Catedral de Castelló d’Empúries
Depois do nosso périplo pela Côte d’Azur, o regresso a Portugal foi feito pelo Sul da Península Ibérica, uma rota que nunca havíamos explorado nas nossas voltas pela Europa. Deixámos França por Le Perthus e entrámos em Espanha por Jonquera. Não é a fronteira mais mediterrânica entre França e Espanha, mas é a mais utilizada. Há uma outra rota, bem junto ao Mediterrâneo, Portbou e Cervera, mas como é por estrada de montanha, com muitas curvas, ficou para uma outra oportunidade, quando os quilómetros não pesarem tanto como agora. Desta vez, foram quase vinte dias de estrada.
Por não termos tido a possibilidade de desfrutar o Mediterrâneo do lado francês, do modo como gostaríamos, devido aos constrangimentos resultantes do Covid-19, decidimos fazê-lo em Espanha onde o medo pandémico nunca atingiu níveis desmesurados. Em Espanha há pandemia, mas a Economia não parou – os restaurantes não pedem certificados, na rua não se usa máscara e todos vivem normalmente. Apenas se exige o uso de máscara em locais de muita afluência, onde há contacto directo com o público (ex: igrejas, museus, repartições públicas, etc.).
Quando entrámos em Espanha já sabíamos onde queríamos ir: a uma pequena localidade que tem uma das maiores zonas de pontões de Espanha. Além dos barcos, que sempre nos atraem pela saudade que temos da vida a bordo no nosso antigo veleiro, havia outro motivo para pararmos na Baía do Golfo de Roses. Ficámos no parque de campismo Rubina Resort, um espaço classificado com cinco estrelas que vale cada uma delas. E escolhemos este parque como base da nossa viagem em Empuriabrava, bem no coração da Costa Brava. É que mesmo ao lado há uma pequena localidade (Castelló d’Empúries) que vale a visita por si só. A juntar a este dado, é ali que se encontra o primeiro edifício de estilo gótico de grandes dimensões da Catalunha: a Basílica de Santa Maria ou Basílica de Santa Maria de Castelló d’Empúries – um edifício imponente, encrustado no seio de uma pequena vila, feita de ruas estreitas e típicas. Há séculos que é conhecido como Catedral de Castelló d’Empúries, mas a autoridade Papal nunca lhe concedeu o estatuto de “catedral”, apesar da sua imponência e dimensão.
O edifício é o segundo maior da Costa Brava, sendo o primeiro a Catedral de Girona, a qual iremos visitar numa próxima viagem. De estilo gótico, começou a ser edificada no Século XIII, substituindo uma antiga igreja romana do Século X.
Sendo esta uma zona isolada pelo terreno agreste da Costa Brava, dificilmente se compreenderia a existência de tal monumentalidade em tão pequena localidade. No entanto, ao lermos a história local, ficámos a saber que após a destruição da localidade de Empúries, o sítio de Castelló passou a ser o bastião dos Condes de Empúries, um local estratégico para a sua sobrevivência que foi completamente murado. Por vontade dos Condes esta seria a sede do Episcopado de Emporda, e daí a exuberância reflectida na construção da “Catedral”.
Decidimos então visitar a localidade, que fica a cerca de seis quilómetros do parque de campismo Rubina Resort. Fizemo-lo de bicicleta por estrada, pelo meio de campos de cultivo e de criação de cavalos, sob o calor abrasador da Costa Brava que se faz sentir nesta época do ano. Sempre com a ameaça de chuva a pairar, o que é normal nesta zona de Espanha, chegámos ao enclave a meio da tarde já com chuva a cair copiosamente e com um calor a rondar temperaturas normais… em Macau!
Demos facilmente com a Basílica, graças à sinalética espalhada por toda a vila. Portas abertas, máscara obrigatória e álcool à entrada para desinfectar as mãos, e o templo todo para nós, ou não fosse hora da “siesta”…
O edifício é imponente, tanto por fora como por dentro. No exterior, devido ao aglomerado urbano e ao emaranhado de casas e de palácios (muitos agora transformados em hotéis e em outras infraestruturas de apoio ao enorme afluxo de turistas), a sua monumentalidade não é tão evidente. No entanto, logo que se entra na porta principal, deparamos com um templo imponente de estilo gótico.
Construída em planta de salão, modalidade introduzida nestas paragens pelos Monges Cistercienses, a Basílica é composta por três naves, uma central mais larga e duas laterais. Estas últimas têm a particularidade de apresentarem alturas diferentes em relação à nave central. A planta da nave central tem um traçado rectangular com as capelas laterais enquadradas entre os contrafortes, encimadas por gárgulas de drenagem que sustentam as paredes laterais. Cada uma das três naves da planta é composta por nove abóbadas pontiagudas. As grandes janelas da igreja deviam ter vitrais, mas actualmente apenas resta um; os outros foram tapados com placas de alabastro translúcidas.
E se visitar a Basílica vale a pena, então a vila merece mais do que uma visita a correr, como foi a nossa. Ficámos decepcionados com o facto de não podermos ficar mais tempo, mas também a praia atraía e não convinha gastarmos mais tempo. Com a chegada do Inverno, a Costa Brava torna-se muito mais atractiva do que qualquer praia em Portugal (seja pela qualidade da água, pelas temperaturas ou pelo custo de vida). Aproveitámos o resto da estadia para nadarmos nas águas tépidas e calmas do Mediterrâneo.
João Santos Gomes