O número de vocações estão a diminuir em países como a Índia e as Filipinas. Em contrapartida, vamos muito certamente testemunhar um aumento no continente africano, onde cada vez mais vocações se estão a manifestar.

CL – Quais diria que são os grandes desafios que a Verbitas enfrenta após 150 anos da sua fundação? São semelhantes aos que a própria Igreja enfrenta actualmente?

P.J.D. – Vivemos num mundo em mudança, num mundo mais pluralista. De certo modo, o mundo tornou-se mais sofisticado, mas continua a não ser fácil evangelizar. Essa é uma das razões pelas quais a Congregação dos Missionários do Verbo Divino procura marcar presença em diferentes países e esforça-se por evangelizar nesses lugares. Fomos pioneiros nesse sentido, mas continua a ser muito difícil: temos de aprender a língua, temos de nos familiarizar com a cultura e lentamente temos de nos adaptar ao modo de vida das populações locais. No que diz respeito à missão propriamente dita, os Missionários do Verbo Divino são conhecidos, em particular, pela internacionalidade. Nem sempre é uma vantagem. Temos sempre de nos adaptar a diferentes culturas, antes de nos tornarmos verdadeiramente missionários. Até porque hoje não basta saber a língua. Temos de conhecer a cultura e de ultrapassar todo o tipo de dificuldades.

CL – Para a maioria das sociedades missionárias, a China é um grande desígnio em termos de evangelização. Esta perspectiva é por vós partilhada?

P.J.D. – Somos parte da Província Chinesa da Congregação do Verbo Divino. Sob a sua égide, Hong Kong e Macau formam um distrito. Já em Taiwan temos um distrito setentrional e um distrito meridional. A China continental constitui um distrito autónomo. Temos alguns sacerdotes e irmãos na China continental.

CL – No que toca em concreto ao distrito de Hong Kong e de Macau da Congregação do Verbo Divino, quanto missionários tem a Verbitas em Macau e Hong Kong?

P.J.D. – Temos cerca de trinta sacerdotes. A estes acrescem dois irmãos que se encontram a estudar Teologia no Seminário do Espírito Santo, em Hong Kong. Neste momento, estão a completar os seus estudos teológicos.

CL – Em locais como Macau e Hong Kong quais são os principais desafios em termos de evangelização? Os dois territórios são vistos como locais abastados, mas há sempre muita gente necessitada…

P.J.D. – Não é fácil evangelizar pois, como lhe disse no início, hoje o mundo é muito pluralista. Diria que em Hong Kong é mais fácil evangelizar do que noutras regiões, mas isto não quer dizer que não nos deparemos com dificuldades. Há muito poucas pessoas a procurar a Igreja e não tem sido fácil realizar trabalho de evangelização, em particular depois da pandemia de Covid-19. À época, eram muito poucas as pessoas que frequentavam as igrejas.

CL – Ainda assim, as duas cidades estão ou não receptivas à evangelização? Sente-se uma ânsia de Deus em Macau e Hong Kong?

P.J.D. – Embora as duas cidades sejam ricas – como me disse há pouco –, as pessoas ainda alimentam a necessidade de se sentirem em paz. As pessoas necessitam de harmonia nas suas vidas e essa é, talvez, a principal razão que as leva a olhar para a religião. Elas olham para Deus à procura de paz, de harmonia e de alegria. Por isso, estou certo que ainda há muito trabalho missionário que pode ser feito em Macau e Hong Kong.

CL – A vossa missão ainda atrai a juventude contemporânea? Qual diria que é a principal característica do carisma da Verbitas?

P.J.D. – Uma das principais características da Sociedade do Verbo Divino é a sua internacionalidade. A nossa espiritualidade é muito próxima da espiritualidade da Igreja, mas a internacionalidade é uma das nossas principais características. Somos oriundos de diferentes lugares, mas vivemos todos juntos. Diferentes países e diferentes culturas encontram-se sob a égide da Sociedade do Verbo Divino e esta característica tem servido como um importante testemunho para as pessoas com quem trabalhamos. No centro da nossa espiritualidade está a Santíssima Trindade, a perspectiva de um Deus Trinitário. O nosso fundador, o padre Arnold Janssen, tinha tanta afeição por este Deus Trinitário – pela forma como o Pai, o Filho e o Espírito Santo coexistem em unidade – que usou a Santíssima Trindade como a principal razão pela qual devemos levar aos outros o nosso testemunho de fé. Inicialmente, os padres que se juntavam à Congregação eram todos europeus. Actualmente, somos quase seis mil padres, irmãos e irmãs, provenientes de diferentes países. Os Missionários do Verbo Divino estão presentes em 96 países e regiões. Em muitos destes países fomos pioneiros na divulgação da Palavra de Deus.

Marco Carvalho

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