CAPELA DE NOSSA SENHORA DA PENHA

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA PENHA

A Casa das Irmãs Trapistas

A capela ou ermida de Nossa Senhora da Penha tem as suas raízes no Século XVII, quando foi construída em 1622 por marinheiros portugueses como gesto de gratidão por terem sobrevivido a um ataque holandês. Foi então dedicada a Nossa Senhora da Penha, padroeira dos navegantes, reflectindo a importância do mar e da navegação para a identidade de Macau.

Ao longo dos séculos, a capela foi reconstruída e renovada várias vezes, especialmente após danos causados por tufões e outros eventos naturais. A sua localização no topo da Colina da Penha não só proporciona uma vista deslumbrante sobre a cidade, mas também simboliza a sua função de refúgio espiritual e farol de fé. A majestosa e bela Colina da Penha também é conhecida como Colina do Bispo, uma vez que o local albergou a antiga residência dos bispos da diocese de Macau.

Em 1620, o navio mercante São Bartolomeu navegava de Macau para o Japão e foi apanhado por um tufão. Os mercadores a bordo rezaram então à Virgem Maria a pedir protecção, pela qual se comprometeram a doar dinheiro para construir uma casa religiosa em Macau, caso sobrevivessem. Como todos regressaram a Macau em segurança, tiveram de cumprir a promessa, fazendo doações à Ordem de Santo Agostinho para a construção e fundação de um convento em seu nome. Como resultado, a capela foi construída em 1622, com reconstruções em 1837 e 1935, quando lhe foi acrescentada a Residência Episcopal ou Palácio do Bispo. No ano de 1935, o bispo cardeal D. José da Costa Nunes completou a amplificação e reedificação da capela (em estilo neomanuelino) e inaugurou a marcante torre sineira, cujo projecto é da autoria do arquitecto José da Costa Vilaça. Há uma inscrição na entrada que lista todas estas remodelações. Os frades agostinhos estiveram na Penha entre 1622 e 1834, quando se extinguiram as Ordens Religiosas. A capela de Nossa Senhora da Penha esteve sempre intimamente ligada à vida comercial de Macau e, particularmente, à sua rota mais rentável, o trato com o Japão.

O interior é relativamente simples, mas carregado de significado religioso e histórico. A arquitectura combina elementos neobarrocos e neoclássicos, com uma nave central que convida à contemplação e à oração. O altar-mor é dedicado a Nossa Senhora da Penha, com uma imagem da Virgem Maria que é objecto de grande devoção por parte dos fiéis. As paredes são adornadas com painéis e pinturas que retratam cenas bíblicas e a história da devoção mariana em Macau.

Um dos aspectos mais marcantes do interior é a sua atmosfera serena e acolhedora, que convida à reflexão e ao silêncio. A luz natural que entra pelas janelas, combinada com a frescura proporcionada pela localização elevada, cria um ambiente único, ideal para o recolhimento espiritual. A estrutura edificada é composta por um campanário, torre sineira, uma capela de desenho clássico ecléctico e o edifício da antiga residência do Bispo. No adro foi colocada uma imagem de Nossa Senhora do Bom Parto, em mármore, de mãos fechadas e face serena, a olhar para o mar, oferecendo protecção aos marinheiros e pescadores. Mais adiante, está uma escadaria de pedra que conduz à Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, a rememorar a aparição mariana homónima. As grutas-capela sob esta invocação conferem naturalidade e harmonia espiritual, além de tocarem a sensibilidade oriental.

A capela da Penha é um símbolo da rica herança cultural e religiosa de Macau, onde as tradições chinesas e portuguesas se entrelaçam de forma única. Para a comunidade chinesa, a capela representa um espaço de diálogo inter-religioso e de sincretismo cultural, onde a devoção a Nossa Senhora da Penha é vista como uma extensão da veneração pelas figuras maternais na tradição chinesa, como Guanyin / Kun Iam (a deusa da misericórdia).

Os bispos da diocese de Macau, a partir de D. João Paulino de Azevedo e Castro (1902-1918) em diante, escolheram como residência o edifício localizado à esquerda da capela, até que D. Arquimínio Rodrigues da Costa (1976-1988) se mudou, marcando o fim da função do edifício como residência episcopal. Em 2009, a Diocese convidou monjas da Ordem Cisterciense da Estrita Observância, ou Trapistas, para fazerem uma fundação monástica de clausura na Penha, com a capela e residência anexa a servirem o mosteiro.

Outra particularidade da capela de Nossa Senhora da Penha prende-se com a tradicional e muito participada Procissão de Nossa Senhora de Fátima, que se realiza anualmente no dia 13 de Maio, celebrando as aparições de Nossa Senhora de Fátima em Portugal, no ano de 1917. Com recitações do Rosário e cantos de hinos ao longo do percurso, esta procissão parte da igreja de São Domingos até à capela do Santíssimo Sacramento da Penha, num cortejo religioso de grande impacto espiritual, reunindo as comunidades católicas (e não só) das várias etnias que habitam em Macau. É uma das celebrações religiosas mais distintas de Macau, com recitação trilíngue do Rosário ao longo do compassado trajecto.

A 15 de Abril de 2012, Domingo da Divina Misericórdia, deu-se a fundação canónica do mosteiro feminino que por ora se encontra na Penha, aprovada que fora pela ordem religiosa dos Cistercienses da Estrita Observância (Trapistas) Gedono (Indonésia) em Macau. A fundação foi aprovada em Capítulo Geral da Ordem em 2011, na sequência do pedido da diocese de Macau, em 2009, para que existisse uma ordem contemplativa em Macau. A comunidade (actualmente com dez religiosas) provém do mosteiro feminino de Gedono (fundado em 1987), na Indonésia, da mesma ordem contemplativa. O orago do cenóbio é o de Nossa Senhora da Estrela da Esperança.

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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