A voz católica da periferia
A igreja de São Francisco Xavier, localizada na ilha de Coloane, na vila como o mesmo nome, é um monumento religioso emblemáticos de Macau. Já agora, existe no Norte do território, em Mong Há, uma outra igreja dedicada a São Francisco Xavier, maior e com vida paroquial mais intensa. Por isso, alguns chamam de “capela” à singela igreja de Coloane.
Construída em 1928, foi erguida em honra de São Francisco Xavier (1506-1552), um missionário jesuíta espanhol que teve um papel crucial na evangelização da Ásia, incluindo a China e o Japão. Apesar de nunca ter estado em Macau (morreu perto, na ilha de Sanchoão), a sua influência foi tão significativa que a comunidade católica local decidiu dedicar-lhe esta igreja. O Santo é padroeiro dos missionários e um dos padroeiros da diocese de Macau. A construção da igreja está ligada ao desenvolvimento de Coloane, que no início do Século XX pouco mais era do que uma pequena vila de pescadores, além da ostreicultura e de alguma construção naval. A igreja serviu não apenas como local de culto, mas também como ponto de encontro social para a comunidade macaense e portuguesa. A “capela” foi construída e sagrada pelo então bispo de Macau, D. José da Costa Nunes, em 1928, para evangelizar o extremo meridional do território e servir a comunidade católica em Coloane.
Na actualidade é a igreja matriz da paróquia de São Francisco Xavier, em Coloane, que abrange toda a ilha. Em 1903 foi fundada a Missão de São Francisco Xavier, a qual foi constituída com objectivo de evangelizar as gentes que ali viviam. Em 1963, a Missão foi restaurada. A 1 de Julho de 2019, foi erigida a paróquia de São Francisco Xavier (Coloane), a partir da quase-paróquia de São Francisco Xavier (Coloane), herdeira da Missão homónima.
Em frente à “capela”, no largo Eduardo Marques, encontra-se um monumento com uma lápide, ladeado por balas de canhão e correntes de ferro. O monumento comemora a expulsão dos piratas daquela ilha pelo Exército Português, em 1910.
A igreja apresenta um estilo a tender para neoclássico, com elementos simplificados típicos da arquitectura religiosa em Macau. Tem no frontão um nicho com sino. A fachada é branca, com detalhes em tons pastel, e o interior é modesto, mas acolhedor. Apresenta janelas ovais. Neste exemplar de três pisos estiveram custodiadas durante algum tempo algumas relíquias sagradas do Cristianismo asiático. Eram estas uma relíquia de São Francisco Xavier (um osso do úmero do braço direito do Santo, que agora se encontra exposto na igreja do Seminário de São José), juntamente com as ossadas de mártires portugueses e japoneses mortos em Nagasáqui, durante as perseguições no ano de 1597, para além das ossadas de mártires vietnamitas do Século XIX. Actualmente, estas ossadas estão guardadas no Museu de Arte-Sacra, nas Ruínas de São Paulo.
O interior é formado por uma nave principal e por duas câmaras, cada uma num dos lados da nave. Do ponto de vista iconográfico, acha-se uma imagem do orago e uma pintura tradicional chinesa que representa a versão chinesa da Virgem Maria com o Menino, prova do intercâmbio cultural entre o Oriente e o Ocidente. Existe também uma imagem de Virgem Maria bebé.
No que respeita a festividades, todos os anos, no dia 3 de Dezembro (Dia de São Francisco Xavier), a comunidade católica de Macau celebra uma missa solene na igreja, seguida de procissões e actividades culturais.
A igreja de São Francisco Xavier é mais do que um simples templo católico – é um símbolo da história partilhada entre Portugal e China, um local de devoção e um ponto de interesse cultural no extremo Sul de Macau.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa