PAPA RECEBEU MÃE QUE SOUBE PERDOAR

ESTADO ISLÂMICO: PAPA RECEBEU MÃE QUE SOUBE PERDOAR

Sequestrados pelo mal

À beira de uma guerra mundial, parece que os vícios se engancham de tal maneira uns nos outros que sufocam todos os vislumbres de paz. A vontade de alargar o território, ou a vaidade de coleccionar um troféu militar, fazem avançar os exércitos e, uma vez postos em marcha, não parece possível fazê-los voltar atrás. Mesmo que alguém se arrependa do seu desejo perverso, o demónio corta a retirada: agora, não há solução, é preciso continuar…

Todos os vícios humanos conspiram para garantir que a fornalha da guerra continue a devorar vidas humanas. A cupidez dos negócios imorais, a cobardia de quem deveria intervir, o egoísmo de quem espera ganhar com a desgraça dos outros… Todas as maquinações infernais trabalham ao rubro para produzir a máxima desgraça, mas o demónio nunca vence realmente.

Cantou vitória quando viu Jesus pendurado na Cruz, ou os cristãos perseguidos. Mas, depois, a suavidade de Deus que actua em cada coração cura as feridas do ódio e faz germinar a paz.

Leão XIV recebeu Diane Foley que escreveu o livro “American Mother” (uma mãe americana), que começa com a morte do filho James Wright Foley, jornalista raptado na Síria pelos terroristas do ISIS em 2012 e decapitado por eles em 2014, relatando a profunda jornada espiritual que a levou a perdoar e até a amar os assassinos do filho. Em 2021, Diane teve forças para se encontrar com um dos assassinos, Alexanda Kotey, ajudando este terrorista a conhecer e admirar as qualidades do homem que tinha morto.

À saída do Vaticano, Diane partilhou com os jornalistas a sua devoção ao Papa e abriu o coração. «– No meio da guerra e do ódio, não se vêem caras; não se vêem pessoas; só se pensa naqueles que detestamos». Quando conversou com Alexanda, «(eu) quis humanizar o Jim [o filho]. Era um jornalista inocente, não era um combatente, era um homem de paz, empenhado em transmitir ao mundo as notícias do povo sírio. Eu quis que [Alexanda] soubesse que as pessoas que eles alvejaram, jornalistas e trabalhadores de agências humanitárias, tentavam trazer esperança ao povo sírio; não eram combatentes, não tinham armas. Quis que [Alexanda] soubesse que Jim era também professor, preocupava-se realmente com aqueles que ajudava (…). Espero que um dia, no Céu, eles se tornem amigos. Até imagino o Jim a dar-lhe aulas (…), porque o Alexanda perdeu o pai em criança».

«(…) Temos de ter compaixão uns pelos outros. Esse milagre deu-se na minha conversa com o Alexanda. Ele ouviu-me realmente e eu pedi a Deus a graça de o ouvir a ele. Foi uma graça. O Espírito Santo esteve presente de forma muito profunda. Foi uma bênção. Foi triste, mas foi uma bênção».

«(…) Deu-me alegria saber [através do relato dos prisioneiros que foram libertados] como eles se entreajudavam e de como Jim rezava e se aproximava cada vez mais de Deus. Jim esteve preso com muitas pessoas boas – jornalistas, colaboradores de agências humanitárias, gente que queria fazer bem no mundo».

«(…) Fundamentalmente, estou tão agradecida. Deus preparou-me ao longo da vida, dando-me o dom da fé na adolescência. (…) Deus bom e misericordioso ama-nos (…). Muitíssimos anjos nos rodearam quando o Jim foi morto. Muitíssimos anjos, muitíssimas bênçãos. Pensem na bênção de ter sido recebida hoje pelo Papa. Deus tem sido muito bom para mim, e sustenta-me, com Nossa Senhora, e não me deixam cair».

Não foi a primeira conversa com um Papa. «(…) Poucos dias depois de matarem o Jim, o Papa Francisco telefonou-me, antes de alguém do Governo me contactar. Foi comovente. Um sobrinho do Papa Francisco tinha morrido recentemente num acidente de automóvel, ele sentia-o muito, mas quis falar connosco (…). O Papa Francisco foi um dom para mim, ouvi tantos “audiobooks” dele. Era um Papa santo».

«(…) Precisamos de fazer mais, porque o que se passa em Gaza é inumano. É trágico o que acontece na Ucrânia, no Sudão, em tantas partes do mundo. Também por isto estou tão agradecida pela liderança do Papa Leão XIV e o seu apelo à paz».

Há poucos dias, Leão XIV recebeu o Presidente israelita. Segundo um comunicado, inusualmente longo da Santa Sé, pediu-lhe «decisões corajosas»: com urgência «um cessar-fogo permanente», permitindo «o acesso da ajuda humanitária»; lembrou-lhe ainda o dever de «respeitar plenamente o direito humanitário», de «assegurar o futuro do povo palestiniano e a paz na região»…

Aparentemente, não foi ouvido.

José Maria C.S. André

Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa

LEGENDA: Papa Leão XIV e Diane Foley

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