É possível termos dois Deuses?
Nas três últimas “palestras” de FILOSOFIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ, falámos sobre o modo como a mente do Ser Humano pode descobrir não apenas a existência de Deus, mas também os Seus atributos (de acordo com as “aulas” 78, 79 e 80). O raciocínio humano pode reconhecer que Deus é infinitamente perfeito, que Ele é único (não há outros deuses), que Ele está em todo o lado (é omnipresente), que Ele é eterno (não é comensurável no tempo), que Ele é o Acto Supremo de Compreensão (intelecto) e Amor (vontade).
O intelecto humano pode reconhecer que Deus é infinitamente Verdade, Bondade e Beleza. Estas conclusões filosóficas são confirmadas pelo que a Revelação nos diz. Vamos examinar estes dados sobre a Revelação nas próximas edições.
DEUS É ÚNICO – ELE É O ÚNICO
Existe apenas um Ser que simplesmente “é” (“existe”), apenas um Ser que pode dizer “Eu Sou o que Sou”. O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (nº 39) diz-nos: “Enquanto as criaturas receberam d’Ele tudo o que são e têm, só Deus é em si mesmo a plenitude do ser e de toda a perfeição. Ele é «Aquele que é», sem origem e sem fim. Jesus revela que também Ele é portador do nome divino: «Eu sou» (Jo.,8, 28)”.
No livro do Deuteronómio (4:35) está escrito: «Foi-vos mostrado que deveis saber que o Senhor é Deus; não há outro para além dele». O próprio Deus declara-se por intermédio do profeta Isaías: «Eu sou o Senhor e além de mim não há Deus (45:5)».
Não é possível haver vários deuses? No livro “A Fé Explicada”, Leo Trese refere: “Nós expressamos este conceito de Deus, este facto de que Ele é a fonte de todos os seres, acima e para além de tudo o que existe, ao dizer que Ele é o Ser Supremo. Consequentemente só pode existir um Deus. Falarmos de dois (ou mais) seres supremos será uma contradição. A própria palavra ‘supremo’ significa ‘acima de todos os outros’; houvesse dois deuses igualmente poderosos lado a lado e então nenhum dos dois seria supremo. Nenhum deles teria o poder infinito que um Deus por natureza deve ter. O poder ‘infinito’ de um deles cancelaria o poder ‘infinito’ do outro. Ambos estariam limitados, um pelo outro. Conforme Santo Atanásio apresentou o caso, ‘falar de vários deuses igualmente poderosos é como falar de vários deuses igualmente impotentes’”.
E se existir apenas um Deus, o que isso significa para nós? O Catecismo da Igreja Católica ensina-nos que se houver apenas um Deus, então:
1– Não há outro que seja igual a Ele. Assim sendo, teremos que O colocar, e apenas a Ele, em primeiro lugar (nº 223);
2– Tudo o que somos tudo e o que nós temos vem-nos d’Ele. Assim, devemos viver em agradecimento a Ele (nº 224);
3– Compreendemos melhor a unidade e a verdadeira dignidade de todos os seres humanos porque foram criados à imagem e semelhança de Deus (nº 225);
4– Devemos tratar as criaturas, não como sendo deuses para adorar, rezando como São Nicolau:
“Meu Senhor e meu Deus, tira-me tudo o que me afaste de Ti.
Meu Senhor e meu Deus, dá-me tudo o que me aproxima de Ti.
Meu Senhor e meu Deus, desapega-me de mim mesmo, para que eu me dê todo a Ti” (nº 226).
5– Devemos confiar n’Ele em todos os momentos: nos momentos que chamamos “bons” e também nos momentos que chamamos “maus”, como Santa Tereza de Ávila recomendava:
“Nada te perturbe / Nada te espante
Tudo passa / Deus não muda
A paciência tudo alcança / Quem a Deus tem nada lhe falta / Só Deus basta” (nº 227).
Pe. José Mario Mandía