Uma jornada de ruptura, bênçãos e redescoberta: o meu caminho de 22 anos até ao Sacerdócio
O padre Ian Rio Vicente Mugot Dacayanan, CMF, foi ordenado sacerdote no último sábado, 31 de Maio, na paróquia do Imaculado Coração de Maria, em UP Diliman Quezon City, nas Filipinas, por D. Roberto Orendain Gaa, bispo da diocese de Novaliches. A’O CLARIM, o padre Ian, actualmente a residir em Macau, enviou um testemunho pessoal que publicamos com apreço.
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A minha jornada para o Sacerdócio não foi um caminho recto – foi uma “montanha-russa de 22 anos”, de fé, dúvida, luta e graça. Houve momentos em que me senti muito próximo de Deus(*) e outros em que me afastei completamente. No entanto, em cada queda e cada retorno, Ele pacientemente chamava-me de volta.
O PONTO DE RUPTURA: QUANDO A FÉ PARECIA PERDIDA – Houve um tempo em que deixei de acreditar – não apenas na minha vocação, mas até mesmo em ir à igreja. A vida deu uma guinada quando o meu pai perdeu o emprego e eu tive que assumir a responsabilidade de sustentar as minhas irmãs que ainda estavam na escola. O Seminário parecia um sonho distante. Entrei no “mundo selvagem” – em busca de dinheiro, liberdade e prazeres temporários. Por um tempo, senti que tinha tudo: podia comprar o que queria, ir aonde queria. Mas, no fundo, havia um vazio, uma voz suave sussurrando: “Deve haver mais”.
O LENTO RETORNO: REDESCOBRINDO A FÉ – Deus não força, mas nunca desiste. Lentamente, como um filho pródigo, vi-me atraído de volta – primeiro com hesitação, depois com saudade. Comecei a fazer as perguntas difíceis: por que me sinto vazio quando tenho tudo? O que é essa inquietação no meu coração? Pouco a pouco, voltei à oração, aos Sacramentos, aos momentos de silêncio em que Deus fala. E nessa quietude, encontrei algo que me faltava há anos – a paz.
A BÊNÇÃO NA LUTA – Olhando para trás, vejo agora como aqueles anos de peregrinação não foram desperdiçados. Eles ensinaram-me a ser humilde, aprofundaram a minha compaixão e tornaram a minha fé real – não apenas herdada, mas escolhida. As minhas lutas com as dúvidas, as dificuldades da minha família, até mesmo o meu tempo longe da Igreja – tudo se tornou parte do meu testemunho. Deus não me chamou apenas devido à minha fragilidade; Ele chamou-me através dela.
POR QUE PARTILHO ISTO AGORA? – Se estás a discernir sobre o Sacerdócio ou a sentir-te perdido na tua fé, sabei isto: “Deus escreve direito por linhas tortas”. As tuas dúvidas, as tuas quedas, até mesmo o teu tempo no “deserto”, nada disso te desqualifica. Na verdade, pode ser exactamente isso que te prepara.
Hoje sou padre; não porque era perfeito, mas porque Deus foi paciente. E se Ele pode chamar alguém como eu – que se afastou, que lutou, que falhou – então Ele certamente pode chamar-te também.
(*) Atreve-te a confiar Nele novamente. “Magmadasig ka – kay ang Ginoo, dili gyud mo biya” (Sê corajoso, pois o Senhor nunca te abandonará).
Pe. Ian Dacayanan, CMF