Jesus transforma a História em Glória

QUINTO DOMINGO DE PÁSCOA – Ano C – 18 de Maio

Jesus transforma a História em Glória

Hoje, ao reflectirmos sobre João 13, 31-35, somos convidados a entrar no mistério da glorificação de Jesus – não através do poder, da riqueza ou do sucesso mundano, mas através da humildade, do sacrifício e do amor. Num mundo em que muitos líderes escolhem a destruição e a guerra, Jesus oferece um caminho radicalmente diferente. Ele não procura aniquilar os inimigos. Em vez disso, constrói pontes. Como o Papa Leão XIV nos recordou no seu primeiro discurso, temos de procurar uma paz que seja simultaneamente desarmada e desarmante – uma paz que não se limite a silenciar os conflitos durante algum tempo, mas que cure as feridas, reconcilie as divisões e evite o ódio futuro.

O CAMINHO PARA A GLÓRIA: HUMILDADE E AMOR

Na Última Ceia, Jesus faz algo inesperado. O Evangelho diz-nos: «Levantou-se da mesa, tirou a capa e colocou uma toalha em volta da cintura» (João 13, 4). Em seguida, ajoelha-se para lavar os pés dos discípulos – uma tarefa habitualmente desempenhada pelos criados. Este acto reflecte a versão de João da kenosis de Cristo, descrita em Filipenses 2, 7: «Esvaziou-se a si mesmo, assumindo plenamente a forma de servo».

Jesus humilha-se, mostrando que a verdadeira liderança passa pelo serviço e não pelo domínio. Neste momento crucial, Jesus ensina que a glória não se encontra no poder sobre os outros, mas na oferta de si mesmo pelos outros – um amor que leva à Cruz.

No entanto, o amor não é passivo. Exige coragem, clareza (parresia) e honestidade. Jesus não ignora a presença do mal. Ele confronta directamente Judas, que é o único que pode ser morto. Confronta directamente Judas, que permitiu que Satanás entrasse no seu coração. Em vez de o condenar, Jesus oferece-lhe um último acto de amizade – a oferta de um bocado de comida. É a última oportunidade para voltar atrás, para reconsiderar. Mas Judas escolhe as trevas, e o Evangelho diz-nos: «Saiu apressadamente. E era noite» (João 13, 30). Jesus, a luz do mundo, dá-lhe todas as oportunidades para ficar, mas Judas escolhe mergulhar nas profundezas do pecado e do engano.

O MANDAMENTO DO AMOR

Agora que Judas se foi embora, Jesus volta-se para os discípulos com profunda ternura. Começa o seu discurso de despedida, uma conversa que se prolongará até João 17. Neste momento, dá-lhes um novo mandamento:

«Amai-vos uns aos outros. Tal como eu vos amei, também vós vos deveis amar uns aos outros» (João 13, 34).

Que tipo de amor está Jesus a ensinar?

– Um amor que serve: Ele lava-lhes os pés, revelando que o amor é acção.

– Um amor que sacrifica e santifica: Em breve, dar-lhes-á a sua vida na cruz, como fonte de salvação eterna: «Do seu lado (…) jorrou água e sangue» (João 19, 34).

– Um amor que perdoa e desafia: Ele oferece amizade até a Judas, sabendo que a traição está próxima.

Jesus chama aos seus discípulos “filhinhos”, demonstrando ternura e compreensão da sua fraqueza. Sabe que eles são vulneráveis e têm medo, mas o amor deve ser o seu alicerce. Este amor não é sentimental – é radical, exigindo entrega, perseverança e empenho, mesmo no sofrimento.

A maior demonstração de amor é a glorificação de Jesus, que começa com a paixão e morte, mas culmina com a ressurreição e regresso ao Pai. Ele declara: «Quando tiverdes elevado o Filho do homem, então sabereis quem eu sou» (João 8, 28). Aqui, Jesus liga o seu sofrimento à revelação divina – “Eu sou” –, o nome de Deus dado a Moisés (cf. Êxodo 3, 14). A sua glorificação não procura a vitória terrena. Ela revela a verdade mais profunda: Deus é amor.

DESAFIOS, DE HOJE E PARA NÓS

1– Construir pontes num mundo dividido: Jesus não destrói os inimigos – ama-os. Onde é que precisamos de construir pontes nas nossas vidas? Há relações que precisam de reconciliação? Como é que podemos escolher o diálogo em vez do conflito?

2– Viver o Mandamento do Amor: O amor de Jesus não é transaccionável – não procura recompensa. Amamos livremente, sem esperar nada em troca? Servimos as nossas famílias, comunidades e vizinhos com humildade?

3– Testemunhar Cristo nas nossas comunidades: Jesus afirmou: «Através deste testemunho todos reconhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros» (João 13, 35). Como é que a nossa paróquia reflecte este amor? A nossa comunidade inspira outros a procurarem Cristo devido à forma como cuidamos uns dos outros?

UM TESTEMUNHO VIVO

O amor atrai. O amor transforma. O amor muda a história. Vejo isto acontecer na nossa paróquia, nas nossas comunidades de língua portuguesa, inglesa e chinesa. O Espírito Santo está a mover-se entre nós, atraindo novas pessoas para a nossa fé. Tenho visto famílias a crescer em alegria, à medida que caminham juntas na fé. Este ano, todas as crianças que recebem a Primeira Comunhão na nossa comunidade de língua portuguesa foram baptizadas aqui mesmo, há apenas um ou dois anos. Os pais levam-nas à Missa todos os Domingos, cheios de entusiasmo e devoção.

É a isto que Jesus nos chama – a amar com todo o nosso ser, a servir sem hesitação e a ser testemunhas vivas do seu amor. Ele não se limita a dar-nos um exemplo, mas capacita-nos com a sua graça. Jesus é a verdadeira porta, abrindo-nos o caminho para entrarmos no fluxo do amor divino dentro da Santíssima Trindade. Através do Espírito Santo – o Consolador, o Santificador – somos enviados como uma Igreja missionária, uma Igreja em saída.

Peçamos a graça de amar como Jesus amou. Transformemos a história através do serviço, do sacrifício e da reconciliação. E que as nossas vidas se tornem sinais radiantes de um amor tão poderoso que transforme e cure os corações e as relações humanas.

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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