JUBILEU DA VIDA CONSAGRADA EM YANGON

JUBILEU DA VIDA CONSAGRADA EM YANGON

Igreja Católica oferece acolhimento e conforto

Em Myanmar, devastado por uma guerra civil há mais de quatro anos, a presença e a vitalidade do apostolado de religiosos e religiosas, que actuam como autênticos “missionários da esperança”, continuam a ser significativas. Isto foi por demais evidente durante as celebrações do Jubileu da Vida Consagrada, que recentemente reuniu “consagrados e consagradas de várias dioceses” para rezarem juntos e renovarem o compromisso com a missão.

O povo birmanês, nas suas diversas realidades e situações, expressou profunda gratidão aos religiosos pelo seu testemunho de fé, esperança e caridade em todas as partes do País.

Mais de duzentos religiosos reuniram-se no passado dia 8 de Outubro para a celebração do Jubileu na Catedral de Santa Maria, em Yangon, “confiando-se ao Senhor e renovando a sua missão de esperança” por um país que há demasiado tempo enfrenta sofrimento, violência e dificuldades. Representantes de vinte Congregações diferentes de toda a arquidiocese de Yangon reuniram-se para o evento sob o lema “Gratidão, Entusiasmo e Esperança”.

O cardeal D. Charles Bo, arcebispo de Yangon, recordou as palavras de João Paulo II proferidas no decorrer do Grande Jubileu de 2000, sublinhando que «todo o Jubileu exige três atitudes importantes: gratidão pelo passado, entusiasmo pelo presente e esperança pelo futuro». O prelado lembrou ainda que a gratidão é um sinal de santidade. «Uma pessoa grata é uma pessoa santa», explicou. «Estamos gratos a Deus pela vida, pela nossa vocação e pela inspiração dos nossos fundadores». Quanto ao segundo ponto, o cardeal encorajou os religiosos a viverem o momento presente – que «é sempre um dom» – com a máxima alegria. Por fim, exortou todos a olharem para o futuro com esperança, sobretudo num contexto marcado pela incerteza e pela negatividade. «Mesmo nos momentos de desânimo, somos chamados a esperar com confiança, a rezar com os Salmos e a encontrar esperança na simplicidade, na humildade e na mansidão», concluiu D. Charles Bo.

O padre dominicano Philip Soreh, OP, falou depois sobre a vida consagrada como uma «vida de construção de pontes», tendo abordado os desafios impostos pelas tecnologias modernas e pela inteligência artificial, enfatizando «o valor insubstituível da comunidade humana». Numa troca de experiências subsequente, as diversas Congregações religiosas (são 42, só em Yangon!) partilharam os seus carismas e ministérios, que vão desde a Educação à Saúde e a outras obras sociais.

Noutro contexto difícil, na diocese de Pyay, no Estado de Rakhine, no Oeste de Myanmar, cerca de cinquenta religiosas reuniram-se para participar na Missa com o bispo D. Peter Tin Way, no dia 8 de Outubro, numa instituição gerida pelas Irmãs de Nossa Senhora das Missões (RNDM).

O monsenhor Andrea Ferrante, Encarregado de Negócios da Nunciatura Apostólica em Myanmar, também esteve presente na celebração eucarística, que teve lugar no auditório da Escola do Sagrado Coração. Proferiu a homilia, dirigindo-se aos presentes com as seguintes palavras: «Vivemos tempos difíceis e de grande sofrimento no mundo. O maior desafio é a perda da fé e da confiança em Deus. Os homens e mulheres desta geração têm grande necessidade de encontrar o Senhor e a sua mensagem libertadora de salvação. Desde que cheguei a Myanmar, pude experimentar a vossa fé, a coragem, o amor a Cristo e à Igreja, e a vossa generosa dedicação ao serviço dos pobres, dos doentes, das crianças e dos jovens em nome de Cristo. Nesta celebração, recordamos os missionários que pagaram com o sangue a sua escolha de fidelidade a Cristo». O prelado transalpino disse ainda: «Não sois chamados a encontrar a solução para todos os problemas, mas a estar presentes no mundo para trazer a paz e ajudar os nossos irmãos e irmãs a viver com dignidade e humanidade. Não estamos sozinhos na nossa viagem. Há a certeza da promessa que Jesus fez aos seus discípulos: “Não vos deixarei órfãos” [João 14, 18], e isso dá-nos a confiança para aceitar e acolher o dom dos nossos irmãos e irmãs».

Após a Missa, seguiu-se um encontro com todos os religiosos, durante o qual D. Andrea Ferrante saudou os presentes em nome do Papa Leão XIV e agradeceu o empenho e o zelo apostólico na evangelização através das escolas, centros de acolhimento de crianças e jovens, assistência sanitária, entre outros projectos sociais. Todas estas obras são particularmente valiosas numa altura em que, devido aos combates, até os serviços sociais públicos mais básicos foram interrompidos em várias regiões de Myanmar. Líderes de outras confissões cristãs também participaram na celebração, assim como representantes budistas. Os religiosos deram continuidade ao encontro com dois dias de reflexão e intercâmbio.

Myanmar vive encurralado numa onda de permanente violência interna. Hoje, o diálogo é a única solução para uma perspectiva de cessar-fogo e de paz; e para o iniciar, são necessários mediadores e facilitadores externos como actores internacionais.

A Igreja Católica, fiel aos seus princípios, tem oferecido acolhimento e conforto aos deslocados. Mas não é fácil viver neste ambiente marcado pela injustiça e pela violência, e ao mesmo tempo promover encontros com as partes em conflito. Os representantes da Igreja Católica mantêm relações com a Junta Militar governante e com as instituições estatais, mesmo que seja apenas para “poder deixar o País e participar nas reuniões pastorais da Igreja na Ásia ou da Santa Sé”. Isto não significa que a Igreja Católica “endosse um estado de guerra”, ou que esteja próxima do poder militar, tão só vê-se obrigada a sujeitar-se a “uma necessidade funcional”.

Joaquim Magalhães de Castro

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