TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (189)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (189)

A reacção a um estímulo pode ser julgada?

As virtudes cardeais são essenciais para uma vida santa, mas não bastam. Também precisamos das virtudes sobrenaturais da Fé, da Esperança e da Caridade que já aqui abordámos.

Além disso, o Espírito Santo assiste-nos por meio de sete dons e dos Seus frutos (TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ nos75 e 76).

E as nossas emoções? Recordemos o que são e qual o papel que desempenham (FILOSOFIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ nº 44).

Todos os seres vivos têm forma de receber estímulos e de responder aos mesmos. No caso dos animais, são os sentidos que recebem os estímulos e as emoções (também chamadas de “sentimentos” ou “paixões”) que determinam a resposta. Assim, uma vez que os estímulos são recebidos, as emoções agem automaticamente de acordo com esses estímulos.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) refere no ponto 1763: “O termo ‘paixões’ pertence ao património cristão. Os sentimentos ou paixões são as emoções ou movimentos da sensibilidade que inclinam a agir, ou a não agir, em vista do que se sentiu ou imaginou como bom ou como mau”.

O homem também possui sentidos que recebem estímulos e logo reage emocionalmente a esses estímulos. Além disso, o homem tem intelecto e vontade. O intelecto absorve o que os sentidos recebem. Tal permite ao Ser Humano não apenas ver, ouvir, sentir, saborear, tocar ou imaginar, mas também entender os estímulos recebidos pelos sentidos. Com o nosso intelecto ou mente podemos avaliar ou ponderar se algo é-nos bom ou mau. De acordo com a avaliação feita pelo intelecto, a vontade decide livremente sobre agir ou não, ou como agir em relação a algo. Por outras palavras, ao contrário dos animais, a resposta do homem não é predeterminada ou automática. Os actos verdadeiramente humanos são racionais e livres, o que não significa que os sentidos e as paixões sejam inúteis. O CIC explica no ponto 1764: “As paixões são componentes naturais do psiquismo humano, constituem o lugar de passagem e garantem a ligação entre a vida sensível e a vida do espírito. Nosso Senhor designa o coração do homem como fonte de onde brota o movimento das paixões (Marcos 7,21)”.

Mas depois do pecado original, a razão do homem foi obscurecida e sua vontade foi enfraquecida, a tal ponto que às vezes o homem – conscientemente ou inconscientemente – renuncia ao uso da razão e da vontade, deixando-se levar pela mera percepção ou emoção. É nossa tarefa formarmos a nossa mente para que habitualmente reflictamos primeiro sobre os estímulos que recebemos (do que vemos e ouvimos), treinando sempre a nossa vontade para que ela bem governe os nossos sentimentos, por forma a que utilizemos todos estes instrumentos em prol do bem.

Pergunta: as paixões são boas ou más? São Tomás de Aquino e o Catecismo da Igreja Católica respondem: Podemos considerar as paixões da alma de duas formas: primeiro, em si mesmas; em segundo lugar, como sujeitas ao comando da razão e da vontade. Se as paixões são consideradas em si mesmas, isto é, como resultado do apetite irracional, não há nelas nem bem nem mal moral, pois isso depende da razão. […] Se, no entanto, elas forem consideradas como sujeitas ao comando da razão e da vontade, então o bem e o mal moral são-lhes intrínsecas.

O CIC acrescenta ainda: “As paixões são moralmente boas quando contribuem para uma acção boa, e más, no caso contrário. A vontade recta ordena para o bem e para a bem-aventurança os movimentos sensíveis que assume; a vontade má sucumbe às paixões desordenadas e exacerba-as. As emoções e os sentimentos podem ser assumidos pelas virtudes, ou pervertidos pelos vícios” (CIC nº 1768).

O exemplo do bom uso das paixões é-nos dado pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo: “Na vida cristã, o próprio Espírito Santo realiza a sua obra mobilizando todo o ser, mesmo as dores, temores e tristezas, como se vê claramente na agonia e paixão do Senhor. Em Cristo, os sentimentos humanos podem alcançar a sua consumação na caridade e na bem-aventurança divina” (CIC nº 1769).

Por último, no ponto 1770, o Catecismo completa: “A perfeição moral consiste em que o homem não seja movido para o bem só pela vontade, mas também pelo apetite sensível, segundo esta palavra do Salmo: «O meu coração e a minha carne exultam no Deus vivo» (Sl., 84, 3)”.

Pe. José Mario Mandía

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