A data da Páscoa e as heresias: Vítor I, Zeferino e o primeiro antipapa
SÃO VÍTOR I (186/189 – 197/201)
Nascido em África, Vítor assistiu à controvérsia sobre a data da Páscoa. Havia cristãos em Roma que vinham da província asiática e, enquanto a cidade ainda comemorava a Paixão e Morte do Senhor, esses cristãos já celebravam a Sua Ressurreição. Mas o Papa Vítor prevaleceu sobre os bispos de África e da Ásia e determinou que a Festa da Páscoa fosse celebrada no dia do Senhor, segundo a tradição dos Santos Pedro e Paulo (cf. Keeper, 10). No entanto, os bispos da Ásia Menor desobedeceram e, por isso, o Papa excomungou-os. Santo Ireneu, agora bispo de Lião (ver PAIS DA IGREJA n.º 13), juntamente com outros bispos, repreendeu o Romano Pontífice, argumentando que era uma pena que aqueles bispos fossem separados da comunhão com a Igreja Universal. Além disso, os Papas anteriores haviam permitido a prática, uma vez que não se tratava de uma questão de doutrina, mas de disciplina. No entanto, o Papa Vítor impôs a observância da Páscoa ao Domingo em Roma e, por fim, a prática romana espalhou-se lentamente também pelas Igrejas orientais.
A controvérsia pôs em evidência a autoridade do Bispo de Roma sobre os outros bispos, mas a admoestação de Santo Ireneu foi também uma lição de boa governação e caridade.
O Liber Pontificalis relata que o Papa Vítor I “ordenou também que, num momento de necessidade, qualquer gentio que viesse para ser baptizado, onde quer que fosse, quer num rio ou no mar, quer numa fonte ou num pântano, se apenas pronunciasse a confissão de fé cristã, seria depois um cristão em pleno gozo dos seus direitos”. Ao tornar o Baptismo facilmente disponível, especialmente em tempos de necessidade, a Igreja inspirou-se no ensinamento de São Paulo de que Deus «deseja que todas as pessoas sejam salvas e cheguem ao pleno conhecimento da verdade» (I Timóteo 2, 4).
O Liber Pontificalis confirma também que o Papa Vítor I foi martirizado e sepultado perto do túmulo de São Pedro.
SÃO ZEFERINO (198 – 217/218)
O 15.º Papa era de Roma. Homem simples, sem grande formação teológica superior, segundo Hipólito l, o Papa Zeferino chamou Calisto a Roma para o assistir, sobretudo no confronto com duas heresias. Calisto foi também encarregado do cemitério que ainda hoje tem o seu nome (Catacumbas de São Calisto).
Durante o seu pontificado, houve duas amargas disputas teológicas: uma trinitária e outra cristológica.
Um certo Praxeas negava a existência de três Pessoas numa só Natureza Divina: o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram apenas “modos” de uma só substância (ou natureza). Este é o início do Modalismo (ou Sabelianismo, segundo o seu mais famoso defensor). O Papa Zeferino manteve a crença transmitida pelos Apóstolos.
A outra heresia, defendida por Teódoto, o Curtidor, já havia sido condenada anteriormente pelo Papa Vítor I. Teódoto ensinou que Jesus não era o verdadeiro Filho de Deus. Porém, decidiu fundar a sua própria igreja. Encontraram um homem que estava disposto a ser seu bispo – por uma taxa mensal. Natalius, de facto, era um confessor da fé (um confessor é alguém que sofre por defender a fé, mas não é morto por isso). Mas a misericórdia de Deus trouxe-o de volta. Uma visão de anjos que o chicotearam fê-lo voltar a si. Arrependeu-se perante Zeferino, vestido de saco e coberto de cinzas, e pediu perdão.
Por outro lado, Hipólito, sacerdote e teólogo (ver PAIS DA IGREJA n.º 18), queria que o Papa declarasse explicitamente que Cristo é uma Pessoa diferente do Pai. Embora a sua posição fosse correcta, o Papa não seguiu a sua sugestão. Hipólito irritou-se com o Papa e com Calisto. Quando Calisto foi eleito Papa, após a morte de Zeferino, Hipólito aproveitou para se declarar bispo e formou um grupo cismático. É o primeiro antipapa da História.
Para além das ameaças internas, São Zeferino teve também de enfrentar a perseguição externa de Septímio Severo. Foi a quinta de dez perseguições sob o Império Romano. “Este santo pastor era o apoio e o conforto do rebanho aflito” (A. Butler, “Lives of the Saints”, Volume VIII, 1866). Embora não tenha sido morto por causa da fé, foi considerado mártir por causa do seu sofrimento mental e físico pela Igreja.
Tornou a Eucaristia mais acessível e decretou que os jovens a partir dos catoreze anos fossem admitidos à Sagrada Comunhão na Páscoa.
Introduziu o uso da patena (uma placa redonda de ouro ou prata, utilizada para segurar a hóstia durante a Eucaristia e colocada em cima do cálice).
Ordenou também que todo o clero e os fiéis estivessem presentes aquando da ordenação de diáconos ou sacerdotes.
Pe. José Mario Mandía
LEGENDA: Papa Zeferino