Que a nossa esperança, fé e amor sejam renovados pelas chagas misericordiosas de Jesus
Celebramos hoje o Segundo Domingo de Páscoa. Em 2000, o Papa João Paulo II declarou que este seria para sempre o Domingo da Divina Misericórdia.
Há uma história sobre o Papa Bento XV. Foi Papa durante a Primeira Guerra Mundial e no seu turbulento rescaldo (1914-1922). Uma vez, ao aparecer na varanda do Vaticano para dar a bênção, um fanático sacou de uma pistola, apontou para o Papa e puxou o gatilho. A arma não disparou. Os guardas capturaram rapidamente o culpado. Mais tarde, foi levado ao Papa. O homem lamentou o facto de a arma não ter disparado. O Papa declarou calmamente: «Posso dizer-te porque é que a tua arma falhou. Estavas no meio da multidão e eu também te tinha abençoado, meu filho». Depois ordenou: «Vai para casa. A tua mulher e os teus filhos devem ter ouvido falar disto e estão preocupados». O Papa mandou libertá-lo. (J. Maurus).
O exemplo edificante do Papa foi claramente uma imitação do Senhor Jesus. Os discípulos traíram Jesus – fugiram precisamente quando ele mais precisava deles. E agora estavam amontoados numa sala, com as portas fechadas por medo dos judeus. Mas o que realmente os preocupava era a notícia da ressurreição do seu Mestre. Tinham vergonha de o encarar e medo de serem repreendidos por ele. Mas quando lhes apareceu, não havia qualquer vestígio de amargura, de cólera ou de acusação contra eles. A sua saudação foi: “Paz!”. Depois soprou sobre eles o Espírito Santo e deu-lhes o poder de perdoar também aos outros.
Quando pensamos na misericórdia de Deus, é frequente pensarmos no perdão de Deus. O perdão de Deus é uma parte fundamental da sua Divina Misericórdia. Jesus deu o poder de perdoar os pecados aos seus discípulos e aos sacerdotes de hoje, para que possamos experimentar o seu perdão. Precisamos do perdão de Deus, mas a sua misericórdia é mais do que o perdão. Ele oferece-lhes a paz por três vezes. A primeira vez que Jesus foi ter com eles na sala fechada, Tomé não estava lá. Quando ouve o que aconteceu, Tomé não acredita. Diz que precisa de ver com os seus próprios olhos. Teríamos nós sido diferentes? Afinal, ninguém tinha ressuscitado de entre os mortos. Jesus não rejeita Tomé por causa da sua fraca crença. Uma semana depois, Jesus regressa. Desta vez, Tomé está presente. Jesus fala directamente com Tomé. Porquê? Porque, enraizado na sua Divina Misericórdia, Jesus quer que Tomé acredite, como Ele disse: «Não sejas incrédulo, mas crê». A resposta de Tomé? Diz a Jesus: «Meu Senhor e meu Deus». A incredulidade tinha dominado Tomé, mas as feridas de Jesus curaram-no. Jesus ensina-nos que a misericórdia divina é muito mais forte do que a nossa incredulidade ou miséria.
Por isso, a Festa da Divina Misericórdia recorda-nos que toda a vida – paz, alegria, perdão, esperança, coragem, generosidade e caridade – vem de Deus. Não importa onde estejamos ou o que tenhamos feito, Deus está à nossa espera com amor.
Ele deixou o banquete que deu para celebrar o regresso do filho pródigo, para entrar na escuridão do filho mais velho e oferecer-lhe tudo o que tinha.
Protegeu a mulher apanhada em adultério e deu-lhe uma nova vida.
Olhou amorosamente para Pedro depois de este o ter traído três vezes. O seu olhar transformou Pedro que chorou e se arrependeu.
Por vezes, a nossa fé é fraca. Rezamos para que ela cresça com o tempo. Nem sempre acontece de uma só vez. Os outros discípulos já tinham visto Jesus na noite da sua ressurreição, quando ele veio ter com eles numa sala fechada. Onde é que eles estão uma semana depois? Num quarto fechado. Jesus envia-os, tal como o Pai o tinha enviado. Como é que isso lhes acontece? Na nossa leitura do Apocalipse, João diz que se encontrou “na ilha chamada Patmos”. Patmos é uma colónia penal romana. João está lá porque “proclamou a palavra de Deus e deu testemunho de Jesus”.
Isto também é um desafio para nós!
Um jovem estava a sair da igreja depois da Missa da Páscoa. O padre encontrava-se à porta a apertar as mãos dos seus paroquianos. Ao ver o jovem, puxou-o para o lado e disse-lhe: «Jovem, tens de te juntar ao Exército do Senhor!». O jovem respondeu: «Mas padre, eu já estou no Exército do Senhor!». «Mas», insistiu o padre, «porque é que só te vejo na igreja no Natal e na Páscoa?». O rapaz sussurrou: «Padre, eu estou nos Serviços Secretos!». Como cristãos, somos a luz do mundo. Não é suposto estarmos escondidos. Somos chamados a proclamá-Lo e a testemunhar a sua presença e a viver a vida de verdadeiros discípulos de Jesus. Devemos ser vistos e conhecidos como portadores da luz. Neste mundo envolvido pelas trevas da cultura da morte, onde o materialismo e o egoísmo reinam supremos, sejamos exemplos brilhantes do amor e da misericórdia de Deus. Jesus disse: «Assim, a vossa luz deve brilhar diante dos outros, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai celeste» (Mt., 5, 16).
Pe. Leonard Dollentas