A Ascensão do Senhor ao Céu

UMA DAS SOLENIDADES MAIS IMPORTANTES DO CALENDÁRIO LITÚRGICO

A Ascensão do Senhor ao Céu

Depois que Jesus apareceu aos Seus discípulos, foi levado para o Céu. Estamos, pois, perante a transição entre a glória de Cristo ressuscitado e a de Cristo exaltado à direita de Deus. Na essência, transmite a possibilidade de a humanidade entrar no Reino de Deus, tal como Jesus anunciou. A Ascensão é o momento conclusivo do Mistério da Encarnação.

A Ascensão de Jesus, termo extraído da “Vulgata Latina” – ascensio Iesu– é uma crença cristã, comum às várias denominações e credos cristãos, de que Jesus ascendeu ao Céu depois da Sua ressurreição. Passa, assim, a ser exaltado como Senhor e Cristo, sentado à direita de Deus. Jesus Cristo entrou na glória com o Seu corpo ressuscitado na presença de onze dos Apóstolos, quarenta dias após a Ressurreição (Actos dos Apóstolos). Na narrativa bíblica, um anjo revela ainda aos discípulos que a segunda vinda de Jesus acontecerá da mesma forma que a sua Ascensão. Os Evangelhos canónicos incluem duas breves descrições da Ascensão de Jesus em Lucas 24, 50-53 e Marcos 16, 19. A descrição mais detalhada da ascensão corporal de Jesus nas nuvens é a que é dada nos referidos Actos (1, 9-11).

A Ascensão de Jesus é professada no Credo Niceno e nos Credos dos Apóstolos. A Solenidade da Ascensão é uma das principais festas do ano cristão, sendo celebrada no 40.º dia depois do Domingo de Páscoa, pelo que cai sempre numa quinta-feira. No entanto, pode ser transferida para o Domingo seguinte, que corresponde ao Sétimo Domingo da Páscoa. A Ascensão é um dos cinco principais marcos na narrativa evangélica da vida de Jesus, sendo os outros o Baptismo, a Transfiguração, a Crucificação e a Ressurreição. É também considerada uma das festas ecuménicas – celebradas universalmente –, a par das festas da Paixão, Páscoa e Pentecostes. A Festa remonta pelo menos ao Século IV, como é amplamente atestado, tendo sido celebrada até ao século seguinte, em simultâneo com o Pentecostes. A partir de 511, esta festa passou a ser precedida na Europa pelos três dias de Rogação, que se tornaram opcionais no culto católico após o Concílio Vaticano II. Recorde-se que por volta do Século VI, a iconografia da Ascensão estava já definida e estabelecida na arte cristã, ganhando grande vigor a partir do Século IX.

Apesar da Festa ser transferida para o Domingo a seguir ao 40.º dia depois da Páscoa, a Ascensão continua a preservar o simbolismo do “quarenta”. Tal como o Povo de Deus caminhou quarenta dias no seu êxodo, por agruras e desertos, sede e fome, sofrimento e desespero, da mesma forma Jesus cumpre o Seu êxodo pascal durante quarenta dias de aparições e ensinamentos até regressar à “Casa do Pai”. A Ascensão é como que o complemento do que se considera como o todo único do Mistério Pascal da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, expressando, na sua essência teológica, a dimensão de exaltação e glorificação da natureza humana de Jesus em superação ou contraste da humilhação sofrida na paixão, morte e sepultura. Jesus deixa de estar fisicamente no mundo e passa a estar de forma interior, universal e intemporal, manifestando-se através dos Sacramentos, especialmente na Eucaristia.

Contemplando a ascensão do Senhor para a glória do Pai, os discípulos ficaram maravilhados, estupefactos, porque não entendiam ainda as Escrituras, dado que não tinham recebido o dom do Espírito (Pentecostes). Deste modo, ergueram os olhos, vendo surgir dois vultos masculinos vestidos de branco, como os dois homens que Lucas descreve no sepulcro (24, 4). Nestas teofanias (“manifestação do divino”), temos a forma simbólica da presença divina do Pai, que fala através destas aparições (Actos 1, 11). O acontecimento da Ascensão do Senhor, o mistério da entrada do Ressuscitado no santuário celeste, é a demonstração da plenitude de Deus, em que os céus e a terra estão cheios da Sua glória de Deus, numa confirmação de Isaías 6, 3, apesar deste só citar a terra. A Ascensão é o penúltimo momento do Mistério Pascal, antes do dom do Espírito Santo no final do quinquagésimo dia, Pentecostes.

De acordo com Lucas, a Ascensão teve lugar em Betânia, além do Jordão, perto de onde João Baptista baptizava. Não se deve confundir com a aldeia de Betânia, onde viveram Marta, Maria e Lázaro, amigos de Jesus. Jesus aqui também ressuscitou Lázaro. Mas em Mateus 28, 16, refere-se que deveria ser na Galileia que Jesus veria os Seus discípulos antes de subir ao Céu. Como a Betânia de Lázaro fica muito longe da Galileia, é mais provável que a Ascensão tenha ocorrido noutro lugar homónimo. Uma tradição, porém, coloca o episódio no alto do Monte das Oliveiras (mais próximo do templo de Jerusalém) onde uma igreja viria a ser construída em torno da pedra que se acredita que teria a última marca do pé de Jesus na terra antes da Sua ascensão ao Céu.

O Islão recorda também a Ascensão do Senhor, mas de forma diferente: de acordo com o Alcorão, Jesus não foi crucificado, antes sim o Seu corpo ascendeu directamente ao Céu.

Vítor Teixeira 

Universidade Fernando Pessoa

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