CARDEAL D. STEPHEN CHOW, SJ

CARDEAL D. STEPHEN CHOW, SJ, FALOU À REVISTA SOBRE O CONCLAVE PAPAL REALIZADO NO MÊS DE MAIO

«Votámos num pastor para o mundo»

Ao correspondente da revista America no Vaticano, Gerard O’Connell, o cardeal D. Stephen Chow, SJ, bispo da Igreja Católica em Hong Kong, partilhou alguns dos momentos por ele vividos no Conclave que elegeu o Papa Leão XIV. O CLARIM reproduz, na íntegra, um artigo entretanto publicado pelo Sunday Examiner – semanário católico da diocese de Hong Kong em língua inglesa –, no passado dia 25 de Maio, cuja redacção se centra nas declarações do prelado da região vizinha.

———————————–

O cardeal D. Stephen Chow, SJ, bispo de Hong Kong, descreveu a sua participação no recente conclave papal como uma experiência profundamente espiritual marcada pelo discernimento, pela atenção global e por um forte sentido de responsabilidade pastoral. Em declarações, em Roma, ao correspondente da revista America no Vaticano, Gerard O’Connell, o cardeal Stephen partilhou as suas reflexões sobre o processo que levou à eleição do Papa Leão XIV.

O cardeal Stephen foi o único cardeal chinês elegível para votar neste conclave e apenas o terceiro na história a servir como eleitor. O cardeal D. Thomas Tien Ken-sin, antigo arcebispo de Pequim, que foi nomeado cardeal por Pio XII em 1946, mas expulso da China em 1951, votou no conclave de 1958 que elegeu o Papa João XXIII e no conclave de 1963 que elegeu o Papa Paulo VI. O segundo foi o cardeal D. John Tong Hon, então bispo de Hong Kong, que votou no conclave de 2013 que elegeu o Papa Francisco.

Na entrevista, realizada em Roma a 13 de Maio, o cardeal Stephen recordou ter entrado no conclave sem expectativas nem qualquer candidato pessoal em mente. «Para mim, como jesuíta, sei que isto é discernimento», disse ele. «A ideia de entrar num conclave significa que é preciso abrir-se, para ter a liberdade interior de se conectar com o Espírito».

As Congregações Gerais pré-conclave, onde cardeais de todo o mundo partilharam os seus pensamentos e esperanças para a Igreja, desempenharam um papel fundamental na definição da direcção da eleição. «Ao ouvir os meus colegas cardeais, tive uma noção do futuro desejado para a Igreja. Isso ajudou-me a ver que tipo de pessoa poderia ser o sucessor de Pedro depois de Francisco».

Um tema recorrente surgiu naqueles dias de escuta e oração: a necessidade de um Papa pastoral. O cardeal Stephen disse que ficou claro que o próximo Papa tinha de ser alguém que pudesse continuar o legado do Papa Francisco em ir além das paredes da Igreja. «Após a sua morte, quatrocentas mil pessoas vieram despedir-se. Ficou clarificado que não estávamos apenas a eleger um Papa para a Igreja, mas um pastor para o mundo».

O cardeal observou o grande interesse global em torno do conclave, especialmente da parte dos media. «Todos os dias, ao caminhar para a sala do sínodo, tínhamos que passar por uma multidão de jornalistas. Eram seis mil», disse. «Isto mostra o quanto as pessoas se importam, mesmo as não católicas».

Dentro do conclave, os cardeais mantiveram sigilo absoluto. Não tinham acesso a telefones nem à Internet. O cardeal Stephen descreveu a atmosfera dentro da Capela Sistina como solene e sagrada. «Sente-se o peso da história, mas também o futuro. É um momento muito sagrado».

A língua, no entanto, representou um desafio. Embora a missa antes do conclave e o juramento fossem em Latim e Italiano, o cardeal Stephen – como alguns outros – teve dificuldade em acompanhar. «Nem sequer fomos treinados para pronunciar o juramento em Latim. E não percebemos que estava a ser transmitido ao vivo – foi embaraçoso», admitiu. Elogiou os tradutores que trabalharam durante as Congregações Gerais e pediu que os futuros conclaves ofereçam um melhor apoio linguístico.

Sobre o processo de votação, o cardeal Stephen disse: «A primeira votação é sempre dispersa. Mas revela quem são os candidatos mais fortes». Foi durante o segundo dia de votação, após uma noite de reflexão e oração, que a direcção se tornou mais evidente. «É realmente o Espírito Santo que nos une, se o ouvirmos».

Quando o cardeal D. Robert Francis Prevost – que se tornaria o Papa Leão XIV – recebeu os 89 votos necessários, a capela explodiu em aplausos. O cardeal D. Pietro Parolin, que presidiu o conclave, perguntou se ele aceitava. Ele aceitou, respondendo “Accepto” a outra onda de aplausos.

Seguindo a tradição, o novo Papa retirou-se brevemente para a “Sala das Lágrimas” e voltou para saudar os seus irmãos cardeais. Quando chegou a vez do cardeal Stephen, ele presenteou o Santo Padre com uma estátua de Nossa Senhora de Sheshan, padroeira da Igreja na China. «Eu disse-lhe: “Por favor, não se esqueça da Igreja na China e do povo chinês”. Ele ficou surpreendido e agradecido».

Olhando para trás, o cardeal Stephen diz: «Sou grato aos meus irmãos cardeais, que responderam ao impulso do Espírito, porque se um conclave dura muito, muito tempo, é provavelmente porque não estamos realmente a ouvir ou a responder ao Espírito».

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *