Rota dos 500 Anos

Natal e Culto Mariano são estrelas em Curaçao

À semelhança de muitos outros locais, também em Curaçao as tradições de Natal foram-se adaptando à realidade dos nossos tempos e aos costumes. Exemplo disso é a missa da Noite de Natal e a Missa do Galo. Esta última era tradicionalmente à meia-noite mas passou a ser às 22 horas e 30 para que as pessoas possam ir para casa celebrar com os familiares. Tal foi-nos explicado por uma senhora portuguesa que passa os dias a colaborar na igreja de Nossa Senhora de Fátima.

Com um sorriso na cara que não deixava esconder a felicidade de poder falar da sua igreja e da sua comunidade, na impossibilidade de encontrarmos o pároco, Filomena Fernandes – vive na ilha desde muito pequena – apenas recusou tirar fotografias porque – segundo argumentou – a entrevista não era sobre a sua pessoa mas acerca de toda a comunidade e das suas tradições de Natal.

Por vezes com a voz embargada, Filomena conduziu-nos numa conversa de mais de uma hora, tendo falado do que se faz no Natal na “ilha do curação”, como os residentes portugueses lhe gostam de chamar.

«As tradições de Natal têm mudado ao longo dos tempos, mas essencialmente mantém-se o mesmo espírito», disse Filomena Fernandes a’O CLARIM. Apesar de realizadas algumas alterações, os sentimentos são os mesmos. «Assim que se entra em Novembro começam algumas actividades, cujo culminar é a noite de 24 de Dezembro e o Dia de Natal».

As novenas, as missas da Aurora e a Missa do Galo são alguns dos momentos mais significativos, sendo que a juventude, embora se diga que anda arredada da igreja, em Curação continua a participar nas cerimónias religiosas. «O que é preciso é encontrar formas de atrair a juventude e mantê-la cativada e interessada no que se vai fazendo em termos religiosos», apontou.

Ao chegarmos à igreja de Nossa Senhora de Fátima, na freguesia de Sufisant, onde outrora viveu a maioria da comunidade portuguesa pois ficava próxima da refinaria, ficámos surpreendidos com o primor e limpeza do local. No exterior, os jardins e as áreas comuns estavam imaculados; no interior, reinava a paz num ambiente controlado pelos aparelhos de ar-condicionado – «um orgulho para a comunidade portuguesa» que Filomena não quis deixar passar em branco. «Esta igreja, construída pelos portugueses, é a única de Curaçao que tem ar-condicionado», acrescentou com orgulho. Mas o facto de estar um ambiente fresco no seu interior não foi apenas o que nos chamou a atenção. A decoração natalícia e o rigor com que tudo foi colocado nos sítios apropriados surpreendia até os mais desprevenidos.

No centro da igreja, aos pés do altar, estava o presépio. Curiosamente a nossa Maria deu logo pela falta do Menino Jesus. À pergunta da criança, Filomena respondeu, com a sabedoria que só os anos trazem e com a paciência de uma verdadeira avó, que o Menino Jesus apenas ia «chegar na Noite de Natal» porque ainda não tinha nascido. Assim como também faltavam os Reis Magos, que estavam noutro espaço da Igreja, como se ainda estivessem a viajar em direcção a “Belém”.

Junto do presépio havia um sem número de vasos de flores e arranjos elaborados pelos jovens que frequentam a igreja. Aliás, cabe aos mais novos grande parte das actividades lúdicas da paróquia e das festas que se vão organizando ao longo do ano. Foi esta a fórmula que se encontrou para atrair e manter a juventude motivada para os assuntos religiosos.

Para além de todas as celebrações que antecedem a Noite e o Dia de Natal, Filomena lembrou que a comunidade portuguesa continua a manter uma outra tradição: o Dia dos Inocentes, a 28 de Dezembro. Esta data é essencialmente direccionada às crianças. Como está embebida do espírito da quadra natalícia a participação é sempre muito significativa. Já à margem das festas de Natal, a última eucaristia do ano, na noite de 31 de Dezembro, é das missas mais participadas do calendário. «É celebrada à meia-noite e, regra geral, até no jardim e no parque de estacionamento há pessoas para assistir à missa». Segundo Filomena, «esta missa, a par com a missa de 24 de Dezembro e as missas marianas, celebradas de Maio a Outubro em honra da padroeira da Igreja, são as que mais pessoas congregam».

Estando nós na igreja de Nossa Senhora de Fátima e sendo este um templo construído pelos portugueses de Curaçao, não podíamos deixar passar a oportunidade de falar sobre o culto mariano e as tradições no seio da comunidade lusa.

A estátua de Nossa Senhora de Fátima que está na igreja foi para Curaçao em 1956 (três anos depois da sua construção e da constituição da paróquia), levada directamente do Santuário de Fátima. Após ter chegado àquele território, foi em procissão até ao local onde hoje se encontra. Todos os anos são organizadas duas procissões com uma réplica mais pequena. A primeira tem lugar no dia 13 de Maio, com inicio na Sé Catedral e duração de três horas, logo seguida de missa. A segunda ocorre no dia 13 de Outubro. Sai da igreja de Nossa Senhora de Fátima e percorre as ruas do bairro de Sufisant em redor da igreja. Ambas as procissões têm forte afluência, juntando portugueses e membros de outras comunidades, e são o centro das atenções da Comunicação Social da ilha durante alguns dias.

«O culto mariano é muito forte em Curaçao. E não são só os portugueses que o praticam. Também os colombianos e os venezuelanos veneram muito Nossa Senhora de Fátima», sublinhou Filomena Fernandes.

João Santos Gomes

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