RELAÇÕES LUSO-CHINESAS EM DEBATE NA UNIVERSIDADE DE SÃO JOSÉ

RELAÇÕES LUSO-CHINESAS EM DEBATE NA UNIVERSIDADE DE SÃO JOSÉ

Fiel jesuíta na balança das relações entre Macau e Pequim

O primeiro vínculo directo entre as autoridades “coloniais” de Macau e a Corte de Pequim teve os missionários da Companhia de Jesus como arquitectos. Esta é a posição que a historiadora Tereza Sena vai defender, na próxima terça-feira, na Universidade de São José (USJ), no âmbito da palestra “Armas Poderosas ao Serviço do Comércio e de Deus – Macau e o Apoio Jesuíta à Causa Ming”.

A investigadora associada do Centro de Investigação para a Memória e Identidade Xavier, entidade criada há pouco mais de um ano pela USJ, estudou de forma aprofundada a evolução das relações luso-chinesas no período da transição dinástica entre os Ming e os Qing, e o modo como os jesuítas consolidaram a sua presença na corte imperial, graças à capacidade militar dos portugueses estabelecidos em Macau. «O que vou abordar é um período bastante concreto da história de Macau e da história das relações luso-chinesas, um período de trinta anos, entre 1620 e 1650, e ver como é que o argumento militar, como é que a capacidade militar dos portugueses, foi utilizado pelos jesuítas e por Macau como uma forma de estabelecer e estreitar relações com a Corte de Pequim», ilustra Tereza Sena.

Após a morte de Matteo Ricci, em 1610, a presença e a aceitação dos missionários da Companhia de Jesus junto da corte imperial foi colocada em causa, mas a ordem religiosa fundada por Inácio de Loyola consegue voltar ao convívio do “filho do céu” cerca de uma década depois, graças à instabilidade que se verificava no Norte da China e à intercessão de Paulo Xu Guanqi. «Há toda uma estratégia que é desenvolvida nesta altura, por volta de 1621. Xu Guanqi está no Tribunal das Matemáticas e vai propor a colaboração dos europeus para ajudar na defesa de Pequim e das zonas limítrofes, que começavam, nesta época, a ser alvo dos ataques manchus», explica a investigadora. «Há esta estratégia e é realmente por causa disto que os jesuítas conseguem voltar à Corte de Pequim, já não com Ricci, claro, mas com Manuel Dias e Lombardo. Regressam com o argumento de que podem ajudar a obter apoio e armas de Macau, até porque as fronteiras já começavam a estar ameaçadas», acrescenta.

Macau responde ao repto com o envio de armas e de artilheiros, que são convidados a ajudar na defesa de Pequim. O gesto inaugura uma nova e inédita fase nas relações entre o território e a sede do poder imperial. «A partir daí há uma série de pedidos de armas e de artilheiros que são convidados a ir até Pequim. Alguns são bloqueados em Cantão, como é evidente. Mas porque é que isto é importante? É importante porque permite de novo a presença de jesuítas na Corte, que aproveitam para ir fazendo a sua evangelização, mas também porque é criada uma relação directa entre Macau e Pequim, que era algo que nunca tinha existido», aponta a historiadora. «Materializa-se um acesso directo de Macau a Pequim. Isso é bastante importante no contexto das ligações luso-chinesas», conclui Tereza Sena.

M.C.

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