«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito»
Nesta Sexta-feira Santa do ano 2025 – Ano Jubilar da Esperança – convido-vos a meditar, com a Mãe Maria, sobre as Últimas Palavras de Jesus, nosso Senhor crucificado. Lemo-las no Evangelho de São Lucas (Lc., 23, 44-46). É a sétima e última frase na cruz. Qual o significado das Últimas Palavras de Jesus?
UMA ORAÇÃO DE CONFIANÇA EM DEUS – «Nas tuas mãos entrego o meu espírito». Esta é uma oração judaica comum de confiança em Deus. Como qualquer criança judia, Jesus aprendeu esta oração (cf. Sl., 31, 6) com sua Mãe Maria. Na cruz, pouco antes de morrer, Jesus pronuncia a oração, colocando a sua vida nas mãos de Deus.
Jesus, porém, acrescenta uma nova palavra à oração do salmista: a palavra “Pai”. É uma palavra essencial no ensinamento e na experiência de Jesus. Jesus revelou-nos Deus não como legislador, não como juiz, não como um deus insensível, mas como um Pai: Jesus, o Filho de Deus e de Maria, coloca a sua confiança – a sua morte – nas mãos do omnipotente e misericordioso Deus Pai, Abba!
É interessante notar que, no Antigo Testamento, Deus é chamado de Pai apenas onze vezes, enquanto no Novo Testamento é chamado de Pai 261 vezes, e destas, 167 por Jesus (J. M. Cabodevilla). Assim, mesmo na cruz, “Jesus morreu como uma criança adormecida nos braços do seu Pai” (W. Barclay). Qual é o significado da Sétima Palavra (no caso em específico, significa o mesmo que “Frase” ou “Ensinamento”) de Jesus para nós?
SIGNIFICADO, PARA NÓS, DA SÉTIMA E ÚLTIMA FRASE – Nesta Sexta-feira Santa, Jesus ensina-nos, a partir da cruz, a rezar com confiança: colocar o nosso espírito, a nossa vida, a nossa morte nas mãos de Deus, de Deus nosso Pai: «Pai nosso que estás nos céus…».
Seguindo Cristo, nosso único Caminho, muitos santos imitaram-no, fazendo das suas últimas palavras também as suas últimas palavras. Santo Estêvão, o primeiro mártir, enquanto era apedrejado até à morte, gritou: “– Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Santa Catarina de Sena, pouco antes de morrer, e depois de repetir sessenta vezes “– Pequei, Senhor, tende piedade de mim…”, disse: “– Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. São Tomás Becket, ao ser assassinado na catedral, afirmou: “– In manus tuas, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.
Ao longo dos séculos, a última frase do Senhor foi rezada por muitos, não só antes da morte, mas também antes de dormir: todas as noites, religiosos e religiosas, sacerdotes e leigos de todo o mundo rezam a sétima e última frase como salmo responsorial da Oração da Noite: “Nas tuas mãos, Senhor, entrego o meu espírito; tu nos redimiste, Senhor, Deus da verdade, entrego o meu espírito”.
Antes da morte, antes de adormecer à noite – e depois de se levantar de manhã –, as últimas palavras de Cristo na cruz continuam a reforçar a nossa confiança em Deus nosso Pai. Tenho o costume de fazer esta oração de confiança logo depois de me levantar da cama, todas as manhãs: “Nas tuas mãos, Senhor, entrego o meu dia – os meus pensamentos, palavras e acções”.
Colocamos a nossa vida, as nossas provações, a nossa morte nas mãos de Deus – em Deus, nosso Pai! De facto, Ele é nosso Pai! Somos filhos de Deus! Depois de ouvir o missionário falar sobre Deus como Pai, o chefe índio americano disse-lhe: “– Disseste que Deus é teu Pai e meu Pai, foi?”. O missionário respondeu: “– Sim”. O chefe comentou: “– Então tu e eu somos irmãos”, e o chefe índio abraçou o missionário (de W. Barclay). A outra pessoa não é um estrangeiro, ninguém é um inimigo, mas um irmão ou uma irmã. Na Oração do Senhor, não dizemos “meu” Pai, mas “nosso” Pai. Por isso, rezamos uns pelos outros. Como é que respondemos às últimas palavras do Senhor?
A NOSSA RESPOSTA – Rezando com confiança em Deus, colocamos a nossa vida nas suas mãos divinas. Quando nos levantamos de manhã, colocamos diariamente a nossa vida, o nosso trabalho e as nossas provações nas mãos misericordiosas de Deus. Colocamos a nossa morte nas mãos compassivas de Deus, nosso Pai: “As mãos de Deus são a ressurreição; Ele não é o Deus dos mortos, mas dos vivos” (Martin Descalzo).
Sentimos muito, Senhor, pelos nossos pecados! Estamos gratos, amado Jesus, por teres dado a tua vida por nós. E, como peregrinos a caminho do Céu, temos esperança: com a graça de Deus, através de Cristo no Espírito Santo, seremos capazes de fazer a vontade de Deus, isto é, amarmo-nos uns aos outros e amar os necessitados (os pobres, os doentes, os infelizes da terra) com um amor especial. Sim, “caminharemos uns com os outros; andaremos de mãos dadas, e eles saberão que somos cristãos pelo nosso amor mútuo”.
Com Jesus, dizemos: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.
Pe. Fausto Gomez, OP