Um simples bater de asas…

Um simples bater de asas…

PEQUENOS EVENTOS PODEM ORIGINAR GRANDES E IMPREVISÍVEIS CONSEQUÊNCIAS

Desde sempre o homem se reuniu com os outros da sua espécie para partilhar ideias, medos, desejos e apreensões. Do Ágora grego até aos nossos dias, muita alteração sofreu esta vertente comunicativa do homem com o outro homem.

Animal social, como Aristóteles definiu o ser humano, só em sociedade, com os outros e pelos outros ele se pode edificar como ser racional que pensa, partilha e se eleva do poder brutal e instintivo da natureza animal que também o habita, mas não o domina.

A evolução da ciência e consequente desenvolvimento da tecnologia foi abrindo horizontes cada vez mais amplos, convergentes e amplos que se converteram num mundo de informação mais vertiginoso, mais influente e, naturalmente, também mais globalizante.

Quando ouvi falar no “efeito borboleta” confesso que achei imensamente estranho, com um pouco de exagero e imaginação à mistura mas admiti, muito humildemente, que a máxima socrática mais uma vez estava correcta e fiquei a saber que havia algo mais que “sabia que não sabia”.

“O bater de asas de uma borboleta no Brasil pode desencadear um tornado no Texas”. Essa frase, já repetida em várias ocasiões com eventuais diferenças, define o que os pesquisadores chamam “efeito borboleta” que encontra aplicações em qualquer área das ciências: exactas, médicas, biológicas ou humanas, na filosofia, na arte, na literatura, na religião, etc.

Quando este conceito foi concebido pela primeira vez, pelo matemático americano Edward Lorenz em 1963, essa história de borboletas causarem tufões era apenas uma alegoria demonstrativa. Pretendia ilustrar como pequenos eventos podem originar grandes e imprevisíveis consequências. Também uma pedra lançada num charco provoca ondas concêntricas, que se expandem pela sua superfície, envolvendo no seu movimento, a distâncias diferentes e com diferentes efeitos, o nenúfar e a cana, o barquinho de papel e a boia do pescador. Objectos que estavam na sua paz ou no seu sono, são como que chamados à vida, obrigados a reagir e a entrar em relação entre si. Outros movimentos invisíveis propagam-se em profundidade, em todas as direcções, enquanto a pedra se precipita, desloca as algas, assusta os peixes, causando sempre novas agitações moleculares e inúmeros acontecimentos ou micro-acontecimentos se sucedem num espaço de tempo curtíssimo.

Mais tarde tive contacto com as teorias do canadiense MacLuhan e apercebi-me da realidade da Ubiquidade (faculdade de estar presente em diversos lugares no mesmo instante), e da sua famosa máxima “Aldeia Global” fez-se luz na minha mente, recordei o bater das asas da borboleta e também o significado da pedra que se atira ao charco, fenómenos naturais com consequências incomensuráveis em todos os lugares do planeta Terra.

Do mesmo modo, uma palavra lançada ao acaso, produz ondas de superfície e de profundidade, provocando uma série infinita de reacções em cadeia, envolvendo, na sua queda, sons e imagens, analogias e recordações, significados e sonhos, num movimento que diz respeito à experiência e à memória, à fantasia e ao inconsciente.

Se recordarmos ainda que a menor oscilação da Bolsa em Tóquio ou em Nova Iorque faz abanar a economia de todo o mundo, temos de concordar que, mesmo com algum alegórico exagero, não estamos isolados mas dependentes de tudo o que à nossa volta prolífera, quer seja bom, quer seja mau ou mesmo muito nocivo.

Hoje não há economias fechadas, locais recônditos, hábitos isolados, interesses fechados e circunscritos, regionalismos ou afins, pois todos estamos mergulhados numa ampla rede de comunicações sociais que nos ultrapassam e nos regem.

Cito a passagem dum poema de Miguel Torga: “Ninguém me encomendou o sermão, mas precisava de desabafar publicamente. Não posso mais com tanta lição de economia, tanta megalomania, tão curta visão do que fomos, podemos e devemos ser ainda, e tanta subserviência às mãos de uma Europa sem valores”.

O nosso Eu, o nosso espaço privado, psíquico, moral, histórico, cultural, social, político e económico são um apêndice de tudo e de todos, mesmo dos que mais longe de nós vivem ou têm maior influência nas mentes humanas, nas estratégias económicas ou nas causas mais belicosas.

Daqui se infere uma maior responsabilidade e menor permissividade, uma mais adequada e insistente defesa do nosso património humano, social e político, pois nada nos afecta só a nós, mas atinge toda a humanidade no seu sentido de vida, da capacidade de pensar, amar, edificar ou destruir.

A realidade virtual não é mais um mundo paralelo, mas faz parte do quotidiano de todos e muito especialmente dos jovens que devem crescer com atitude crítica, reflexiva e humana, nos saberes, tradições, valores, com carácter e vontade firmes, pois são eles o futuro e a salvação da humanidade.

Provoquemos uma oportunidade para reflectir sobre o valor do debate positivo, da informação verdadeira, da formação de opiniões alargadas, abrangentes, construtores e edificantes duma natureza humana sólida e bem formada. É que o bater de asas duma qualquer mariposa mais colorida, sabe Deus aonde, pode alterar o bater dos nosso corações numa uníssona esperança de mais paz, qualidade de vida, tranquilidade e felicidade.

Susana Mexia 

 Professora

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