TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (199)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (199)

E o que são inveja, gula, ira e preguiça?

Hoje vamos debruçar-nos sobre os últimos quatro pecados capitais.

INVEJA –Sentimos inveja quando ficamos tristes ao ver alguns bens serem detidos por outros. A razão da tristeza sentida pelo invejoso é que este pensa que os bens nas mãos de outra pessoa diminuem a sua própria importância ou excelência. A inveja é exactamente o contrário do que São Paulo aconselha na sua Carta aos Romanos (12, 15): «Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram».

A inveja alegra-nos quando deparamos com o infortúnio dos outros (alegramo-nos quando eles choram); e faz-nos sentir infelizes perante a sua boa sorte (choramos quando eles se alegram). Em última instância, gera ódio, murmúrio e leva-nos a maldizer dos outros. Pode até levar a cometer homicídio, como no caso de Caim (Gén., 4, 8).

Uma das curas para a inveja é aprender a descobrir e reconhecer os dons que recebemos. Todos os dias, Deus abençoa-nos com muitos dons, mas por vezes somos cegos de mais para os descobrir ou percepcionar. Daí que devamos implorar a Deus pela virtude sobrenatural da Fé. Quando adquirimos o hábito de descobrir as bênçãos de Deus e Lhe agradecemos por elas, preparamo-nos para agradecer a Deus por abençoar outros também e invocar a Sua graça sobre eles.

GULA –A gula é um desejo desordenado por comida e bebida. Precisamos de comer e beber para sustentarmos o cérebro e o resto do corpo. Mas devemos controlar o desejo por comida e bebida, pois quando os nossos desejos saem dos limites da razão, tornam-se pecaminosos.

A cura para a gula é a temperança. O livro de Sirach (também denominado Eclesiástico – 23, 6; cf 37, 27-31) diz: «Não me vença nem a gula nem a luxúria». São Josemaría escreveu em “Caminho” (n.º 126): “A gula é a precursora da impureza”.

IRA –A ira ou raiva é o desejo desordenado de vingança. No entanto, a ira pode ser considerada “justa” quando é fruto de uma injustiça. A ira justa leva a pessoa a restaurar a justiça, desde que recorra a meios razoáveis que não violem a caridade. Na Carta aos Efésios, São Paulo afirma: «Estremecei de ira, mas não pequeis, acalmai a vossa raiva antes que o sol se ponha, e não deis lugar ao Diabo. (…)Não saia da vossa boca nenhuma palavra que cause destruição, mas somente a que seja útil para a edificação, de acordo com a necessidade, a fim de que comunique graça aos que a ouvem. (…)Toda amargura, cólera, ira, gritaria e blasfémia sejam eliminadas do meio de vós, bem como toda a maldade! Pelo contrário, sede bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando uns aos outros, da mesma maneira como Deus vos perdoou em Cristo» (4, 26-27, 29, 31, 32).

A cura para este vício é a virtude da mansidão, que também é fruto do Espírito Santo (cf. Gálatas 5, 23). Muitas vezes ficamos frustrados, zangados ou aborrecidos, quando os nossos planos não se concretizam. Muitas vezes, a ira pode ser evitada se nos lembrarmos das palavras do Papa Bento XVI em Deus Caritas Est(nº 35): “É Deus quem governa o mundo, não nós. Prestamos-Lhe apenas o nosso serviço por quanto podemos e até onde Ele nos dá a força. Mas, fazer tudo o que nos for possível e com a força de que dispomos, tal é o dever que mantém o servo bom de Cristo sempre em movimento: «O amor de Cristo nos constrange» (2 Cor., 5, 14)”.

Algumas pessoas fazem cursos de formação para o controlo da ira. Ora, o Cristianismo oferece um curso sobre prevenção da ira. Quando trabalhamos cientes do princípio de que Deus tudo vê, tudo sabe e tudo planeia com a Sua infinita sabedoria, bondade e misericórdia, não há necessidade de ficarmos aborrecidos ou magoados, se os nossos planos não se concretizarem, mais não seja porque os Seus planos são infinitamente melhores e são sempre cumpridos. «Como cera derreteram-se os montes, diante do Eterno, perante o SENHOR de toda a terra!» (Salmo 97, 5).

Além disso, devemos lembrar que Deus é infinitamente justo. Mesmo que não sejamos capazes de restaurar a justiça devido às nossas limitações, no final Ele dará a devida recompensa ou punição consoante o que cada um de nós merecer. São Paulo ensina: «A mim pertence a vingança e todo tipo de pagamento! No tempo certo os pés dessa gente começarão a escorregar, o dia da sua desgraça aproxima-se célere, e seu próprio destino se apressa sobre eles» (Deuteronómio 32, 35).

PREGUIÇA –A preguiça pode ser definida como manifestação de indiferença em relação aos bens espirituais. Uma pessoa pode ocupar-se com inúmeras actividades que beneficiam as suas necessidades terrenas, mas negligenciar a alma, pela que não deixa ser considerada preguiçosa.

A preguiça resulta da ausência da virtude teologal da esperança. A ausência de esperança leva a um de dois extremos: por um lado, presunção; por outro, desespero. Tanto a presunção, quanto o desespero, levam a pessoa (1) a desistir da luta interior, (2) a abandonar os meios sobrenaturais que levam à santidade e (3) a tomar o caminho fácil para a perdição.

A luta contra a preguiça exige a virtude cardeal da fortaleza e as três virtudes teologais da fé, esperança e caridade. «Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que levam à perdição, e muitos são os que entram por esse caminho. Porque estreita é a porta e difícil o caminho que conduzem à vida, apenas uns poucos encontram esse caminho! Pelo fruto se conhece a árvore» (Mt., 7, 13-14).

Pe. José Mario Mandía

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